Os dias vão passando. Março, abril, maio, junho, julho, agosto... Manter as forças, manter o foco, manter a esperança. Onde se está sossegado? Com quem estar? Onde é o endereço da felicidade? Melhoramos? Leia poesia, faça poesia, se apoie na poesia.
1. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert
“Aqui está-se sossegado”
“Aqui está-se sossegado,
Longe do mundo e da vida,
Cheio de não ter passado,
Até o futuro se olvida.
Aqui está-se sossegado.
Tinha os gestos inocentes,
Seus olhos riam no fundo.
Mas invisíveis serpentes
Faziam-na ser do mundo.
Tinha os gestos inocentes.
Aqui tudo é paz e mar.
Que longe a vista se perde
Na solidão a tornar
Em sombra, o azul que é verde!
Sim, poderia ter sido...
Mas vontade nem razão
O mundo têm conduzido
A prazer ou conclusão.
Sim, poderia ter sido...
Agora não esqueço e sonho.
Fecho os olhos, oiço o mar
E de ouvi-lo bem, suponho
Que vejo azul a esverdear.
Agora não esqueço e sonho.
Não foi propósito, não.
Os seus gestos inocentes
Tocavam no coração
Como invisíveis serpentes.
Não foi propósito, não.
Durmo, desperto e sozinho.
Que tem sido a minha vida?
Velas de inútil moinho —
Um movimento sem lida...
Durmo, desperto e sozinho.
Nada explica nem consola.
Tudo está certo depois.
Mas a dor que nos desola,
A mágoa de um não ser dois —
Nada explica nem consola.”
Fernando Pessoa
2. Poesia indicada pelo Bug Latino
“ENDEREÇO DA FELICIDADE”
“Se é um endereço onde há felicidade
que você está tanto na procura,
não vá onde houver pompa com fartura
nem onde muito houver necessidade.
No primeiro lugar há corredura
para sempre se ter prosperidade,
enquanto no outro, que disparidade,
só manter-se vivo é carreira dura.
Investigue onde o pouco for bastante,
onde não haja inveja assinalada,
onde parar se possa algum instante,
onde valor ninguém dê a adereço
e onde a raiva ninguém veja instalada,
pois, com certeza, é lá esse endereço.”
ALMIR CÂMARA
Poeta Baiano, de Ubaitaba
12/10/1990
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