“QUEBRANDO MITOS - a frágil e catastrófica masculinidade de Bolsonaro”
A primeira coisa que temos que encarar, no filme, é o nosso medo de colocar em palavras o terror. E talvez alguma consequência por escolher palavras para descrever o terror.
Vivemos vários terrores. O da censura pela coação. O medo imaginário do que pode nos acontecer por falar disso. O terror de ver a morte ao nosso lado e com todas as caras. As caras dos “resfriadinhos”, a cara dos antivacina, a de Marielle – imortalizada, nossa Dandara, nossa Maria Felipa – a cara dos LGBTQIA+, dos pretos, dos meninos pretos, dos pobres, indígenas, pardos, pardos, pardos - a nossa cara refletida na cara dos que coagem, estampada nos olhos deles.
Carioca que vive na Bahia tem um Karma a cumprir. Tem sempre uma história por contar. E QUEBRANDO MITOS está ao redor dos guardas que pensam que ao brutalizarem, obedecem a quem pede a eles sempre mais obediência – pela força, até; dos que têm medo da palavra porque talvez – TALVEZ – eles não sejam capazes de reconhecer a razão, mesmo diante dela e não sendo capazes de fazê-lo, matam, ferem, humilham por nada. Ou para salvaguardarem as suas próprias inseguranças.
Mulheres estão muito acostumadas a essa autoafirmação masculina – convivemos com ela, afinal – mas para cada pênis real – que precisa de autoafirmação constante – existimos nós.
Há alguma coisa a ser compreendida, aqui e ela começa pelo fato de que esse governo não foi capaz de construir nada em 3 anos e tanto: a Amazônia está em ruínas, nossos indígenas estão sendo massacrados, quase todas as pessoas estão em muitas dificuldades, milhões não têm nada pra comer. Aqui em casa, nós adotamos um artista de rua durante toda a pandemia e começamos a nos esconder ou nos desculpar das dezenas de pessoas que encontramos no mercado, na padaria, na rua porque não conseguimos ajudar todos os que precisam de ajuda. Não, presidente. Eles não perseguem só a gente ou só aqui na Bahia tem gente pobre. Há miseráveis por toda parte e eu nem sei se o senhor sabe o significado de ir pra fila da padaria e ficar lá com seu saquinho de pães na mão, esperando chegar a sua vez. Vendo essas pessoas e sentindo vergonha de ter os seus pães na mão.
Politicamente, então, QUEBRANDO MITOS é um doc brutalmente realista, com dados históricos sobre a ditadura que eu, adolescente, vi, no Rio de Janeiro. Os cavalos, o medo de olhar livros, a descoberta do grupo TORTURA NUNCA MAIS, estar parada numa fila pra entrar num show de rock e tomar uma cacetada nas costas porque o “cavalo em cima do cavalo” queria passar exatamente pelo lugar onde eu estava. A bomba no RIOCENTRO que explodiu “a anta” que não a soube manejar (graças à Deus). E tudo isso passa pela forma Bolsonaro de ser. O que amedronta. O que afronta. O que fere e ofende.
Ver o filme é terrivelmente doloroso, mas lá no final, vem de novo a gente – dia 2 de outubro é o nosso dia, o dia de acabar com o bullying, o dia de enfrentar a nossa batalha e – tomara – ganha-la em definitivo, sem segundo turno. O dia de olhar na cara do valentão e pensar que o pênis de todas as mulheres é virtual e nesse dia, o nosso vai estar gigante. Gigante que viu toda violência na favela, que viu político sair daqui pra eleger excelência em Brasília escondidinho, que viu os mortos, mortos em pilhas, mortos por todos os lados, sangue e porrada.
Vejam o filme. A nossa crítica nem pôde esperar pelo domingo. Se preparem mulheres, pobres, gays, lésbicas, negros, homens e mulheres hetero, favelados, ricos, mas acima de tudo: se preparem os conscientes porque dia 2, todos nós – Marielle, você também, presente! – vamos pegar o Brasil de volta. E aí, de novo o sorriso, a cordialidade, a liberdade!
O fim do medo. Filme imperdível, compromisso inadiável com a democracia.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
"O real e a realeza" Bug Sociedade
A Rainha de Inglaterra morreu e isso implicou uma monstruosidade de atos e celebrações. Muito amada, é substituída pelo filho, muito menos respeitado e amado, além da discussão mais acesa do que nunca de como é possível gastar tanto dinheiro com reis e rainhas atualmente.
O jornalismo mundial ficou paralisado ali como se não existisse mais nada no mundo. Antes da pandemia estavam focados nos refugiados, depois na pandemia, depois na “invasão” da Ucrânia. Transformam o mundo e a vida em temáticas, por ondas. Como o mundo não é assim, se assistimos diariamente aos jornais de qualquer canal de televisão, acabamos por ficar a sentir, a pensar e a nos preocuparmos – a viver portanto - por ondas. Se optamos por nem ver televisão, ou redes sociais, ou programas na internet, ficamos com a sensação que somos uns zombies que vivemos noutro planeta, sem entender a conversa das outras pessoas. Preocupações mundiais com atos racistas crescem antes do jogo de futebol entre Atlético de Madrid e Real Madrid, mas terminando o jogo, tudo é adormecido de novo.
O mundo, tão complexo, resignado a teorias, ondas, manipulações, anestesias, hipnoses sociais. Marketing, teorias de comunicação, neurolinguística, são algumas das ferramentas que foram construídas para dominar o pensamento humano e decidir pelas pessoas. O Brasil sempre foi conhecido por ter grandes especialistas mundiais na área – um dos melhores do mundo em publicidade - infelizmente nem todos com deveres morais íntegros e humanos.
Ter pensamento próprio tem muito que se lhe diga hoje em dia. Nem tudo o que lê e que vê é a realidade. Mas saber o que é a realidade também pode nos levar a uma enorme discussão filosófica. Não temos muito onde agarrar as nossas certezas – mais um conceito atualmente frágil – mas pelo menos uma forma é inegável: os fatos. Uma forma ainda íntegra e viável de manter os pés no chão. É sempre bom cuidar onde vai se informar dos fatos, que jornais vai ler, ou programas vai assistir, ou que redes sociais acompanhar. Pelo título escrito de forma manhosa, podemos ficar com a sensação que morreu alguém, quando afinal se estava a celebrar a vida desse alguém. Fatos inegáveis são por exemplo: as palavras que teimam em sair constantemente da boca de Jair Bolsonaro. O videoclipe e o documentário colocados abaixo são dois documentos que registraram para a eternidade essas palavras e muitos outros fatos gravíssimos que não podem ser jamais esquecidos na história do Brasil.
Peço a todos os brasileiros de bem que no dia do voto, possam escolher o que o mundo inteiro pede, deseja, sonha. Deixo também um enorme agradecimento a todos os que têm a coragem de fazer estes videoclipes, estes documentários, aos poucos que estão na política lutando pelo bem estar das populações, sabendo que arriscam a sua vida e dos seus familiares. Gratidão profunda.
Ana Santos, professora, jornalista
O Bug Latino assistiu e aconselha o documentário e o videoclipe:
QUEBRANDO MITOS - a frágil e catastrófica masculinidade de Bolsonaro
"Hino" ao Inominável
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