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Tempo de poesia

Atualizado: 19 de jun. de 2020


Restam-nos as coisas simples. Resta-nos o agora. Resta a vontade de todos de sermos um: um mundo, uma cor, uma classe social. Se me tirarem tudo, guardo os sorrisos dos que, dos que... Sofremos separados. Quem sabe tentamos apenas “lavar e limpar a nossa mente” das aprendizagens que separam, dividem e destroem.


1. Poesia indicada pelo Bug Latino


“O teu riso”


“Tira-me o pão, se quiseres,

tira-me o ar, mas não

me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,

a lança que desfolhas,

a água que de súbito

brota da tua alegria,

a repentina onda

de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso

com os olhos cansados

às vezes por ver

que a terra não muda,

mas ao entrar teu riso

sobe ao céu a procurar-me

e abre-me todas

as portas da vida.

Meu amor, nos momentos

mais escuros solta

o teu riso e se de súbito

vires que o meu sangue mancha

as pedras da rua,

ri, porque o teu riso

será para as minhas mãos

como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,

teu riso deve erguer

sua cascata de espuma,

e na primavera, amor,

quero teu riso como

a flor que esperava,

a flor azul, a rosa

da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,

do dia, da lua,

ri-te das ruas

tortas da ilha,

ri-te deste grosseiro

rapaz que te ama,

mas quando abro

os olhos e os fecho,

quando meus passos vão,

quando voltam meus passos,

nega-me o pão, o ar,

a luz, a primavera,

mas nunca o teu riso,

porque então morreria.”


Pablo Neruda


2. Poesia indicada pelo Bug Latino


"Vizinho


Sofremos demais, meu caro vizinho

Pelos opressores, sofremos nós dois

Você sofre sozinho, eu sofri sozinho

Nunca imigramos e revoltamos nós dois.

Temos um medo enorme dos tiranos

Tiranos estrangeiros e tiranos parentes

Procuramos sempre diminuir os danos Reclamando sofrimentos

Diante da Lua crescente.

Porque em desacordo ficamos

Se neste país todos moramos

Caro vizinho nós temos,

Que lavar e limpar nossa mente.

Enquanto meus direitos

Respeitados por você

Você fica meu irmão

Não levando em conta

A sua adoração."

Elias Farhat, poeta libanês que viveu em Minas Gerais

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