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Poesia metafórica


O clima está dentro de nós

O mundo existe na nossa cabeça

O que é o que vemos?

O que é o que sentimos?

Quem somos?


“ESTAÇÕES INTERNAS”


“Estou contando

com a primavera.

Ultimamente

não tem havido flores

Dentro de mim;

Tenho andado

meio chuvoso,

Horizontes nublados,

embora tempestuosos

São frios, frios.

Hoje de manhã

não abri a janela

Saí de surpresa,

E de surpresa vi o dia

Estava lindo.

E fiquei sem vontade

De mudar minha

meteorologia interior

Decididamente

vou romper

com este inverno,

Estou muito úmido

por dentro.

E para tanto,

receita simples,

Vou com o vento

comer, devorar,

Um raio,

um raio de sol.”

José Carlos Limeira



“Antífona”


“Ó Formas alvas, brancas, Formas claras

De luares, de neves, de neblinas!

Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas…

Incensos dos turíbulos das aras

Formas do Amor, constelarmante puras,

De Virgens e de Santas vaporosas…

Brilhos errantes, mádidas frescuras

E dolências de lírios e de rosas …


Indefiníveis músicas supremas,

Harmonias da Cor e do Perfume…

Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,

Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume…


Visões, salmos e cânticos serenos,

Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes…

Dormências de volúpicos venenos

Sutis e suaves, mórbidos, radiantes …


Infinitos espíritos dispersos,

Inefáveis, edênicos, aéreos,

Fecundai o Mistério destes versos

Com a chama ideal de todos os mistérios.


Do Sonho as mais azuis diafaneidades

Que fuljam, que na Estrofe se levantem

E as emoções, todas as castidades

Da alma do Verso, pelos versos cantem.


Que o pólen de ouro dos mais finos astros

Fecunde e inflame a rima clara e ardente…

Que brilhe a correção dos alabastros

Sonoramente, luminosamente.


Forças originais, essência, graça

De carnes de mulher, delicadezas…

Todo esse eflúvio que por ondas passa

Do Éter nas róseas e áureas correntezas…


Cristais diluídos de clarões alacres,

Desejos, vibrações, ânsias, alentos

Fulvas vitórias, triunfamentos acres,

Os mais estranhos estremecimentos…


Flores negras do tédio e flores vagas

De amores vãos, tantálicos, doentios…

Fundas vermelhidões de velhas chagas

Em sangue, abertas, escorrendo em rios…


Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,

Nos turbilhões quiméricos do Sonho,

Passe, cantando, ante o perfil medonho

E o tropel cabalístico da Morte…”


Cruz e Sousa (1861-1898)

Poeta considerado como a maior expressão poética do Simbolismo

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