Vemos o mundo, vemos a poesia
Misturamos por dentro do nosso peito
E fazemos a nossa vida o melhor que sabemos, Em cada dentro
Em cada fora
1. Poesia indicada pelo Bug Latino
“O sol se põe”
“O sol se põe, colinas negrejam
A avezinha se cala, o campo se aquieta,
Homens contentes fruem repouso,
Mas eu só miro… e voo com alma
Ao pomar escuro na minha Ucraína.
Voo com meus pensamentos,
E assim a alma se acalma.
Negrejam campos, matas e montes,
No céu profundo nasce uma estrela.
Oh estrela, estrelinha! – e lágrimas rolam.
Tu já surgiste na minha Ucraína?
Será que olhos amados
No céu te buscam? Ou já esqueceram?
Se já esqueceram, durmam tranquilos,
E com o meu destino não se perturbem.”
Taras Shevchenko
Ucraniano
2. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert
“Ando um pouco acima do chão”
“Ando um pouco acima do chão
Nesse lugar onde costumam ser atingidos
Os pássaros
Um pouco acima dos pássaros
No lugar onde costumam inclinar-se
Para o voo
Tenho medo do peso morto
Porque é um ninho desfeito
Estou ligeiramente acima do que morre
Nessa encosta onde a palavra é como pão
Um pouco na palma da mão que divide
E não separo como o silêncio em meio do que escrevo
Ando ligeiro acima do que digo
E verto o sangue para dentro das palavras
Ando um pouco acima da transfusão do poema
Ando humildemente nos arredores do verbo
Passageiro num degrau invisível sobre a terra
Nesse lugar das árvores com fruto e das árvores
No meio de incêndios
Estou um pouco no interior do que arde
Apagando-me devagar e tendo sede
Porque ando acima da força a saciar quem vive
E esmago o coração para o que desce sobre mim
E bebe”
Daniel Faria
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