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“IGNORÂNCIA PARALÍMPICA” e “Esporte podia educar os políticos” Bug Sociedade


Lygia Sampaio

“IGNORÂNCIA PARALÍMPICA” Bug Sociedade

Enquanto o Brasil está em 4º lugar na Paralimpíada, não consigo deixar de pensar em motivos que justifiquem termos tantas pessoas com deficiência, aqui.

Talvez – TALVEZ – esse recorde nasça da nossa ignorância. Parece ser tão natural o Sr candidato a cargo eletivo vir à público falar que tomar vacina não precisa ser obrigatório e que pelo buraquinho da agulha da injeção: o Governo, os ”espiões russos ou chineses ou cubanos – todos de esquerda – implantam chips nas pessoas”. Ou que vacina dá AIDS ou qualquer outra estupidez que mata, mutila, aleija.

Nossos para-atletas talvez fossem em menor número se houvesse pré-natal para todas as mulheres no Brasil inteiro e nenhum bebê tivesse eclâmpsia; se a mulher tivesse autonomia para abortar com menos luta, um embrião com má-formação ou se as mulheres não fossem tão violentamente espancadas, esfaqueadas, violentadas por homens que fazem questão de dizerem, de vomitarem que quem manda na casa são eles.

Honestamente, não acredito que o Brasil ampare mais o atleta paralímpico do que o olímpico; apenas e infelizmente, brasileiros com limitações vão continuar nascendo porque por mais que se faça, nosso sistema de saúde pública não consegue alcançar a ignorância.

Da mesma forma, nós – os sem problemas físicos – insistimos na nossa própria ignorância e estacionamos na frente das poucas rampas que existem na cidade do Salvador. Ninguém discute como uma cidade que quer entrar na rota do turismo sério e não apenas fazer parte do turismo cachaceiro, não coloca mais acessos para pessoas com limitações na cidade inteira, assim como também ninguém parece ligar quando os políticos fazem de conta que o assunto ignorância não existe. Ao contrário, assumem-se ignorantes e não parecem interessados em sanar suas deficiências de conhecimento, insistindo em não escrever leis que atinjam as pessoas que não se vacinam, não fazem pré-natal, não são tocadas pela informação básica – substituindo tudo isso por: “eu sou amigo do presidente tal, Jesus Me ama mais do que todos, com Jesus chegaremos lá”, etc.

Eu amo os atletas paralímpicos, mas adoraria que os bebês com microcefalia não tivessem nascido pela falta de prevenção contra o mosquito Aedes Aegypt, no governo Temer, por exemplo. Essas crianças estarão nas paralimpíadas futuras porque nós não somos capazes de evitar a ignorância, o mosquito, o vírus, a pressão alta das mães, os acidentes de carro com jovens motoristas que bebem demais, as mulheres violentamente atacadas por seus namorados.

Trabalho educacional, apoio fisioterápico, empático, interessado – tudo isso doente também. Os políticos desfilando com seus dentes comprados, cegos diante do ridículo de tentarem disfarçar com dentes novos, comportamentos tão antigos. Se autodenominam raposas, sem verem que o que as raposas fazem é se apropriarem dos ovos dos outros animais.

Logo ali, no futuro, vamos torcer por mais meninos maravilhosos, filhos da ignorância de governantes. Pela rua, vamos continuar fingindo não ver motoristas parando em frente à rampa de deficientes, em calçadas que mal dão uma pessoa em pé – que dirá numa cadeira de rodas – e isso vai parecer normal, mas não é. Ignorância na política não é uma coisa normal e não pode ser aceita. Na hora de votar, nosso trabalho é apartar as “dentadurinhas” brilhantes, interesseiras e vazias, trocando-as por quem trabalha pelo coletivo que somos.

Estou em busca dessa pessoa, e você?

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


“Esporte podia educar os políticos” Bug Sociedade

A campanha política está acontecendo, por aqui, nos Estados Unidos, um pouco por todo o mundo e a todo o instante. Bastante cobertura, como é comum. Como sempre, intimidação de jornalistas, lavagem de roupa suja, esquecimento dos próprios erros, mudanças de partido, de ideologia, de opinião – se for necessário – para conseguir ganhar, obter um lugar e o poder que isso arrasta. Ao mesmo tempo a Paralímpiada com muito menos cobertura televisiva do que devia, tendo uma comitiva impressionante em número e em qualidade. O Brasil devia se orgulhar mais e divulgar mais os feitos dos seus para-atletas. Aproveitar para estimular outras pessoas, outros futuros campeões. E ouvi-los, saber das suas histórias de vida, dos momentos em que decidiram seguir pela construção, como conseguiram não desistir, nem procurar caminhos envenenados. Aprender com eles, com seu trabalho, sua capacidade de esquecer os limites e focar nas possibilidades. Aprender com seu respeito pelos adversários – que não são inimigos.  

O U.S. Open, de tênis, ao rubro como sempre. Transformou-se num espetáculo, mais do que uma simples competição, bem ao estilo americano. Os mais conceituados sendo eliminados – Carlos Alcaraz e Novak Djokovic, aparentemente porque o piso está muito mais rápido, mas também pode ser porque existem cada vez mais atletas chegando a níveis muito elevados de performance. Atualmente quem faz trabalho sério, sabe o que deve fazer. Já não existem amadores. Todos já sabem que a seriedade, o esforço, a verdade fazem parte do sucesso. Todos tentando ter os melhores resultados possíveis, dando o seu máximo, depois de uma preparação cuidada. Quando perdem, reconhecem o melhor valor do outro atleta, reagem com simpatia e educação e depois, na conferência de imprensa, mesmo bastante doloridos pela derrota e cansados, são capazes de falar com respeito do adversário, falar a verdade sobre seu desempenho e assumir que precisam aceitar a derrota, precisam perceber o que esteve mal para poderem melhorar e aprender com essa experiência. Não falam mal dos adversários, nem dos seus treinadores, nem dos campos, das bolas, das raquetes, do tempo. São civilizados, respeitam e cuidam do ambiente em que circulam. Sabem que o respeito que têm pelo seu esporte, cria um bom ambiente, faz aumentar o público, que faz aumentar os patrocinadores. Todos felizes com relações sociais saudáveis.

Eu gostava que os políticos aprendessem com o esporte, tudo isso que o esporte ensina, tudo o que as adversidades da vida dos para-atletas e de todas as pessoas com deficiências tiveram de aprender e enfrentar, com verdade. A enfrentar respeitosamente os adversários – eles não são inimigos. A saber lidar com as derrotas e vitórias. A saber lidar com os momentos difíceis, com os problemas, com nobreza. A assumir os erros e mostrar publicamente como tentam a melhoria de seu caminho e comportamento e a resolução desses erros. Sem tentar esconder, enganar, nem mentir porque a política também tem VAR – o VAR da vida - tem imagens gravadas, tem o efeito no nosso prato de comida, nas nossas condições de saúde, de habitação, de circulação na via pública, na educação, na criminalidade. Não adianta esconderem ou falsearem a verdade porque o povo vê e sente na pele.

Os atletas acompanham, defendem, apoiam e participam em movimentos da sociedade, que pensam no bem das comunidades – a luta contra o racismo e a luta pela diversidade, de Frances Tiafoe do tênis, por exemplo, mas existem muitos e muitas e são cada vez mais. Envolvem-se com verdade, não são atos para obterem outros fins. Os atletas (e os artistas) mostram como transformar as fraquezas em forças, pelo trabalho, os para-atletas mostram como se pode tudo, apesar das enormes limitações.

Os políticos insistem em escolher atalhos, em utilizar as qualidades para fins de satisfação pessoal,  em esconderem quem verdadeiramente são, em ultrapassar regras para obter dividendos, em fazer menos para obter mais, em manipular o ambiente, as pessoas, o sistema. Têm tudo e não sabem dar valor nem aproveitar esse tudo para realmente fazer o que devem fazer – cuidar da população, independentemente da classe, casta, gênero, etc.

Ana Santos, professora, jornalista

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