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“Qual é o seu lugar no ranking?” Bug Sociedade


Me incomodou enormemente ver a sociedade em plena “classificação das qualidades dos atletas”, na Olimpíada. Rebeca Andrade, Rayssa Leal e Ítalo Ferreira devem ir para o “balaio dos bons” e nele entram também a ginástica artística, o skate e o surf – antes esportes invisíveis, diante de vôlei e futebol. Bárbara, do futebol feminino – cancelada, assim como as meninas do futebol – até a Marta ficou na segunda classe!


Assim, parece fácil. Todos os que estão na Olimpíada precisam ser os melhores ou então descem a ladeira. E quem julga são os ultra competentes espectadores. Mas o excelentíssimo público é ultra competente em quê? Qual lugar na classificação planetária – sim, quando falamos de alguém olímpico, falamos de resultados planetários. Aquelas pessoas que estão lá, sejam elas quais forem, não importa em qual país, com seus técnicos e toda a equipe ao redor de si, veem o mundo em outra dimensão. Ninguém pensa em cancelar nada porque têm mais o que fazer; precisam competir com suas fraquezas, suas dores e ultrapassá-las. Aqui no Brasil, quando a Olimpíada acabar, se uma pessoa comum como a Daiane falar: Eu estive na Olímpiada do Rio, todo mundo vai fingir que não ouviu – é coisa velha, já passou. Mas Quem conseguiu apuramento para uma olimpíada é especial e sempre será porque perseverou enfrentando a si mesmo - e venceu. Ele já chega lá vencedor. Quem tem coragem de se enfrentar? Os pais, ensinando seus filhos a só receberem sim, num mundo que nos cansa de tanto dizer não, estão ensinando seus filhos a perseverarem? Estão? Seria por isso que os suicídios de jovens não param de subir no mundo, exibidos até pela internet, ao vivo?


Qual é o lugar do engenheiro ou do economista senhor X, no mundo? Ele está classificado no ranking em qual lugar? E isso porque nem cheguei no senhor político, do poder legislativo e do poder executivo. Que lugar no mundo o Brasil está ocupando o ranking das ações contra a Covid-19, por exemplo? No ranking das ações a favor do meio ambiente? Que lugar no ranking os namorados ocupam quando abandonam adolescentes grávidas, em abortos masculinos dos quais os políticos nunca se lembram de falar, embora acusem as mulheres de todos os pecados.


Qual é o seu lugar no ranking? O que você está fazendo agora ao invés de “seguir ou cancelar”? Seguir ou cancelar é “in” ou “out”? Ou é apenas uma idiotice sem sentido?


Antes de falar, de levantar o dedinho para o like ou deslike, corra no banheiro e se olhe no espelho em cima da pia: qual é o seu lugar no mundo e o que você está fazendo pra sair do lugar onde está e melhorar seu tempo, seu recorde pessoal?


Só isso.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV



Pessoas que lutam diariamente, durante 5 anos, para saltar, lançar, mais longe um centímetro. Para nadar, correr, um milésimo de segundo mais rápido. Uma vida de rigor, de disciplina, de “não pode”. Uma vida solitária em contra-ciclo com as rotinas sociais de uma sociedade consumista – sexta-feira, dia de sair, sábado, também, domingo, churrasco em família, etc. Nas horas de solidão, dor e trabalho, ninguém pensa neles. Ninguém se preocupa com eles. Nem pessoas comuns nem Confederações esportivas, nem Comitês Olímpicos, nem Governos, nem Presidentes de “alguns Países”. Um desperdício. Quando se está de férias também não é algo que se leva como preocupação.


No momento da competição são avaliados por nós, criteriosamente, pela beleza, pela magreza, pela feminilidade, pela masculinidade, pelo que dizem, pelo que não dizem, etc.


Se ganham, são heróis e nós consideramos que “ajudamos” muito. Se perdem, se não recebem medalha, nada valem e de certa forma parecem denegrir a nossa reputação. De repente, sentados no sofá, somos melhores do que eles. Saberíamos fazer muito melhor. Sempre seremos melhores. Sem esforço, sem ação. Como somos sempre melhores? Pelo grande poder do século 21: abrir o computador ou o celular e escrever nas redes sociais palavras azedas, de ódio, de raiva, de desprezo, denegrindo a pessoa, cancelando a pessoa. Babar de prazer ao fazê-lo. Consideramos que essa pessoa falhou perante os nossos olhos, como se fôssemos “NERO” virando nosso dedo para baixo na arena romana. O que nos aconteceu? Quem somos para achar que podemos fazer isso aos outros? Outros que tentam enquanto nós queremos, mas apenas queremos – sentados olhando a TV? Nós somos quem na vida? O melhor arquiteto, engenheiro, economista, professor, jornalista (etc) do mundo? O quinto? Qual é o nosso lugar no ranking? Como podemos falar assim dos que pelo menos tentam? Lutam? Se formos um dos 10 do ranking mundial, na nossa profissão, sabemos o que custa e como é frágil a vida. Sabemos bem o que dói falhar e como são os dias bons e os dias maus. Por isso, respeitamos os outros, as outras profissões.


Achar que essas pessoas não tentam? Falham por desleixe? Erram por incapacidade? Os Jogos Olímpicos reúnem os melhores do mundo, naquele momento. Em alguns casos os melhores 10, 20, 30, 50. Temos noção do que isso é? Estar nesse lugar no mundo? Não é no nosso mundo...é no mundo.


Talvez não seja de propósito. Talvez não se perceba o quanto é errado. Talvez não se repare que se está a fazer o que se está a fazer. Se for conosco dói demais. Mas nos outros não dói nada. Por isso, é muito importante, de vez em quando, pensar no que se fala, no que se escreve e como respeitamos os atletas, como respeitamos os outros. Um atleta olímpico não é o melhor do mundo em oratória. Não é essa a sua especialidade. Mas ele sabe bem no que é bom, sabe bem o que quer e sabe bem como lutar por isso. E luta totalmente. Podíamos seguir o seu exemplo e dedicar o nosso tempo a nós, à nossa vida e deixar a vida dos outros, com os outros. Aplaudir e se emocionar quando algo bom acontece. E ficar triste quando não acontece. Porque a nossa vida também pode mudar num instante. Todo o nosso conforto, sucesso, vaidade, não são certos, nunca serão.


Na sua profissão, qual é o seu lugar no ranking mundial?


Na sua educação, qual é o seu lugar no ranking mundial?


No seu respeito pelos outros qual é o seu lugar no ranking mundial?

Ana Santos, professora, jornalista



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