“A palavra é chave, é porta que se abre
Caminho e mundo que se faz
A palavra mostra o que não se vê
Mostra o mais belo, mostra o que somos
O que precisa ser feito
Aprender ou reaprender a usar a palavra
Para ser, para construir, para ajudar
Sempre, sempre, sempre
O resto...o resto não presta
Nos enterra na lama”
Bug
1. Poesia indicada pelo Bug Latino
“MUITAS FUGIAM AO ME VER”
“Muitas fugiam ao me ver
Pensando que eu não percebia
Outras pediam pra ler
Os versos que eu escrevia
Era papel que eu catava
Para custear o meu viver
E no lixo eu encontrava livros para ler
Quantas coisas eu quis fazer
Fui tolhida pelo preconceito
Se eu extinguir quero renascer
Num país que predomina o preto
Adeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.
Adeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.”
Carolina Maria de Jesus (1914 — 1977)
Poeta, mãe solteira, catadora de papéis e moradora da favela do Canindé, em São Paulo
2. Poesia indicada pelo Bug Latino
“Seu Nome”
“Seu nome, em repeti-lo
A planta, a erva, a fonte, a solidão
Do mar a brisa
Meu peito se extasia
Seu nome é meu alento, é meu deleite
Seu nome, se o repito
É dole, é nota, de finda melodia
Seu nome vejo escrito em letras de ouro
no azul sideral à noite quando
medito à beira-mar
E sobre as mansas águas
Debruçada melancólica e bela
Eu vejo a Lua na praia a se mirar
Seu nome! é minha glória, é meu porvir,
Minha esperança, e ambição é ele,
Meu sonho, meu amor!
Seu nome afina as cordas de minh'harpa,
Exalta a minha mente, e a embriaga
De poético odor.
Seu nome! embora vague esta minha alma
Em páramos desertos, - ou medite
Em bronca solidão:
Seu nome é minha idéia - em vão tentara
Roubar-mo alguém do peito - em vão - repito,
Seu nome é meu condão.
Quando baixar benéfico a meu leito,
Esse anjo de deus, pálido, e triste
Amigo derradeiro.
No seu último arcar, no extremo alento,
Há de seu nome pronunciar meus lábios,
Seu nome todo inteiro!”
Maria Firmina dos Reis (1822 — 1917)
Escritora do Maranhão
Cantos à beira-mar (1871)
Poema "Seu Nome" de Maria Firmina dos Reis musicado pela cantora Socorro Lira.
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