O NOVO JINGLE BELL
Com a pandemia, vi que existem febres boas e más. Estou com a boa porque tomei vacina e estou de reação. Existem opções boas e aquelas perigosamente equivocadas em tudo, na vida. Muita gente opta por aceitar agressivamente que está certo em não tomar vacina, quando passou a vida, desde que nasceu, fazendo isso. Ah sim – houve um momento em que a má educação do presidente tinha meses de vida e ele tomou vacina contra paralisia infantil, tríplice, etc. Se ele enfiar um prego no pé, hoje, vai tomar vacina antitetânica; se um cachorro lhe der uma dentada, vai ter que tomar antirrábica. Vacinas, meus caros. Essa baboseira de ser antivacina é apenas uma opção louca, doidivanas e fútil, por ser baseada em nada além do desejo, da palavra e da pregação de pessoas que, ao invés de liderarem para cuidar, lideram para pisar nos descontentes. Muitos descontentes. Cada vez mais descontentes.
Para os puxa-sacos: Sorry, mas... Blem, Blem... Vacina... Sim! Meu sonho de consumo agora é a de gripe H3N2 porque não sou maluca de querer sofrer, morrer e ver morrer. Quero logo.
Aprendemos o poder do puxa-saquismo também. Quantas pessoas fecham os olhos e imaginam que “Terra plana precisa de uma terraplanagem” ou algo do gênero – só porque existem os falsos profetas que gritam e esbravejam contra a política enquanto se aproveitam do poder, dos jatinhos, dos passeios e juntam medalhas, medalhinhas e medalhonas. Juntam, juntam, se apegam, não dividem, não querem, não sabem, são incapazes de olhar para o lado e ver em nós, os seus pares humanos? O filé dos filhos, a mansão dos filhos, os cargos, as medalhas, as comendas, as homenagens pífias, falsas, as falácias.
Blem, blem...
Tudo se consome e o Natal parece triste quando o nosso país, quebrado, não tem dinheiro nem pra colocar arroz e feijão no saco do Papai Noel. Mas é mentira. Esse Natal vai ser feliz. De pirraça nossa. O Ano Novo vai ser melhor. De pirraça e voto que aperta as teclas da urna eletrônica que vai descer goela abaixo daqueles que “agarrados ao saco” gritam que a Amazônia não pega fogo porque é floresta úmida, enquanto fingem não ver os milhares de animais mortos, o IBAMA que a justiça impede de ser fechado, os animais, as crianças e os humanos – os não filhos – todos no mesmo lugar de abandono.
Blem, Blem... É chegada a hora de renovação, de renascimento. Na ponta dos nossos dedos pirracentos, está o encontro mágico com a urna eletrônica, urna eletrônica, urna eletrônica – um bem do Brasil que eles não destruíram.
Eu e a minha febre feliz estamos otimistas. Nada é pior do que o que estamos vivendo, nada é pior do que ver a democracia ameaçada. Jingle bell – Isso é o que eu quero: Votar, vacinada, na terra redonda, na urna eletrônica, sem milícia nenhuma, sem grossura, sem palavrão e patadas, sem machista, sem desigualdade, sem diferenças, sem fome e sem desemprego. Um País que ainda não nasceu, que o Brasil ainda não descobriu, mas que pode estar nascendo porque é cansativo ver discursos cobertos de mentiras, falsidades e dribles nos fatos reais, além das ameaças. Vá fazer bullying na mãe. Cansei desse pessoal casca grossa.
Blem, blem. Chega de tentar polarizar a minha mente. Não sou inimiga de ninguém.
Você que é brasileiro e olha o céu, o calor, o sol e esse verão de meu Deus: não te ocorre que os senhores políticos poderiam ter votado o financiamento de energia solar com juro bem baixinho pra gente colocar nas casas e nos prédios todos e baratear nossa conta ou mesmo revender, ao invés de estarmos pagando à custa de pelanca, osso e lixo, um orçamento secreto justificado? Mas se é secreto, como pode ser justificado? E quem é que paga o orçamento secreto da amante do marido, mesmo se ele justificar que é muito importante pra ele ter essa despesa? Cansei de financiar “amantes”.
Blem, blem. Olho vivo e dedo na urna eletrônica. Escolha certo e não obedeça a ninguém que não seja você mesmo. Porque o presente de Natal que é o nosso futuro, somos nós que fazemos. Todo dia um pouquinho.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
"É Natal"
Natal, onde tudo é aumentado. Se temos muito, parece muito mais. Se não temos, parece ainda mais vazio o bolso. O momento anual, que no nosso imaginário é mais família, de comida na mesa, de prendas, de abundância, de felicidade, de alegria, de fantasia, de reuniões de amigos. A vida sempre parece tão perfeita no Natal. Nosso coração parece ficar um pouco mais bobo e um pouco mais condescendente. Mais melancólico.
Quando temos dinheiro, compramos prendas para toda a gente, queremos fazer felizes as pessoas com coisas, e achamos que somos felizes com coisas. Compramos todos os alimentos que uma ideal Ceia de Natal deve ter, sem pensar em despesas. Ter uma família numerosa à mesa parece significar que somos melhores pessoas.
Os anos vão passando e o Natal vai variando. A época em que tudo é belo. Quando o Pai Natal existe. A época onde tens dinheiro e muitas pessoas ao teu redor. A época em estás saudável e pleno de energia. A época em que não tens dinheiro. Em que não tens família perto. Ou não tens família. Ou não tens futuro. Ou não tens saúde. Ou está muito frio. Ou muito calor. O céu sempre estará estrelado. Uma árvore de Natal sempre mudará a energia da casa. Os sonhos e a esperança sempre estarão nos olhos das crianças.
Um dia um homem contou-me que, quando era jovem, sua família era muito pobre e passava muita fome. Nunca jantavam. Sua mãe, na hora de jantar, ficava com eles folheando revistas que encontravam na rua, apreciando outras vidas, comidas, imaginando o sabor, imaginando que estavam a comê-las. E assim era a noite de 24 de dezembro.
Conheci outro homem, de uma família muito rica. Era muito bondoso, convidava as crianças e jovens para sua casa, os seus amigos. Estava sempre mais preocupado com os outros do que consigo. Não sabia cozinhar, mas isso não tinha qualquer problema, a casa tinha empregados para tudo. Voltei a encontrá-lo passado uns anos. Nem o reconheci. A mesma bondade, mas um homem triste, esguio, só. Sua família ficou sem nada quando os pais morreram e ele anda, desde então, à deriva. Não consegue encontrar um trabalho onde se sinta feliz. Nem quando manda, nem quando é mandado. Vive só. Alimenta-se há anos, ao almoço e ao jantar, como se tivesse ido acampar um final de semana com os amigos: pão de forma, queijo ou manteiga, leite. Quando tem frio, leite quente ou papas de algum cereal. Na noite de Natal diz que come um pouco melhor. Quando alguém o quer ajudar, desaparece. Não aprendeu a aprender, não aprendeu a aceitar, não aprendeu a cair e a levantar.
As melhores prendas de Natal na verdade são muito simples: respirar, andar, falar, ver, ouvir, sentir, amar, respeitar, pensar, imaginar.
O Natal é o maravilhoso imaginário vivido dentro de nós, plantado pelos que nos amaram e amam. Mantenha o Natal no seu coração sempre!
Feliz Natal!
Ana Santos, professora, jornalista
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