“Nem parece que é Natal” Bug Sociedade
Não fui criada com festas de Natal e, portanto, estruturalmente, passo muito bem sem elas. Mas quando levanto os olhos para o mundo, percebo que talvez fosse o caso de nós economizarmos nas lâmpadas, LEDs e anjinhos luminosos para que pessoas à deriva não morressem assim tão fácil – à deriva como metáfora e como fato porque olho o mundo e nos vejo à deriva, em busca de valores humanos mais profundos.
Há um enorme empobrecimento humano e ele não é apenas financeiro. Soube, perplexa, que houve uma festa homenageando Pelé – o nosso Pelé, esse mesmo – no Qatar, e nenhum jogador brasileiro apareceu. O Casagrande falou isso e, no tempo dele, jamais aconteceria algo assim porque havia uma preocupação social que se revertia em exemplos – que acabaram.
Aliás, nós vemos as histórias de grandes profissionais se encerrando, mas os novos não tomam as mesmas iniciativas. Galvão Bueno, no último domingo, repetiu que é apenas um Brasil para todos nós, um só povo – referindo-se a esse “racha em surto coletivo” do qual tentamos tirar nossos conhecidos. Da nova geração de narradores, ninguém falou nada.
Por onde olhamos, vemos pessoas muito mais estressadas – as novas gerações parecem “nascer” assim – mais sozinhas, mais isoladas, mais tristes – “estressadas como estado” – num nível de competitividade insano e incompreensível.
Falam menos, conhecem menos palavras – muito preocupante. Têm dificuldades em negociar e depreciam os que pensam diferente nos alto-falantes da internet. Há, como sempre, os manipuladores do discurso, mas agora parece que há mais “manipuláveis” do que antes... Menos palavras e mais credulidade nas bolhas.
Portanto, nesse Natal de 2022 – que vá em paz porque o Brasil merece coisas muito melhores do que as que viveu ultimamente – o melhor desejo é de que todos comam em paz. Comam. Porque até comer é uma coisa difícil, no mundo, atualmente. Que se aqueçam e comam em paz. Que entendam o que é necessário para se desestressarem – mesmo que um pouquinho. O que está no passado não é mais vivível; o que está no futuro, ainda não é tangível. Portanto, o que você precisa, pode e quer fazer agora? Isso já é bem difícil de responder, acreditem.
Falem, mesmo quando dentro de você um diabinho “soprar” para desprezar, ficar de mal, silenciar e ser indiferente. Aceitem que existem pessoas boas e más e as separem por dentro, mas que isso não alimente seus rancores; aceitem a maldade e a deixem passar; não a segurem, tentando entender cada pessoa má. Pessoas boas também erram e cometem maldades. Nesse caso, apenas decidam se querem conviver ou não com elas. Sua opção, sua decisão. Mas não sofram tanto.
O Campo Grande, freneticamente iluminado, está melancólico, aqui em Salvador. Com moradores de rua por todos os lados, com o hábito que desenvolvemos de ver casinhas improvisadas nos parques, nas ruas, nas praças, olhar o Campo Grande gera um pra quê desconfortável, que sonho, torço e quero contribuir para trocar por comida e alegria.
Parabéns ao Lula – o presidente que chega com o peso da gravidade dos problemas do Brasil e a leveza da alegria que todos sentimos por reaver alguém que nos vê, de verdade. E à democracia. Os jogadores daqui estão imaturos e precisando de trabalho duro, os homens precisam reaver suas qualidades femininas, o gênero feminino precisa se unir intensamente, as famílias precisam de mais amor e menos fervor religioso, menos falso moralismo e mais fé no que podemos construir. Podemos fazer um Natal melhor no ano que vem sem ditadura e mais amorosidade, sem guerra, aceitando a discordância e sendo nós mesmos, mas em progresso – isso é a nossa constante!
Bom ano.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Feliz Natal?” Bug Sociedade
E lá vem mais um Natal. As prendas mudaram de aspeto e sentido. Em Portugal, cheias, inundações, juros a subir, preços a subir, água, eletricidade, tudo a subir incluindo as prestações das casas, dos carros. Uma asfixia por todos os lados. As pessoas que tinham uma vida boa lá pelo ano 2000, agora vivem na miséria, na dificuldade. Não falo nos espertos porque os espertos estão cada vez mais ricos, isso já todos sabemos. Os bancos sugam o dinheiro das pessoas, e as pessoas é que pagam as dívidas dos bancos. Visto daqui, meu querido país parece um queijo furado, retalhado, vendido, explorado. Meus colegas professores desrespeitados, desvalorizados, amarfanhados, enganados. Gente de alta qualidade, alto conhecimento, alta experiência. São mesmo seres humanos quem decide estas coisas? Sabendo o que tudo isto implica na educação do futuro? Agora até os voltam uns contra os outros. Lá vem o dividir para reinar. Os políticos e a nova moda de seguir os maus exemplos do mundo. É Natal, é Natal, ninguém leva a mal...
A Ucrânia tem um espaço territorial superior a Portugal infestado de minas. Por todo o lado, até em eletrodomésticos e brinquedos. Não existe remorso? Decência? Vergonha? É Natal?
Tanta desgraça pelo mundo inteiro e o Brasil arrumando a casa. É uma boa sensação ouvir de novo pessoas normais dizendo coisas normais, decidindo o que é melhor para todos. Chega de pesadelo! É Natal, é Natal, com bacalhau a saber a Lula...
Guarde este nome, Brandon Payne. É o treinador pessoal “de habilidades” de Stephen Curry, um atleta inigualável com um treinador pessoal inigualável. Brandon é um pesquisador e aprendiz de: como o corpo aprende, como o cérebro e os músculos comunicam e como ativar algumas “portas” no cérebro para melhores desempenhos motores. Aplica a realidade virtual (VR) como uma excelente forma de treino, corporal e mental. A vida é um mistério, o corpo humano igualmente. Relacionar mundos, saber retirar o útil e adequado de cada novidade, mundo, aprendizagem, descoberta, ciência, pode fazer a diferença. Ser eternamente curioso e humilde. Humildade, não perante ninguém, humildade perante a vida. Sim, a vida, essa que é inclemente, que nada pede, nada avisa e decide tudo. Celine Dion assumiu estes dias publicamente, através de um pequeno vídeo, que adquiriu uma doença rara (% de 1 em 1 milhão) – Síndrome da Pessoa Rígida. A vida sendo injusta e inclemente. Fim da Copa do Mundo. No início, todos sonham e todos se sentem capazes e merecedores. Erros, azares, coincidências infelizes, infelicidades, cansaços, distrações, incapacidades, falta de preparação, falta de organização, falta de conhecimento, etc, foram fazendo a seleção natural. Só um time vence. Pode até perder o primeiro jogo, pode até quase perder o segundo jogo e ser eliminado. Ou pode ser o campeão mundial. Entre muitas coisas, o querer e o perseguir esse querer sem desistir, até ao último instante. Esse “ser dono do meu destino”, esse tomar as rédeas do meu caminho, esse seguir acreditando até que não seja mais possível, tornou Brandon Payne, Stephen Curry, Celine Dion e Leonel Messi quem são. Eles não fazem tudo certo e aguardam o resultado, eles fazem o resultado. Talvez não fosse mau nos lembrarmos deles quando a nossa vida não está numa fase boa. Eles não são extraterrestres, eles são humanos como nós. É Natal, é Natal, que cada um tenha um Natal sereno, em boa companhia, num lugar confortável e com alguma comida.
Ana Santos, professora, jornalista
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