“PESSOAS INCENDIÁRIAS E MENTES INFLAMÁVEIS” Bug Sociedade
Não pensei que tivéssemos talento para esse tipo de violência. Temos talento para muitos tipos, mas essa falta de amor próprio, capaz de se deixar enganar tão absolutamente pela fala do mal, que mistura Deus com ódio, preconceito e destruição como formas possíveis de justiça – e achar quem acredite nisso – é assustadoramente novo pra mim.
O tal homem de ultra direita, um tipo novo de “australopithecus”, com essa margem de evolução tão fácil de manipular, não para e se pergunta: “é certo ou errado” ou mesmo “e se passar uma pessoa inocente, uma criança, um velho”? Portanto, olha uma bomba, enche seu carro delas, deita em cima, arromba seu crânio com uma e em nenhuma hora desses inúmeros meses – talvez anos – se perguntou nada disso. Será?
Quanta lavagem cerebral é necessária para realmente “lavar” o nosso bom senso da cabeça?
Não estou dizendo que ele era doido de jeito nenhum. Mas digo que foi manipulado por milhares de horas de mentiras e manipulações. Mentiras e manipulações estão longe de serem a mesma coisa que “narrativas e fakenews”, percebem? Tiraram o peso de palavras com séculos de semântica e as trocaram por nada. Por um “tiquinho” de significado. E as pessoas se deixaram enrolar pela mistura de Deus e palavras em inglês, liberdade de expressão e crime de ódio, democracia e golpe de estado, apenas porque elas não entendem que as palavras pesam e destroem, tanto quanto uma facada ou um tiro.
Ou uma bomba.
Essas pessoas que invadiram a Praça dos 3 Poderes são criminosas. É simples, quase simplório. Quem comete crime é criminoso. Não adianta falar que foi a velhinha, o doido, o perdido na excursão, o caipira porque, igualzinho ao traficante que “apenas coloca uns pacotes de cocaína no casco dos navios”, quem tenta um golpe de estado comete um crime gravíssimo, que merece cadeia braba.
Ontem a pobre mulher, entre a honra – só eu achei que ela sabia do plano? – e a desonra, largou a herança terrível da vergonha para os filhos e incendiou-se com casa e tudo, chamando pelo ex marido. Por causa do grupo infame do WhatsApp – que só eu desconfio que exista? – e suas conversas irreais, ele saiu de casa para ser democrata e, despolitizado dos pés à cabeça, queria fazer isso num atentado terrorista.
Não é ser maluco. Mas certamente é não ver a justiça ser praticada, vigiada e cumprida normalmente e para todos. Portanto, que se cumpra a lei e que todos sejam alcançados pela justiça brasileira.
Os grandes também. Só pra variar.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Natal bombástico” Bug Sociedade
O Natal está chegando e o calor ficando insuportável. Lavar um banheiro, cozinhar, cortar grama, viram esforços de alta performance. Assisto ao G20, a esse “faz de conta” de sempre, onde tudo fica na mesma, enquanto os jornalistas que o cobrem, derretem nas temperaturas avassaladoras do maravilhoso Rio de Janeiro. Maravilhoso, nestes dias, com segurança por todos os lados – os ladrões e milícias devem ter tirado uns dias de férias – porque quando o G20 terminar, voltaremos ao perigo em cada esquina, em cada rua, em cada momento. Porque protegemos os outros, os que vem passar uns dias, mas aos da casa o tratamento é “pão duro” e “salve-se quem puder”? Não é coisa do Rio de Janeiro só, nem só do Brasil.
Como dizia, é preciso contar com o sol escaldante nas decisões dos dias. Se o computador decidir avariar pode acreditar que sua capacidade de decidir se altera mais ainda. Piora, se a sua vida profissional depender desse “bicho de estimação” das vidas modernas. Uma dor de cabeça, uma crise de alergia, um pequeno aborrecimento, dedo entalado na porta, azia, enfim, as decisões da vida sendo poluídas pelo corriqueiro da vida. Quando vejo Biden se equilibrando em cada passo, nas caminhadas políticas G20, desejo muito que seu pensamento não esteja igual. Quando vejo Javier Milei, de pasta encostada na barriga para não dar abraços a ninguém, nem sei se rio ou choro. Uma pessoa descompensada, que descompensa gravemente seu país.
Quando era jovem achava que dominava a política em conversas com meu pai e ele, calma e sabiamente, me dizia que aquelas pessoas não eram apenas aquilo que eu via. Tinha muito mais do seu passado, do que omitiam, das articulações que estavam fazendo para o futuro. Nada nem ninguém era linear. Um chaveiro, especialista em bombas. A seleção de futebol mais admirada e incrível do planeta – a brasileira – uma seleção como as outras. Um juiz do supremo, Gilmar Mendes, que considera que Robinho não devia estar preso.
O terreno está minado. António Guterres está envelhecido. Sua função, de enorme honra noutros tempos, virou um lugar de incomodo, de menosprezo. Insignificante e ameaçado no meio de cada vez mais líderes de extrema direita, ou ditadores, ou cegos de poder e de autocracia, tem revelado enorme coragem. Mas a vida no planeta parece de costas voltadas para as coragens, as bravuras, as dignidades, as honras, as justiças. Que passe depressa esta maré obscura, por favor. Talvez sejamos nós, “raia miúda” os salvadores, ao manter os “Bom dia”, “desculpe”, “lamento imenso”, etc, etc, etc. Mesmo sem lareira, cheiro a pinha queimada, nozes e amêndoas caseiras. Talvez. Sejamos nós.
Ana Santos, professora, jornalista
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