As mães, os filhos
O amor, o sofrimento
O passado, o futuro
A vida, a morte
Sem amor, nada é, nada somos.
1. Poesia indicada pelo Bug Latino
"Eles enterraram seu filho no inverno passado"
“Eles enterraram seu filho no inverno passado.
Um tempo estranho para o inverno — chuva, trovão.
Eles o enterraram silenciosamente — todos estavam ocupados.
Por quem ele lutou? Eu perguntei. Não sabemos, eles dizem.
Ele lutou por alguém, dizem eles, mas quem — quem sabe?
Vai mudar alguma coisa, dizem eles, qual é o ponto agora?
Eu mesmo o teria perguntado, mas agora — já não há necessidade.
E ele não responderia — ele foi enterrado sem a cabeça.
É o terceiro ano de guerra; estão consertando as pontes.
Sei tantas coisas sobre você, mas quem ouviria?
Eu sei, por exemplo, a música que você costumava cantar.
Conheço sua irmã. Sempre tive uma queda por ela.
Eu sei do que você estava com medo, e até mesmo, o porquê.
Quem você encontrou naquele inverno, o que você disse a ele.
O céu brilha, cheio de cinzas, todas as noites agora.
Você sempre jogou para uma escola vizinha.
Mas por quem você lutou?
Por vir aqui todo ano, para a grama seca.
Por cavar a terra todos os anos — pesado, sem vida.
Por ver a calma após a tragédia todos os anos.
Por insistir que você não atirou em nós, no seu povo.
Os pássaros desaparecem atrás de ondas de chuva.
Por pedir perdão por seus pecados.
Mas o que eu sei sobre seus pecados?
Por implorar para que a chuva finalmente pare.
É mais fácil para os pássaros, que não sabem nada de salvação, sobre alma.”
Serhiy Zhadan
Ucrânia
2. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert
“Minha mãe,
A ti, que me ouves quando nada digo
A ti, que me respondes quando estou em silêncio
A ti, que me entendes sem que eu me explique
A ti, que me amparas quando eu vacilo
A ti, que me dás tudo sem pensar em ti
A ti, que me consolas quando eu estou triste
A ti, que te ris comigo e dizes «Eu bem te disse»
Minha mãe,
A ti, que me dizes «não» quando é preciso
A ti, que me ajudas sem que eu te peça
A ti, que pensas em mim sem que eu te esqueça
A ti, que passas as noites em branco para que eu descanse
A ti, que me dás força até que eu alcance
A ti, que me dás a mão para eu não ter medo
A ti, que nunca te atrasas para eu chegar cedo
A ti, que às vezes desesperas sem perder a esperança
A ti, que sabes que cresço e me vês criança
Minha mãe,
A ti, que sofres sozinha para me poupar
A ti, que me vestes o teu casaco quando o vento arrefece
A ti, que estás tão cansada sem deixar andar
A ti, que gostas de mim de qualquer maneira
Por ti, minha mãe, esta minha prece
Que Deus te guarde como tu a mim
Que amor tão grande não conhece o fim.”
Elisabete Bárbara
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