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“Wimbledon, Wembley e Maracanã” Bug Sociedade


“TUDO MUITO CHIQUE, MAS A BAIXARIA CONTINUA...”

Finais de Wimbledon – UAU! – o príncipe estava, Tom Cruise também, o jet set inteiro. Arquibancada fervendo de gente – sem máscara, porque afinal, gente chique nem precisa mais daquele artefato estranho. Quem as usava? Os meninos que “catam” as bolinhas, os guardas, os juízes. Trocando em miúdos, a plebe rude.


Você pode pensar que eu sou um sonhador... é. Talvez. Mas eu imaginava um Djokovic menos mascarado, com o salto um pouco mais baixo e, sobretudo, que não fosse mal educado o suficiente para, após vencer, “escalar a arquibancada”, roçando em bilhões de possíveis vírus.


Será que os ricos pensam que há um “status” que os separa dos males da vida? Tom Cruise talvez nem tenha reparado nos 606 mil mortos americanos, o que nos leva para Wembley e Maracanã.


Os ingleses... Uh-Uh! Que baixaria... praticamente se equiparariam às brigas das torcidas do Brasil, se as pessoas já pudessem sair de casa. Claro que Neymar e os seus palavrões ricamente mal educados fez jus à amizade com o chefe da Nação. E ele os soltou todos, sem moderação. Perder não é do feitio dele; cair, despencar no chão como uma jaca podre, sim. E reclamar, choramingar, cuspir e xingar, claro. Chegamos ao Messi, querido pelos jogadores, torcida contrária, equipes técnicas – educação como um patrimônio – não que a Argentina consiga se equilibrar no seu nível inacreditável de preconceito e racismo, mas o Messi tem uma estatura interior diferente. E despencamos para a torcida inglesa que deve ter perdido a máscara à caminho do estádio, já que a educação não deve saber onde fica o metrô deles porque faltou ao espetáculo. Briga, porrada, raquetada, polícia. Sangue e porrada na madrugada. E isso tudo porque perderam. Perder um pai, um irmão acabaria em assassinato em série? E aquilo que vários governos fizeram, nós podemos chamar de quê?

Que espécie de generosidade aprendemos com a pandemia mesmo? No primeiro, segundo, terceiro, quarto ou quinto mundo, falta de educação a gente vê de longe. Falta de percepção que ali ao lado tem um ser que tem 2 braços, duas pernas, tronco e cabeça – sim, um ser humano igual a todos nós, que não merece morrer, adoecer, por causa de ninguém. Que merece vacina, que mais da metade do mundo ainda não tem.


Estamos num estranho hiato onde bilionários gastam 250 mil dólares pra pegarem um “UBER” pro espaço e as pessoas em Cuba apanham porque exigem vacina. Porque pessoas, quase 550 mil – já morreram no Brasil à espera dela, a vacina.


Você pode pensar que eu sou um sonhador... é. Talvez. Mas a solidariedade humana espera por Neymar que acha que a pode comprar, mas não a tem. Que não teve coragem para autoafirmar o Brasil, ao se declarar contra um campeonato que afinal não atraiu o olhar de ninguém. Mas a selfie - clic clic – o Maracanã com um punhado de pessoas amontoadas - incrível - e o palavrão saíram fáceis. E inúteis.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


“Wimbledon, Wembley e Maracanã” Bug Sociedade

Um final de semana recheado de grandes eventos esportivos. NBA iniciando as finais com dois times que há muito tempo não chegavam tão longe – Phoenix Suns e Milwaukee Bucks. Jogos lotados de público. Quem não tem espaço dentro, se amontoa no exterior. O nosso olhar até estranha. Uns com máscara, outros sem máscara. A máscara parece ter virado um adereço de moda – tem os que usam e tem os que usam mas nem parece e os que não usam. Alguns treinadores usam a máscara no queixo. Outros nem no queixo. Os jogadores usam máscara, sentados no banco dos suplentes, mas para dar instruções para o campo, baixam a máscara e gritam... Agora, nas finais, já nem usam. Liberou total. Dá vontade de ser americana e ser livre de novo. É tão estranho ver tudo isso, estando em casa há um ano e meio sem poder assistir a um filme numa das salas do Circuito Saladearte, espaços tão confortáveis, espaçosos, bem cuidados. Será que o cinema transmite Covid?

Brasil mergulhado no Covid19 desde março de 2020. Final da polêmica e incômoda Copa América. Jogos sem assistência por precaução e “respeito” aos hospitais lotados, quantidade de mortos, doentes, famílias afetadas, desemprego, negócios falidos, etc. Os jogadores parecem estar todos vacinados porque se provocam, nariz com nariz, se abraçam, se beijam, falam segredos bem juntinho do nariz e boca do colega ou do adversário.


Na final, decisão de 10% de público no estádio. Aí você pensa, as pessoas vão ficar espalhadas pelo estádio todo, com distanciamento. Uma ideia ponderada e cuidada. Ok. Mas quando o jogo inicia, você vê os 10% da assistência do estádio, concentrados em uma zona? Duas? Todos bem juntinhos. Como é mesmo? 10% do estádio ocupado, concentrado num ou dois lugares? Diminuir o número de pessoas e diminuir o espaço? “Respira e não pira”. O resultado? Brasil perdeu. Di Maria, marca um golo simples. Mas só um jogador que vem do futsal faz aquilo parecer simples. Enquanto a seleção brasileira se mantiver um “grupo de jogadores+1”, nada vai acontecer. Um jogador quer liderar e deixam ele liderar. Perder ou ganhar é secundário, apesar de importante. Mas esse jogador liderar, é prioritário. Talvez porque isso vai levar a prêmios, a patrocínios, a fama, a carros, a tatuagens, a casas, a namoradas. Tudo fora do lugar. Tudo ao contrário. O Brasil será campeão sempre que jogar como uma equipe, um time, um todo. Sempre que os processos conjuntos se concretizem no campo, na baliza, nos resultados esportivos. Sempre que o mais importante seja colocar o Brasil no lugar para o qual ele tem talento – o primeiro. Assim? É só impedir que o líder faça o que quer fazer e o Brasil é anulado. Simples, fácil, triste. Uma pena.


Finais do Torneio de Tênis de Wimbledon, 2021. O mundo voltou ao normal. Estádio cheio, lotado. Quase não se vê uma máscara. Vencedores circulam pela multidão para o abraço da praxe na bancada onde estão os treinadores e onde antigamente também estariam os familiares. Presença surpreendente de Tom Cruise, mais surpreendente ainda por ser tão ovacionada. Será que as pessoas o confundiram com alguém muito importante? Ou estavam pedindo um “Cocktail”? Acho que as máscaras destreinaram a nossa visão. David Beckham presente, como sempre. As deusas do tênis Martina Navratilova (9 títulos) e Billie Jean King (6 títulos). A presença real através do príncipe William e da duquesa de Cambridge, Kate Middleton. Karolína Plíšková não conseguiu lidar bem com as tensões de uma final tão importante nem com a ousadia de Ashleigh Barty no campo. Barty, um monstro no campo, um beija-flor na vida. Simples e tímida. Me faz lembrar tanto Cristina Pereira, uma das maiores jogadoras de voleibol que conheci. O belo Matteo Berrettini tem um futuro lindo pela frente. Talentoso e lutador. Mas também ele cedeu ao momento e às estratégias experientes e por vezes deselegantes de Novak Djokovic. Novak, um corpo perfeito de atleta, uma máquina de vencer, um monstro na ambição e na luta pelos objetivos, mas uma moral deselegante e algumas vezes duvidosa. Ele bem tenta oferecer suas raquetes, atirar suas sapatilhas e sua camiseta de jogo, mas falta algo mais para conquistar este tipo de público. Algo que ele parece não ter e que não se aprende nem se treina como um serviço ou uma corrida.


Tudo voltou ao que era, os discursos, os aplausos, a passagem por dentro do edifício, a conversa de circunstância com a família real, com ex-atletas excepcionais, a ovação na varanda. Tudo termina e olhamos para o nosso mundo, para o que sofremos neste período, para o que foi destruído, pensamos nos que foram embora, para o número de mortos no Brasil, os hospitais cheios, o futuro nebuloso e sombrio para tantos e tantos e procuramos ver alguma lógica neste mundo. Mas é difícil.


Final do Campeonato de Europa: Itália – Inglaterra. Londres de novo. Estádio de Wembley lotado. Pouquíssimas máscaras. Tom Cruise de novo, David Beckham de novo, família real representada de novo pelo príncipe William, duquesa de Cambridge, Kate Middleton. Desta vez levaram seu filho mais velho. A Inglaterra e os ingleses parecem ter de atravessar sempre dor nos seus objetivos esportivos, pelo que vemos na história. Marcam um golo perfeito aos 3 minutos. Uma vida e uma alegria de jogo impressionantes. Mas algo neles se vai desligando e os tornando seguros numa margem tão apertada. Do outro lado, italianos, um povo que nunca se dá por vencido, nunca desiste e que luta parecendo que está dormindo ou aceitando o destino. E o fazem em conjunto, em grupo, coesos. E o fruto apareceu. Empate. Prolongamento cuidadoso de ambos, resulta em penalties. Momento dos penalties continua a ser um momento de equipe, apesar de não parecer. Quando surgem os erros a importância da psicologia esportiva surge no horizonte. Quando atletas famosos, importantes, valiosos, excepcionais ...falham. Mas ela está lá em todas as horas, muito antes, durante, depois. Sempre. E ingleses falham no próprio país, no seu estádio mais famoso, na sua cidade mais importante, numa final onde chegaram pela primeira vez. Onde história aconteceria. E os ingleses dão muita importância à história. Porque tudo aconteceu como aconteceu nesta final? Um bom exercício mental para todos os que gostam de esporte.


A cultura de um atleta, de um povo, sua educação, suas ambições, seus sonhos e a forma como esses sonhos se elaboram no lugar onde nasceu influenciam muito sua performance em momentos marcantes: finais da Copa América, finais da NBA, finais de Wimbledon, finais do Campeonato de Europa, Copa do Mundo e, o mais impactante de todos...Os Jogos Olímpicos. Pensem nisso...

Ana Santos, professora, jornalista


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