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Poesia envelhecida


Excerto de obra de Vik Muniz

Cansamos

Envelhecemos

Morremos

Mas enquanto isso

Vivemos, vivemos, vivemos


“Coisas simples e incompreensíveis”


“Nada de novo — repete ele. Os homens matam-se ou morrem,

sobretudo

envelhecem, envelhecem, envelhecem — os dentes,

os cabelos, as mãos, os espelhos.

Aquele vidro do candeeiro, quebrado — foi consertado com um jornal.

E o pior de tudo: quando aprendes que algo vale a pena, já passou.

Então se faz uma grande serenidade. Chega o verão. As árvores

são altas e verdes — muito provocantes. As cigarras cantam.

À tardinha, as montanhas azulecem. Lá de cima descem

homens obscuros. Coxeiam ladeira abaixo (fingem que coxeiam).

Lançam cães mortos ao rio, e depois, muito tristes e como

que irritados

dobram os sacos de linho, coçam os testículos e olham a lua

na água. Somente essa coisa inexplicável:

fingirem-se de coxos, sem que ninguém esteja a vê-los.”

Yannis Ritsos


“Velho”


“Estás morto, estás velho, estás cansado!

Como um suco de lágrimas pungidas

Ei-las, as rugas, as indefinidas

Noites do ser vencido e fatigado.


Envolve-te o crepúsculo gelado

Que vai soturno amortalhando as vidas

Ante o repouso em músicas gemidas

No fundo coração dilacerado.


A cabeça pendida de fadiga,

Sentes a morte taciturna e amiga,

Que os teus nervosos círculos governa.


Estás velho estás morto! Ó dor, delírio,

Alma despedaçada de martírio

Ó desespero da desgraça eterna.”


Cruz e Sousa (1861-1898)

Poeta considerado como a maior expressão poética do Simbolismo

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