“MORTE NA INTERNET TAMBÉM É MORTE, TAMBÉM É CRIME” Bug Sociedade
Tenho falado repetidas vezes nas redes que um segmento da população tem tentado enveredar a nossa comunicação por descaminhos. Mais uma vez: ao criarem novos nomes, todos em inglês como manda o “marketing”, as pessoas não acham mais tão grave ser portador de “Fake News” ou atestar “pós verdades” – pior seria ser chamado de mentiroso, “cascateiro”. Mas é tudo a mesma coisa, são palavras sinônimas!
Vender – seja lá o que for - até mentiras e fofocas sórdidas – virou sinônimo de vender, de monetizar. Outra palavrinha “estrangeirada”. Só que dessa vez, o ataque foi tão baixo, tão hostil que a menina não suportou a pressão de milhares de pessoas que se acharam no direito de “invadirem sua vida” para machucar – e como em todos os casos que envolvem o gênero feminino – darem golpes baixos e covardes. Assim, por causa de mentiras criminosas, a Jéssica nos deixou.
Quem está emocionalmente por trás de um suicídio é criminoso? Eu não sei responder, mas tenho até medo de pensar num ultraje social e pessoal tão profundo assim.
Triste coincidência? Olhem a campanha que políticos de ultra direita ousam sustentar contra a moral, apenas porque o gênero feminino precisa fazer xixi em algum lugar, que não pode ser no meio do shopping ou aeroporto, não pode ser na latinha, nem em cima deles – que, infelizmente, vivem cobertos por leões de chácara. O fato é que de palavra em palavra, de defesa de moral suspeita em defesa de moral de moral suspeita, se chega ao Recife nas vésperas do Natal, onde um “mastodonte ignorante” vê uma pessoa do gênero feminino sair do banheiro feminino. Percebem a repetição? Feminino, no sentido de ser igualmente, compativelmente do mesmo gênero. Se dirige a ela, perguntando se era homem ou mulher e ouviu o que eu responderia:
- Isso te interessa?
Resultado: o macho ignorante bateu no rosto da menina. Mas a mulher trans que ele via na sua estranha e maniqueísta estupidez, era uma mulher cis que tinha ido ao banheiro como qualquer pessoa do gênero feminino tem direito. E eu vou repetir para ficar bem claro: qualquer pessoa do gênero feminino, quer dizer as cis e as trans! Isso porque afinal é apenas um xixi. Se os homens pensam em suruba o tempo inteiro – até no banheiro do shopping(!) – cruz credo, os perigosos são eles, não nós!
Percebam que as vítimas são sempre do gênero feminino.
Precisamos de uma lei tão forte quanto a Maria da Penha para normatizar as mentiras na internet e os MENTIROSOS precisam ir para a cadeia, além de pagarem multas altas para aprenderem a usar a língua associada ao respeito – para os tarados, sinto informar que língua, aqui, tem o sentido do que se faz com ela para falar mentiras, trair, menosprezar, humilhar, ofender, atacar, assediar. Já está na hora de darmos um basta nisso porque ou somos violentadas pelo ato físico criminoso do estupro, ou o somos por palavras abusivas, venenosas, vergonhosas, desrespeitadoras, imorais – e a internet não pode virar esse lixo lotado de bandidos sorridentes e monetizados – com a aquiescência das redes sociais, que amam vender - até escândalos.
E antes de qualquer discordância, conservador é uma coisa que deveria ser bem diferente de bandido, de agressor. Se para você leitor, as coisas se confundem, escolha: se trate – urgente! – ou as mulheres vão pressionar até que esse tipo de pessoa vá para a cadeia e pague multas altíssimas por suas calúnias e difamações – lembraram? Isso também é crime.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Imperativo Civilizatório” Bug Sociedade
Alguém decidiu compartilhar várias Fake News afirmando que Jessica Canedo, uma jovem de 22 anos, estaria tendo um caso com o humorista Whindersson Nunes. Notícia falsa, que ambos confirmaram como falsa. Mas as pessoas não quiseram saber. Jessica, que estava depressiva, se suicidou. O Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, Silvio Almeida, fez a seguinte declaração: “Em menos de um mês este é o segundo caso de suicídio de pessoa jovem - e que guarda relação com a propagação de mentiras e de ódio em redes sociais - de que tenho notícia. Tragédias como esta envolve questões de saúde mental, sem dúvida, mas também, e talvez em maior proporção, questões de natureza política. A irresponsabilidade das empresas que regem as redes sociais diante de conteúdos que outros irresponsáveis e mesmo criminosos (alguns envolvidos na politica institucional) nela propagam tem destruído famílias e impossibilitado uma vida social minimamente saudável.
Por isso, volto ao ponto: a regulação das redes sociais torna-se um imperativo civilizatório, sem o qual não há falar-se em democracia ou mesmo em dignidade. O resto é aposta no caos, na morte e na monetização do sofrimento.”
A compra de visualizações nas redes sociais determina em quem a “massa” humana acredita, quem ama, com quem aprende. Se você ou o seu projeto tem poucas visualizações, essa “massa” humana das redes sociais é orientada para não dar valor ao que você diz ou faz. Todos são orientados para pagar – visualizações, seguidores, como se pagassem e comprassem respeito, escuta, valor. Está tudo errado e sabemos disso. Por isso há muito tempo que peço para que as pessoas honestas, bem formadas, com conteúdo, justas, educadas, façam parte das redes sociais – a doença só pode ser curada com pessoas de bem. Se essas pessoas de bem se afastam, as redes pioram. E os seus filhos, seus jovens alunos, seus jovens vizinhos, serão envenenados. Não adianta fugir, não adianta se sentir superior e recusar ajudar porque esse problema está caindo no colo de todos. Como um óleo fervendo dentro de uma panela. A destruição moral está acontecendo exponencialmente. Pessoas de bem precisam-se urgentemente nas redes sociais, sites, reels, youtube, etc. Mas preparem-se, porque vossos vídeos e postagens serão vigiados, criticados e punidos pelas redes, por detalhes. Detalhes injustos e injustificados. Há que seguir mesmo assim. Enquanto isso, permitir a destruição da imagem moral de uma mulher de 22 anos, como Jessica Canedo – e tantas outras - mostrar acidentes, mortes, abusos, etc, é permitido. Venha, mas preste atenção, porque as regras não são regras, são armadilhas. Mas é por ser um pantanal, que precisam surgir e permanecer vivas e ativas as pessoas que pensam no bem dos outros, que apresentam conteúdos para melhorar a civilização, as pessoas, o dia a dia de cada um.
É imperativo que quem deseja um mundo melhor faça mais do que o que faz. Não é mais suficiente. E as preocupações precisam ser coletivas e não individuais. Quem cuida apenas de si e dos seus não está entendendo que isso não funciona mais assim – se é que alguma vez funcionou assim. Tudo o que as últimas gerações usufruíram, parecia eterno e estável, mas não era e não é. Foi tudo conquistado à custa de muita dor, sofrimento, desprezo, morte. Está na hora de entrarmos em jogo. Para alguns, pela primeira vez, para outros, hora de entrar em jogo de novo.
Ana Santos, professora, jornalista
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