“SÓ FREUD PRA EXPLICAR ESSES CANDIDATOS” Bug Sociedade
O Instagram tem me trazido candidatos, que mais parecem personagens. A diferença entre a minha expectativa e o que vejo é tão enorme, que falta uma semaninha pra votar e eu me pergunto porque, pelo menos, não temos ainda voto opcional – assim os candidatos tentariam garantir o mínimo de qualidade para nos tirarem de casa. Todos os lugares comuns estão presentes – menos a qualidade que eu sonho ver.
Há uma discrepância enorme entre a minha expectativa de qualidade e a realidade. Vou dar exemplos:
Tenho a expectativa de encontrar candidatos com uma ideia clara de como está a cidade e com o que fazer bem claro para melhorarmos nos pontos cegos - ou pelo menos do que não pode ser destruído, como o meio ambiente. O que tenho visto:
Candidatos sentados na igreja rezando, fazendo o tipo “papai, mamãe e filhinhos”.
Candidato “tomando bomba pra ficar fortinho”, claro – os fortinhos nunca podem faltar!
Candidatos de farda e com cara de mau gritando na tela, como se o bandido estivesse passando ali ao lado dele.
Candidatos “pavão”, que acham que trocando a capa dos dentes vão nos distrair do que queremos ouvir.
Candidatos que, ao invés de propostas, rezam, clamam e batem no peito, ao invés de nos contarem suas ideias.
Mulheres vice alguma coisa, todas “mudas” ou quase, bem dizer.
Candidatos com frases feitas, tipo: Contra tal coisa!
Eu fico olhando e me perguntando se existem eleitores que ainda caem nessa... ou se o ambiente ficou tão hostil, promíscuo e pervertido que as pessoas ficam esperando qualquer proposta, qualquer cervejinha pra venderem sua bala de ouro, seu voto precioso... para os candidatos que caírem na tentação de cometerem o crime de compra de votos. Quem é o doido que vende sua bala de ouro por uma cerveja, gente?
Faltando uma semana, volto a lembrar aos candidatos que estamos de olho vivo, acompanhando e dando sugestões claras:
Arte e cultura como partes integrantes da educação infantil – isso não é pagode com cerveja. É teatro, filmes, animações, artes plásticas, fotografia, música de todos os tipos, visitas ao zoo, ao planetário, um plano de visitação proveitosa e agradável aos museus da cidade, tudo como ferramenta de conhecimento e desenvolvimento de linguagem – O Bug Latino pode ajudar porque ele já faz isso.
Vídeos e programas que tratem da saúde, deem orientações, façam prevenção de problemas físicos, mentais, emocionais, sociais, falem de temas de abordagem difícil, usando palavras fáceis e amigáveis para abordar e resolver problemas – o Bug Latino já faz isso.
Diálogos francos e abertos, busca contínua por bons parceiros, interessados em enriquecer as sociedades, reconquistar o que estamos perdendo em gentileza e cordialidade na resolução de problemas cotidianos – o Bug Latino também faz isso.
Achar novos talentos e estar ao lado deles, em todas as regiões, trocando informações e aproximando pessoas – sim, o Bug Latino também faz isso.
Popularizar termos, fazer conhecer novos talentos, circular o conhecimento como forma de entretenimento. É o que somos e o que fazemos, no Bug Latino.
É exatamente por isso que queremos devolver toda essa “mercadoria defeituosa” para Freud. Se os candidatos não falam sobre lixo, meio ambiente, educação, trabalho, lazer “sem comer água”, saúde, emergência climática, segurança pública, sociedade, etc, eles estão lá fazendo o quê? Vamos continuar sendo castigados por todas as coisas e não premiados por sermos bons cidadãos? Pode chamar Freud e devolver a caixa de candidatos inteira...
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Palavras” Bug Sociedade
Você não sabe nada de mim. Você pode imaginar, adivinhar, inventar, mas se eu não disser, se eu não confirmar, são apenas as suas palavras tentando acertar.
Se eu me calar, se me emburrar, se não falar de mim, torno seu caminho mais fácil, afinal não se saberá de mim de outra forma – e as pessoas querem saber de nós, querem saber dos outros para não pensarem nelas.
Cuida-te. Utiliza as palavras para te protegeres, para te preservares, para seres quem és. Aprende a dizer de ti nas palavras. Tudo bem, não digas tudo, ok, mas diz aquilo que te desenha, que te define, mantêm-te viva, mantêm quem és nas palavras que dizes – não nas palavras dos outros. Os outros são os outros – e bons se aceitarem quem és e respeitarem tuas palavras, quem decides ser a cada momento. Aos outros, distância, quando têm o hábito de falar por ti, de ter a mania de saber mais de ti do que tu.
Vê, decide os momentos em que falas, escreves, fazes – as palavras presentes de novo. Aumenta o teu vocabulário, enriquece. Faz misturas de ideias, de termos, viaja nas construções verbais, descobre-te nessas viagens gramaticais. Esquece mestrados e doutorados. Começas com 4 palavras, que se transformam em 8, dispostas em linha, ou cruzadas, ou interpostas, ou repetidas, ou misturadas com sons, com sorrisos, com olhares, abraços, com silêncios. Como um caruru, o sabor vai surgindo, tudo virando mais e mais intenso, não é preciso encher o prato porque cada garfada é uma viagem completa. Nesse mesmo cuidado com que saboreamos uma comida que desejamos por muito tempo, soltamos uma ou outra palavra, uma ou outra ideia. Sendo quem somos, descobrindo quem somos, construindo quem somos.
Quando se descobre que somos o que falamos, quando se descobre que existimos quando sabemos comunicar o que pensamos, quando se descobre que a realidade é o ambiente falado – o que não se diz é como se não existisse, por isso os segredos e as mentiras são tão nocivas na sociedade. Quando se descobre que quando falamos, somos livres, percebemos a importância de ler, de escrever, de conversar, de pensar, de descobrir, de desenvolver este mundo silencioso e pessoal, dentro de nós – dando-lhe som. Palavras com som, a melhor arma da humanidade.
Pensamos todos muito bem, sabemos tudo no nosso pensamento. É quando tentamos colocar isso em palavras com som que percebemos que a coisa não é assim tão linear. Como quando transportamos ovos – se não cuidamos da maneira como os carregamos na mochila, eles nem chegam ao objetivo – viram omolete/omelete antes. E não adianta começar a ficar agressiva ao perceber que não estamos a conseguir transmitir, pela boca, o que está tão “direitinho” na nossa cabeça. Ainda não existe bluetooth nas relações humanas.
Quando lhe pedem para emprestar uma chave de fendas, não a entrega pelo cabo? Quando fala de si, quando emite uma opinião, entregue com doçura e da melhor forma possível para a outra ou outras pessoas, darem continuidade. Como uma fila de pessoas, passando chaves de fendas, sem atrapalhar o processo, agilizando, melhorando em cada entrega.
Pense nisso.
Ana Santos, professora, jornalista
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