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“IA E AS AULAS DE ÉTICA” Bug Sociedade


"The Open Door", Fotografia de Constance Talbot (1850)

“IA E AS AULAS DE ÉTICA” Bug Sociedade

Como falar de inteligência artificial sem falar de ética? Afinal, se nem a nossa inteligência sabe o que fazer com a ética da postura profissional de tudo o que realmente representa a imagem de corporações como a dos planos de saúde, um certo tipo de políticos, grandes agricultores, construtores, industriais e empresários? Exploração, situação análoga à escravidão, omissão, corporativismo são desafios atuais, pretéritos e futuros. Nossos desafios.

A nossa “IN” – inteligência natural – já perdeu a conta das vezes em que fingiu olhar as horas pra não ter que encarar o pobre pedindo um dinheiro ou comida ou atenção. Vamos ensinar exatamente o quê para os “funcionários IA”? A deixar pessoas doentes esperando inutilmente na fila do posto de saúde, quando a equipe sabe que o médico não vem? Que não tem aquele medicamento? Como vamos justificar dar o mesmo tratamento – grades – para a entrada de escolas, hospitais e presídios? Como vamos justificar a incompetência absoluta dos deputados e senadores em resolver questões legais de décadas? Casamento LGBT, reforma tributária e administrativa, aborto, descriminalização da maconha, direitos trabalhistas, educação e reeducação de estudantes para as novas demandas do mundo, salário mínimo mundial, meio ambiente, aquecimento, ou melhor, ebulição global, planos de retirada de população de risco em momento de crise climática, novas formas de construção, financiamento de telhas solares, troca dos carros particulares por Ubers conduzidos por IA, transporte feito por IA, arquitetura, direito, exames médicos de rotina – todos feitos através da IA...

Em quanto tempo vamos dividir o nosso espaço, a nossa vida com IA? Já estamos dividindo. Por agora, parece lúdico ficar de papo no chat GPT, mas quem vai decidir se a IA pode matar humanos numa batida policial? Numa guerra? Haverá uma ética para a IA? Se quem a programa tem preconceitos, o que acontecerá se ela se posicionar contra as mulheres? Contra os pobres? Enquanto estamos no chat GPT parece tudo lindo, mas numa pandemia, quem vai morrer primeiro, se a coisa apertar?

Vamos, como sempre, agir sem pensar, sem prever? Já perceberam que a IA está captando o melhor de nós, da nossa produção intelectual e as crianças pobres nem acesso ao idioma conseguem ter porque pouca gente fluente fala com elas? As ensina a dominar emoções através da expressão de sensações e mal estares, em palavras? Que fugimos dos olhos que nos olham e que aqui em Salvador chegamos ao ponto de reclamar do meio ambiente sem sermos capazes de colocar as latinhas em lugares separados para serem catadas sem obrigar ninguém a rasgar o nosso lixo no meio da calçada?

Eu não sei vocês, mas eu vivo preocupada com meio ambiente, essa forma mundial de economia e IA. Porque estamos preguiçosos e começamos a delegar tudo, a comprar todo tipo de serviços profissionais. E ter 5 anos de profissão virou fato indiscutível de currículo. Meu Deus, eu tenho 40 anos de profissão e vejo o que os novos nem pensam, o que o marketing não viu quando achou que nichos eram uma boa resposta para o algoritmo. Será que a IA é que vai reafirmar que, como nascemos para a troca de experiências através da linguagem verbal, para a formação de grupos, é a diversificação de temas que aumenta o nosso vocabulário, que nos faz pensar em outras escalas, sair da caixinha e criar? Que se a gente medicar todos as pessoas e sensações diferentes, o novo Einstein vai ficar improdutivo e “bolado”? E que sem isso somos apenas seres medíocres ou mesmo menos que medíocres, em busca das mesmas respostas? Quem somos? Para onde vamos? Como vamos? Sobreviveremos a nós?

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


"SER ADULTO" Bug Sociedade

O ritmo da vida tem ciclos sociais muito precisos: época de férias, início de um novo ano profissional, paragens que dividem os períodos escolares, profissionais, religiosos, políticos, sociais, durante cada ano. Parece que tudo se inicia em setembro, ou março, de acordo com o hemisfério onde se vive. Depois os meses de descanso, de reorganização, de aferição e mudança para que o novo ano seja melhor. O “melhor” pode ser mudar de casa, mudar de carro, obras na casa, avaliação médica, novos projetos profissionais, inscrições em cursos, mestrados, pós-graduações, doutorados ou doutoramentos, casamento, filhos, divórcio. Cada ano tudo parece mudar muito rápido. Mas nada muda rápido. Tudo está mudando de forma absurda e exponencial. Demais para o nosso entendimento que também não “capta” as consequências do que fazemos, seja ao nível da poluição, produção, lixo, descuido. Ao nível comportamental estamos imbatíveis: preparador físico agride jogador, torcedor mata torcedor de outro time, marido ou namorado mata quem supostamente devia amar, as séries mais assistidas nos canais de TV Cabo pelo mundo são de justiça, de crimes horrendos, de hospitais. Não entendemos quem somos, o que queremos, não entendemos a vida nem o mundo, não entendemos o mal que fazemos, não entendemos o nosso lugar e contribuição no “grupo” sociedade. Embelezamos tudo com sorrisos, nas fotos e nas conversas. Embelezamos as nossas vidas com carros únicos, casas na Polinésia – mas podem ser na ilha, na montanha, ou na praia. Mudamos o penteado, as sobrancelhas, os dentes. Queremos gritar ao mundo o que temos de diferente e que achamos que podemos acrescentar e muitas vezes isso se resume a um corpo inundado de tatuagens, uma casa cheia de coisas, uma boca cheia de palavras, um coração cheio de desejos, uma vida cheia de traições e ou contas por pagar. Uma multidão de seres humanos com preocupações mundanas, enquanto o barco onde vivem está furado, com as velas rasgadas e atravessando um temporal medonho. O tempo dos nossos desejos não bate com o tempo dos horários do nosso trabalho, nem com as paragens profissionais, nem com o tempo que demoramos a resolver problemas, a lidar com os lutos, a recuperar das tragédias ou da destruição que outros provocaram. 700 mil mortos na pandemia, só no Brasil, que valor têm hoje em dia? Que valor tem teu currículo ou teu talento se não queres entrar pela porta dos “jeitinhos”? E que valor ele tem na hora em que o temporal ou os incêndios destruírem o planeta onde vives? 95% da população, para não dizer 100%, não sabe o que fazer com o que está a acontecer à sua vida e no mundo. É que não dá para telefonar, nem convidar para um jantar, nem prometer coisas ou favores ao planeta, ou ao clima. Não é assim que as coisas se resolvem. Também não existem medicamentos, nem uma máquina especial, ou uma roupa especial, ou um curso intensivo de um final de semana para te preparar, nem com respostas. Teu avô, teu guru, o youtuber mais famoso, o humorista mais aplaudido, o ator mais bonito, não te podem ajudar por mais que se achem iluminados. A forma como se vive mudará radicalmente, mas não no futuro que a gente imagina. Em breve, muito em breve. E radicalmente. Exponencialmente. Sem tempo para adaptações, nem para escolhas. Viver com o “dinheiro” que recebemos em troca dos nossos serviços também tem seus dias contados. Nossos trabalhos têm os dias contados. E não adianta tentar entender que profissões serão as que vão permanecer para aconselhar os filhos. Não entendemos o que está a acontecer, não sabemos como proceder.

Recordo a importância de ouvir pessoas que nos podem ajudar a abrir um ponto de vista novo e necessário sobre o que está a acontecer e o que será o “futuro”. Yuval Noah Harari, Jeremy Rifkin, Manuel Maqueda, são possibilidades sérias, que insisto em colocar aqui com links para entrevistas, mas tem mais. Regras e receitas de marketing chegam a ser tristes e vergonhosas depois de os ouvir. Mas seguir cada ano, cada semana, cada dia, nos nossos rituais habituais também. Talvez seja a hora do ser humano provar que pode se tornar um ser adulto. Algo que o albatroz, a sabiá, o cachorro, etc são, sempre foram.

Ana Santos, professora, jornalista

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