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“UM PLANO COM FALTAS FLAGRANTES” e “Como somos bons e como não somos...” Bug Sociedade


Yêdamaria

“UM PLANO COM FALTAS FLAGRANTES” Bug Sociedade

Eu me lembro que com 10 anos minha madrinha de crisma teve comigo e minhas irmãs talvez a primeira conversa séria da nossa vida – sobre a relação entre menstruação, gravidez, sementinhas plantadas pelo sêmen masculino e nós, as meninas. Gravidez.

Minha mãe tinha o hábito de falar claramente sobre as coisas e acabava dizendo que quando uma cabeça não pensa, o corpo é que padece. Que ela achava o “caminho X” melhor, mas que havia esses outros tais e quais. E assim ela ia mostrando o bom e o mau caminho, nos deixando sementes das melhores escolhas, mas também apontando que a nós cabia errar e acertar, que ela apenas tentava ajudar ao dar exemplos.

Não percebo mais isso atualmente. No dia 8 de janeiro de 2023 houve uma invasão e, ainda antes dela, houve uma combinação prévia, um planejamento que durou muito tempo. O motivo pelo qual não se pode minimizar o que aconteceu é que as pessoas tinham livre escolha, poderiam dizer sim ou não e escolheram dizer sim:

Sim, vamos depredar espaços dos 3 Poderes da República do Brasil;

Sim, vamos agredir violentamente quem quiser nos impedir;

Sim, vamos obrigar o governo a fazer alguma coisa;

Sim, a alguma coisa inclui os militares organizados para acabarem com democracia.

Agora sabemos que havia um plano de alguns homens das Forças Armadas para sequestrar, envenenar, assassinar as personalidades da República que estavam do lado da democracia e que o fato de a defenderem não era suficiente para parar a ação; o nome ditadura e golpe de estado não eram suficientes para abortar a insatisfação, fosse ela qual fosse.

 Tudo isso são fatos. São coisas que aconteceram e não estão sendo discutidas. O que não entendo é como as famílias de alguma forma deixaram de falar formalmente sobre a capacidade que cada pessoa tem – mesmo sendo criança – de analisar a situação, desconfiar, suspeitar se alguma coisa não foi dita, não entrar em qualquer carro, não dizer sim a tudo que é proposto, de procurar a verdade e não apenas acreditar porque ama, quer, confia.

Atualmente, teríamos que incluir não acreditar em tudo o que se fala nos grupos de WhatsApp porque aquelas pessoas não são nossas amigas de verdade. Aliás, lidamos com pessoas desconhecidas na maior parte do tempo, mesmo que aquele seja o “grupo mais legal”, onde as pessoas falem tudo o que a gente mais adora ouvir. E também, que aquele cara tão legal do Tinder ou Discord pode usar você pra coisas horríveis se não souber ouvir, analisar sozinho a situação, arrazoar e escolher o que fazer. 

Estamos nos economizando dessa conversa pra não nos aborrecermos? Eu sei que formalizar isso é difícil, mas é melhor sofrer com a perda de pessoas que amamos, responsáveis diante da lei, mas que não foram capazes de dizer “NÃO” antes de serem atropeladas pela manipulação das palavras?

Ninguém naquele grupo desconfiou que havia algo de muito errado quando todos foram “convencidos” a colocarem o seu aparelho celular na cabeça para pedirem ajuda aos ETs e libertarem o Brasil? Quando um lugar onde é proibida a livre circulação como um quartel, abre um espaço de camping? Quando alguém estranho “dá” de presente qualquer coisa inesperada como uma viagem para protestar em Brasília com tudo pago? Quando, na sua frente, as pessoas começam a destruir casas, pessoas, guardas?

Conversar, mostrar, formalizar princípios éticos não são coisas que podem acontecer pelo YouTube. Isso acontece em casa. Ou não acontece.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV

 

“Como somos bons e como não somos...” Bug Sociedade

Emociona ouvir a nova música da incrível Sade Adu. Uma canção inédita, após 6 anos. O álbum, TRAИƧA, lançado em 22 de novembro de 2024, é uma celebração da diversidade. Ouça a beleza da música “Young Lion” e assista o vídeo para perceber a importância de deixarmos e aceitarmos cada um ser o que é. Numa mensagem tocante, Sade pede desculpas ao filho Izaak, de 21 anos, trans, dizendo coisas como “eu deveria ter sabido”. Seu filho diz que não tem que perdoar nada da mãe, que ela sempre o deixou ser livre e que ele sempre soube quem era. Mas acha que esta música pode ser muito importante para outros filhos/filhas e pais. E pode, se as pessoas que precisam, assistirem. E se, em vez de quererem que os filhos sejam o que sonharam, sejam apenas o que eles são. Quantas crianças foram e são obrigadas a vestir, a fazer, a pensar, o que não sentem, não querem, não gostam, apenas porque os pais não sabem como agir ou acham que mandam nos filhos? E relembro mais uma vez, não é uma opção nem uma escolha. Um pouco mais de empatia e respeito pelo que sente “o outro”. Não é difícil. Experimente.

Existe uma página no Facebook, que se chama “As Últimas Palavras De Jovens Negros”, que como o próprio nome indica, nos informa as palavras que as pessoas assassinadas injustamente, disseram antes de morrer. Um dos casos: “Alan de Souza Lima, 15 anos, morto pela polícia em 20 de fevereiro de 2015, na Favela da Palmeirinha, em Honório Gurgel, zona norte do Rio de Janeiro. Alan estava correndo atrás dos amigos, brincando de filmá-los e acabou por filmar a própria morte. Os amigos também foram atingidos. Suas últimas palavras: "A gente estava só brincando, senhor."” Aqui o vídeo que o próprio filmou. Mas tem mais, tem imensos casos, um horror atrás do outro. Erra-se continuadamente e não se altera nada para diminuir esses erros. Que tristeza tão grande...

Terminou a Expedição Perpetual Planet à Amazônia da Rolex e da National Geographic, com o fotógrafo Thomas Peschak. Meio milhão de fotografias nas águas da Amazônia, em 365 dias, num projeto que durou dois anos. Sete equipes e suas tarefas: monitorar a saúde dos ursos-de-óculos nos Andes e o seu papel na preservação das florestas nubladas andinas, instalar a mais alta estação meteorológica nos Andes tropicais a 6.349 metros de altitude, investigar a rede dos cursos de água através da floresta, colaborar com comunidades locais ao longo do rio Juruá para estudar e proteger seis das principais megafaunas ribeirinhas da Amazônia, colocar um localizador GPS em um arapaima - o maior peixe de água doce escamoso do mundo, utilizar tecnologia de detecção por luz, chamada Detecção e Distância por Luz ou “Light Detection and Ranging – LiDAR”, proteger os botos-cor-de-rosa, examinar as florestas de mangue. Tudo na selva aquática que tem o tamanho da Austrália.

O Extremely Large Telescope (ELT) do Observatório Europeu do Sul (ESO) será o maior telescópio ótico/infravermelho do mundo. No topo do Cerro Armazones, no deserto chileno do Atacama, estará pronto a funcionar em 2028. Servirá para: observar a luz visível e infravermelha; detectar planetas semelhantes à Terra ; medir a expansão do universo; capturar imagens dos primeiros estágios da formação de galáxias; obter informações sobre a origem do universo; responder a questões como a existência de vida fora da Terra.

Somos tão bons...Somos capazes de coisas tão maravilhosas e incríveis. Porque não tentamos fazer o mesmo em relação aos problemas graves de relacionamento humano e social como a violência, os maus tratos, a fome, o racismo, xenofobia, homofobia, a mentira, a corrupção? Porque nesses “campos” enrolamos, procrastinamos, mentimos, abandonamos?

Ana Santos, professora, jornalista

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