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Poesia de Mais Um Ano


Amélia Carvalheira
Amélia Carvalheira

“O REALEJO DE VINHO”

 

“Para quem me queira ouvir:

Sou um homem aos frangalhos.

Parte por culpa de tudo.

Parte por culpa de nada.

 

E digo mais ao casual

Ouvinte deste relato:

Não sendo herdeiro nem rico,

Não tenho crédito na praça.

 

Amo as japonas escuras

De mangas e tudo vasto.

E os colarinhos puídos

Uso desabotoados.

 

Ao pôr a minha gravata,

Fabrico um laço bem largo.

E acho triste andar com ela.

E mais tristes as gravatas.

 

Eu nunca faço questão

Que uma roupa seja cara.

Mas ampla e, sendo possível,

Com certo ar desesperado.

 

Eu prefiro aos bons charutos

Um velho e forte cigarro.

E odeio fumar cachimbo

Pois sou muito angustiado.

 

No mais, um vento me agita,

Interior e largado.

E me devasta os cabelos,

Rosto, sorriso e palavra.”

Affonso Manta

Salvador, Bahia

 

 



“TERCEIRA ELEGIA”

 

                                      (trecho)

 

 

“Estive sempre de pé no ônibus, espremido

                                               [entre o ferro

da cadeira e o rumor dos passageiros.

Educado a ser o último, cedi o lugar a gestantes

 

                                               [e idosos.

Estive sempre de pé no ônibus, me defendendo

ao largo do corrimão de tantos rumos,

alianças e ponteiros com paradas diferentes.

E o brado irritante do cobrador ainda a exigir

um passo à frente.

 

O fato de não ter sido é mais trabalhoso

do que a fama. Prossegui a me imaginar,

sondando o que poderia ter vivido.

Disperso, anônimo, no comício do mar

e nas trevas.

 

Diminuindo o risco, reduzimos a possibilidade

de nos libertar. O medo, o medo, o medo

é o que nos faz escolher.

 

Descobre-se um amor

na iminência de perdê-lo.”

Fabrício Carpinejar

Caxias do Sul

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