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PROCESSION (Netflix, 2021)


Causa enorme perplexidade em mim ver documentários sobre pedofilia. Não alcanço esse tipo de desejo – talvez o instinto materno nos salve disso, de alguma forma, não sei. O filme PROCESSION mostra inúmeros adultos – todos homens – abusados por padres. A dor é tamanha, a falta de conformidade é tamanha, que o filme foi rodado para as sensações pudessem ser revividas e de alguma forma eles conseguissem dar um passo à frente.

É importantíssimo falar do assunto, alertar aos pequenos e o filme é uma forma de iniciar. Há a violência da percepção do assédio, o assédio em si, o medo, a recordação violenta do estupro – embora nada seja mostrado, nada seja descrito com o desejo de mostrar o horror – ele está lá.

PROCESSION, portanto, elenca crimes que são ocultados ao máximo e que estão ao nosso redor – inclusive nos templos religiosos. A hipocrisia e a omissão fazem parte da reação dos adultos e esse é um dos motivos principais para que eu indique o filme para se ver em família – uma conversa em seguida sobre cuidados fica bastante mais fácil.

Pessoas em pedaços tentam por uma vida, se reconstruírem e PROCESSION, usando técnicas de psicodrama, é apenas mais uma das tentativas. Assistam, compartilhem em casa essa dor e perplexidade, mas sobretudo, informem e se coloquem disponíveis para ajudar.

Indico fortemente.

ANA RIBEIRO, diretora de cinema, teatro e TV


Os horrores dos abusos nas igrejas não param de aumentar. Por todos os países, por todas as cidades. Pouco ou nada se faz além de alguma boa vontade institucional, esparsos pedidos de desculpa e a cabeça enfiada na areia. Troca o padre de igreja, silencia, culpa as vítimas. As mesmas formas por todo o mundo. O tempo não pára e a dor, a humilhação e os danos só aumentam. Os danos morais, espirituais, pessoais vão queimando por dentro com o tempo, porque as recordações costumam pipocar, mesmo que o ser humano tente esquecer ou ache que tudo está resolvido. Alguns referem até que as memórias começam a surgir em pesadelos, passadas décadas. Não dá para colocar areia em cima de tamanha dor. Não dá para uma sociedade fazer de conta que já passou muito tempo, ou que não é grande coisa, ou até, de desculpar os padres e as igrejas onde trabalham. É inacreditável como não temos compaixão, empatia, nem qualquer interesse em, enquanto sociedade, corrigir estes erros graves. Algum dia a sociedade terá de falar seriamente e com toda a frontalidade e honestidade que for possível sobre as religiões. Lugares que deveriam ser de proteção, apoio e enriquecimento espiritual, não podem continuar a permitir o que permitem.

Ver estes homens adultos falar, sentir como estão despedaçados por dentro, perceber que têm de resolver as suas dores sozinhos, nos envergonha e nos preocupa. Se fazem isto a estes homens, outrora meninos, se fazem às mulheres, outrora meninas, ou a quem quer que seja que esteja desamparado, não podemos ficar a assistir, mesmo que achemos horrível. Isso não chega.

Veja o documentário. Divulgue. Quantas mais pessoas assistirem, mais se pensará no assunto, mais pessoas ficarão envolvidas. Quem sabe isso nos ajuda a mudar o que está muito errado nas religiões.

Ana Santos, professora, jornalista

Sinopse: Um grupo de sobreviventes de abuso sexual por padres católicos luta pela justiça.

Direção: Robert Greene

Elenco: Amaris Anderson, Joe Eldred, Mike Foreman.

Trailer e informações:

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