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Poesia de cada um


O que fazemos,

O que somos,

O que pensamos.

O que desejamos,

É a nossa poesia...


1. Poesia indicada pelo Bug Latino


“MEU DIA”


“A criança idiota de três olhos

que joga sem parar seus jogos sem sentido

no meu quintal

e pára de repente para rir ou chorar

sem nenhum motivo

ficou enfurecida com nada esta manhã

e bebeu toda a sopa do caldeirão.


Seu cachorro de duas patas mijou por todos os meus tapetes.


Quando saí para pendurá-los para secar

percebi que os dois haviam despelado

por todo o gramado. Enquanto cuidava disso

incendiaram a casa, usando-a para cozinhar

os espaguetes que enrolaram ao seu redor.


Quando cheguei na Ásia, ambos estavam contemplando

seus umbigos. Após uma inspeção minuciosa, descobri

que havia aquários de peixe dourado embutidos em suas barrigas

nos quais tinham enjaulado um casal de pássaros cantadores.

Fora isso que na verdade prendera sua atenção.


Na Índia, enquanto eu nadava, me pegaram em uma linha

e me arrastaram até Paris, onde começaram a pintar

e ficaram famosos. Receberam palitos de dente como pagamento

e os trocaram por passagens em uma baleia transatlântica.


Após essa árdua jornada ambos dormiram quarenta dias

gritando de pesadelo a cada sete minutos.

Depois saíram para o quintal para jogar.”


Maya Deren

Ucraniana


2. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert


“Para escrever o poema”


“O poeta quer escrever sobre um pássaro:

e o pássaro foge-lhe do verso.


O poeta quer escrever sobre a maçã:

e a maçã cai-lhe do ramo onde a pousou.


O poeta quer escrever sobre uma flor:

e a flor murcha no jarro da estrofe.


Então, o poeta faz uma gaiola de palavras

para o pássaro não fugir.


Então, o poeta chama pela serpente

para que ela convença Eva a morder a maçã.


Então, o poeta põe água na estrofe

para que a flor não murche.


Mas um pássaro não canta

quando o fecham na gaiola.


A serpente não sai da terra

porque Eva tem medo de serpentes.


E a água que devia manter viva a flor

escorre por entre os versos.


E quando o poeta pousou a caneta,

o pássaro começou a voar,

Eva correu por entre as macieiras

e todas as flores nasceram da terra.


O poeta voltou a pegar na caneta,

escreveu o que tinha visto,

e o poema ficou feito.”


Nuno Júdice

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