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PRECE EM VERSOS


Poesia, entra na vida e protege os povos que sofrem e os ajuda a sair de tormentas sem nexo, sem chão, sem justiça. Lhes dá um caminho, uma saída. E com teus versos tira do caminho quem não cuida, quem não sabe o que faz. Quando chega a hora da poesia, nem todos sabem rimar. A esses, dá-lhes uma bola para brincar.


1. Poesia indicada pelo Bug Latino


“Fagulha”


“Abri curiosa

o céu.

Assim, afastando de leve as cortinas.


Eu queria entrar,

coração ante coração,

inteiriça

ou pelo menos mover-me um pouco,

com aquela parcimônia que caracterizava

as agitações me chamando


Eu queria até mesmo

saber ver,

e num movimento redondo

como as ondas

que me circundavam, invisíveis,

abraçar com as retinas

cada pedacinho de matéria viva.


Eu queria

(só)

perceber o invislumbrável

no levíssimo que sobrevoava.


Eu queria

apanhar uma braçada

do infinito em luz que a mim se misturava.


Eu queria

captar o impercebido

nos momentos mínimos do espaço

nu e cheio


Eu queria

ao menos manter descerradas as cortinas

na impossibilidade de tangê-las


Eu não sabia

que virar pelo avesso

era uma experiência mortal.”


Ana Cristina César

Rio de Janeiro (1952-1983)


2. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert


“Ode à Paz”


"Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,

Pelas aves que voam no olhar de uma criança,

Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,

Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,

Pela branda melodia do rumor dos regatos,

Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,

Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,

Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,

Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,

Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,

Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,

Pelos aromas maduros de suaves outonos,

Pela futura manhã dos grandes transparentes,

Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,

Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas

Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,

Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,

Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.

Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,

Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,

Abre as portas da História,

deixa passar a Vida!"


Natália Correia

in "Inéditos”

Portugal

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