MEDO É INCERTEZA
Há muitos anos atrás, ainda criança, li num livro de Monteiro Lobato: O medo vem da incerteza. Eu entendia o que era medo, entendia o que era incerteza, mas essas duas imagens não pareciam como coisas consequentes. Hoje em dia, basta olhar ao redor pra ver que estamos em pânico porque a rapidez do mundo, a chuva de informação, não nos permite parar e ajuizar os fatos para decidir qual é o nosso melhor caminho.
Temos uma guerra atroz e covarde, sabendo que lá no lugar da guerra, ninguém pode sequer nomear o conflito pelo nome guerra. Não pode usar o nome ataque para designar uma chuva de bombas e mortos e corpos feridos. Não pode cobrar essa conta de Putin. Por que? Porque ele disse que se a gente falasse, iam acontecer consequências terríveis! Mas quais? Não importa porque basta reafirmar que serão terríveis! Ou seja: mais um “não sei avaliar” na nossa vida.
O desemprego vai aumentar, a inflação, os combustíveis nas alturas, um País sem planejamento nenhum, de nada, nossa confiança no pé, crise ambiental, estados alagados sem ninguém propor nada para o futuro nesse clima extremo, a ameaça de ver a Amazônia invadida e nossos indígenas serem dizimados, medo de morrer de chuva, de enchente, de tiro, de bandido, de assalto, de terrorista, de terceira guerra mundial...
Mas nós poderíamos ter muito menos medo, repararam? Se começássemos a forçar os políticos a nos mostrarem planos e dando um limite de tempo para que o plano dê certo. Isso me dá segurança no futuro, na recuperação da educação, de novas propostas que envolvam educação na segurança pública, uma linha mais clara para atuação da polícia e da justiça, um plano econômico coerente e não essa maluquice que vivemos no Brasil. Mas isso daria medo aos políticos. Nós estarmos atentos neles, com os olhos fixos e nunca mais votar em gente que não faz nada.
O medo vem da incerteza. Mas pensar que a gente pode sair de casa e ser atropelada não pode te impedir de sair porque aí você já adoeceu – de medo. O nosso medo vem da insensatez dos políticos – aqui e no mundo inteiro. Não veem Putin? Ele – não a Rússia – invadiu um país, agrediu o mundo com bombas e sangue e corpos e feridos e crianças chorando e grávidas mortas. Ele, ele, ele... ELE! Ele replantou a incerteza no mundo. Incerteza de morrer em pedaços, de ir pra fila do pão, da comida, de não ter dinheiro. Minha mãe viveu isso. Mas eu? Eu não tinha me programado pra esse medo irracional...
...Os meninos que não foram ensinados a ganhar e a perder e que ficam com tanto medo que desistem antes mesmo de tentarem conseguir...
Eu vou dar um conselho só: Quando o medo se embaraçar nas suas pernas, quando você sentir a barriga e o coração apertados, se pergunte qual é próxima coisa que você tem que fazer. Ir pra aula? Não pense em nada a não ser em andar. Porque esse é o seu tempo presente, o seu momento. Não pense se pode chover porque é futuro; não pense que pode cair, que pode perder, vencer, morrer. Tudo isso é futuro e todo futuro é incerto. O seu presente é dar um passo após o outro. Parece muito difícil viver, às vezes. Mas porque vivemos projetando futuros longínquos demais. O Putin sempre foi assim mau e doido, mas todo mundo projetava que ele era doido, mas nem tanto. Deu no deu porque ele é mesmo vaidoso ao ponto de ser cego e agora ele quer ser imperador. O Lelé e o da Cuca juntos!
Por isso, viva o presente, se resolva a partir do próximo passo. Morda cada maçã como se fosse a melhor coisa do mundo. Seja você mesmo, mesmo quando nem você acredita que fez certo porque foi o seu agora, o seu momento.
Qual é o seu “próximo passo mais próximo” do tempo de agora? Viva a vida!
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Medo” Bug Sociedade
Medo de morrer. Temos todos esse medo mesmo sabendo que vai acontecer, que não tem como fugir. Medo de sofrer, mesmo sabendo que existe uma enorme probabilidade de, no mínimo, termos momentos de sofrimento ao longo da vida. Medo de ter uma vida de dificuldades, de pobreza, de abandono, e por isso, muitas vezes fazendo coisas erradas, tentando que isso não aconteça.
Medo dos outros, ?Medo de não ser capaz, medo de passar vergonha, de humilhação, medo do desconhecido. Medos aprendidos, medos universais, medos individuais. Medos pequenos, medos gigantes, medos suportáveis, medos asfixiantes.
A vida é um caminho de medos, uma travessia de embates, de confrontos, de desafios? Talvez os mais difíceis, sejam os mais silenciosos. Será? Dizem que o medo nos serve de aviso, de companheiro. Não sei. Sei que fugimos dele em crianças, fugimos dele como adolescentes e muitos, quando adultos, continuamos a fugir. Porque fugimos se é bom? E porque é bom? Porque de cada vez que fugimos, eles aumentam de tamanho, de força, de escuridão. Observar como os mais velhos lidam com seus medos e perceber que cada um faz da sua maneira. Não são coisas para imitar. Observar como temos muita moral com os medos dos outros e nenhuma com os nossos. Perceber que as pessoas com mais sucesso por vezes têm mais medos e bizarros do que as pessoas comuns. Que uns voam leves, sem medos e outros rastejam, carregados deles. Que podemos mudar tudo isso a todo o momento pois não é nenhum contrato vitalício.
Tantas pessoas asfixiam suas vidas pelo medo sem nem saberem. Presas achando-se livres, condicionadas, achando-se dominadoras. Um dia a engrenagem emperra e chega a hora de ver, chega a hora de enfrentar e resolver. Alguns não serão capazes, alguns sim. Alguns sofrerão muito antes de o conseguir, outros farão sofrer muitos e talvez nunca sejam capazes de conseguir.
Putin não tem medos? Ou por ter muitos medos é que destrói desta forma? Rafael Nadal não tem medo? Martina Navratilova diz que as rotinas de jogo de Nadal, com todos aqueles gestos estranhos, são uma forma de ele estar sempre no presente. De se desapegar rapidamente do passado, da jogada que terminou, do erro que cometeu. As rotinas antes de cada saque ou de cada recepção zeram suas preocupações.
Que medos tem Alexander Zverev, tenista de 1,98 m? Acusado de agredir uma ex-namorada, “agride” a cadeira do árbitro no final de um jogo. Os medos denunciam tanta coisa! Uma armadilha que tentamos esconder mas que acaba um dia por surgir do nada.
Ana Santos, professora, jornalista
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