“JULHO NA CAMPANHA ELEITORAL” BUG SOCIEDADE
O primeiro final de semana de julho teve a marca da democracia de rua, na rua. De todos os que vieram, apenas um candidato não teve coragem, ousadia ou talvez fé na sua popularidade e não seguiu caminhando com o povo.
A primeira questão é exatamente essa: É preciso gostar – por palavras e ações - de estar no meio das pessoas. Quais candidatos parecem se sentir bem, felizes, no meio do povão? Quais deles têm uma lista de coisas feitas para o nosso bem enquanto população, se estiveram alguma vez no poder? Como eles reagem diante de problemas graves? E o principal: quais deles já nos disseram o que pretendem fazer, se forem eleitos? Tipo, 5 ações para a nossa quase desmaiada educação, 5 pra saúde, 5 para a economia e assim por diante. Nada que a gente não seja capaz de entender e, portanto, embora a explicação possa ser complexa, a ação precisa ser compreensível.
A nossa lista “2 de julho” míngua na hora, se selecionarmos qualidades individuais e planejamento – esquecendo nossa torcida ou simpatia.
O Brasil ganhou exatamente o quê nos últimos 3 anos e meio? Você se lembra quanto custava 1 kg de arroz antes e agora? Lembra do preço da gasolina? Da luz? Lembra como foi o desempenho do Brasil na pandemia? Essa, acho que todo mundo deve saber de cabeça: quase 700 mil mortos, fora os que estão com sequelas. E a inflação? Voltou? E o emprego? Com carteira assinada ou você aceita qualquer emprego, atualmente? E os assaltos? E as queimadas na Amazônia? E o assassinato do gênero feminino? E a entrega da Amazônia à bandidos, piratas, invasores, milicianos? E a morte de heróis como Dom e Bruno? E o massacre dos nossos indígenas? Armas de montão e educação de montinho? Vacina tirada à fórceps pela CPI da vacina, lembram? Uma pessoa pra empatar cada investigação que precisava ser feita e nada andou. Cultura jogada no lixo. Leitura, nem se fala. Alunos fugindo da aula. Merenda fraca que nem o ensino, na escola. Nossa, tudo isso de ruim aconteceu? Pois foi. E só passaram 3 anos e meio.
Ponha tudo isso na sua mente. Você quer repetir alguma coisa daí?
Ok, você não quer (ainda bem!). Agora vamos começar a procurar quem, andando no meio da gente, lá na Lapinha, tem um plano pra nos tirar da lama. Isso é democracia. Nem ligue pra quem fala “fulano comunista”, partido vermelho e não faz nada que preste – a gente está na rua à procura de quem tem um plano de trabalho e quer trabalhar. Viram que a polarização diminui? Viram que ela é uma construção pra nos colocar uns contra os outros?
Democracia é razão e análise, não é torcida enlouquecida. Nesse 2 de julho, a Bahia fez história. Recebeu todo mundo. Tratou todos com respeito. Se misturou com quem quis se misturar. Ouviu e falou. Subiu e desceu as ladeiras e movimentou as almas dos nossos heróis verdadeiros – todos os que não são cultuados, com essa mania que os políticos têm de fabricarem heróis que ninguém reconhece. Estavam lá os espíritos e os descendentes dos indígenas, dos negros cativos e das mulheres – ainda esperando que algo de diferente aconteça pra nos libertar. Mas o 2 de julho aponta que ninguém espera pra votar e, sobretudo, que todos sabem muito bem em quem não devem votar. Sem simpatia. Apenas porque democracia é razão e análise.
Dia 2 de julho o povão estava onde é o seu lugar – na rua. No dia 2 de outubro, de pé no chão de novo, vamos ocupar a rua e dizermos quem faz essa democracia funcionar, afinal. Com fé e força como os bisavós, os avós, os pais, nós e nossos filhos.
Democracia, fé e força, com razão e análise. Nossa cara, a cara da Bahia. A resposta que o Brasil tem que dar, afinal.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Outubro está perto” Bug Sociedade
Ler tudo, pesquisar tudo, tentar saber bem o assunto sobre o qual se escreve, se fala. Assistir a todos os telejornais, a todos os programas especializados, perguntar todas as perguntas aos especialistas. Mesmo assim sempre se sentir em falta. Além disso, o tempo foge, fica escasso. Perde-se tempo para tratar da casa, da saúde, dos filhos, dos negócios, do futuro. Chega um momento em que é necessário ser seletivo, saber onde olhar, saber escolher, onde estar, com quem estar, quem ouvir, quem confiar. Para não se esvaziar, para não se questionar, para que tudo faça sentido, para que realmente seja possível continuar a fazer o bem às pessoas, ao mundo, aos seus, a si. Não adianta tentar ler “tudo”. Isso se torna uma forma de desperdiçar o tempo. Sempre existiu e sempre existirá muita informação e muita verdade que nos é ocultada. Nós só vemos a superfície, quando lemos “tudo”. Portanto, ver, ler, em lugares de confiança e o essencial talvez seja ajuizado. Como quando vamos a uma exposição e olhamos uma pintura. Podemos vê-la bem perto para tentar entender alguns detalhes técnicos, mas é a distância sobre ela que nos dá a informação “completa” da mensagem, da emoção. Pode ser interessante essa forma de olhar e apreciar a arte em relação às notícias e ao que se passa no mundo.
Procurar olhar de perto, bem de perto, vivendo o momento, em relação à nossa vida e à vida dos nossos, aprender a olhar o essencial à distância, do resto. Saber o suficiente para reconhecermos onde pisamos, para onde caminhamos, prever e preparar o futuro. Para isso, não adianta ficar aprofundando muito situações que se alteram diariamente no mundo, ao segundo, e sobre as quais não temos qualquer controle. Como refere o teólogo, Reinhold Niebuhr, “que tenhamos coragem para mudar as coisas que podem ser mudadas, serenidade para aceitar as coisas que não podem ser mudadas e sabedoria para distinguir umas das outras.” Ler tudo a toda a hora não salvará ninguém na Ucrânia, não vai impedir a morte de mais uma pessoa negra nos Estados Unidos, não vai impedir ataques em centros comerciais em países que eram puros de violência, como a Dinamarca. Ficar triste, indignado, fazer a nossa parte para tentar impedir, mas ter a noção da nossa pequenez em algumas coisas e onde somos importantes, nós e as nossas ações.
Saber o caráter dos políticos, saber o que fazem de errado, o nível de corrupção que aceitam envolver-se, parece também sazonal. A nossa memória precisa ser boa, precisa nos valer, para não esquecermos detalhes e ações que nos prejudicaram como povo, como profissionais, como pessoas, no passado. No meu tempo de professora lembro bem da época em que Maria de Lurdes Rodrigues foi a Ministra da Educação em Portugal e nunca mais esquecerei. Os anos passam, os danos ficam. É importante que nunca esqueçamos quem nos trata mal, quem prejudicou nossa profissão, nosso país, nosso povo, para não corrermos o perigo de um dia estar a bater palmas, a votar ou a defender essas pessoas e suas ações. Confesso que atualmente, é necessária uma memória e uma ginástica mental de grande valor para conseguirmos encontrar os caminhos mais estáveis, seguros e confiáveis. As misturas de caráter, de passado, de dignidade, de reputação, de idoneidade, são explosivas ou pelo menos muito confusas. Possamos todos ter a capacidade de tomar as melhores decisões, conseguindo olhar a pintura de longe, longe o suficiente para ver tudo, até o futuro. A uma distância que seja adequada, para nem perder informações por ficar longe demais, nem ficar focado em detalhes menores, por estarmos perto de mais.
Ana Santos, professora, jornalista
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