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“FERNANDA É BRASIL DEMOCRÁTICO!” e “Ano Novo, como posso ajudar?” Bug Sociedade


Ana Tristany

“FERNANDA É BRASIL DEMOCRÁTICO!” Bug Sociedade

O GOLDEN GLOBE não é pouca coisa. De um - para o filme Central do Brasil – para o outro – melhor atriz de drama, em Ainda estamos aqui – passaram 25 anos, a saída de Dilma, a prisão do Lula, a entrada da ultra direita, a pandemia, 750 mil mortos, muita gente comendo lixo, a luta pela democracia, a eleição do Lula, várias tentativas frustradas de golpe de estado, o 8 de janeiro, terroristas suicidas, fakenews, pessoas fora da realidade que não acreditam que isso tudo aconteceu. Entre outras coisas.

O cinema retrata essas pessoas, conta a história delas. Aqui, para este Golden Globe, Fernanda Torres, filha de Fernanda Montenegro, sem paixões, sem manipulações, contou a história de Rubens Paiva – um dos desaparecidos pela ditadura, advinda do golpe de 1964. Não revolução – golpe de estado – reconheceu o nome? O mesmo que agora se fala como se fosse uma coisa qualquer, uma pequena mudança. Não é, nunca é uma pequena mudança. Quando se troca a palavra democracia por ditadura, há um troco – em censurados, mortos e torturados. Sempre.

Fernanda Torres, numa estruturação dramática minimalista - de grandes dores silenciosas, está mostrando isso em cena.

- Não fale com ninguém, dizia minha mãe. Se te perguntarem qualquer coisa, diga que não sabe de nada sempre. Minimalista.

Ditadura.

Quando se pode fazer um filme sobre a nossa ditadura, significa que podemos falar e se o fazemos livremente, estamos numa democracia. É idiota falar em ditador de toga, é idiota falar em ditadura do STF. Não existe ditadura de um único poder. Existe ditadura. Queriam cooptar os três poderes da República. Queriam que a única alternativa fosse chamar as forças armadas. Aquela coisa meio mondronga de: “Forças Armadas, salvem o Brasil” – se tivesse dado certo, se tivesse adeptos suficientes, o filme ia concorrer sem que a gente soubesse, e a Fernanda – só por ir lá receber o prêmio, só por ter aceitado o papel – teria que fugir daqui.

Ditadura.

Nós teríamos medo de dizer que vimos o filme porque ele seria visto como “suspeito” – ninguém queria ser suspeito. Por isso que a Polícia do Tarcísio não pode ser protegida de seus crimes. Porque a polícia tem que nos proteger, ou seja, temos que nos sentir seguros por causa da existência dela. Quem se sente seguro? Quem não sente medo da polícia? É por isso que essa Instituição precisa mudar inteira.

Por isso os generais golpistas precisam ser presos, os políticos golpistas precisam ser presos, os juízes, os policiais, a população golpista precisa ser presa. Finalmente.

O prêmio da Fernanda Torres e a prisão dos bandidos golpistas, fazem parte do mesmo legado de brasilidade que precisa ser devolvido a nós, os brasileiros. Não aquela camisa amarela ridícula, associada ao cometimento de tantos crimes que nem sei se ela conseguirá ser recuperada diante dos nossos olhos, um dia. Aquela camiseta “envenenada” de falas pró-golpe, pró-ditadura, pró-tortura, pró-assassinatos, sumiços de corpos, requintes de crueldade que nenhum militar citou – ora bolas – como se fosse pouca coisa morrer como Stuart Angel, Zuzu Angel. Em tempo: Stuart Angel, depois de torturado, teve a boca colada ao escapamento de um Jeep e foi arrastado e envenenado pela boca – já que engoliu - com o resto de suas forças - a fumaça do carro. Em tempo: Zuzu Angel era a mãe de Stuart e denunciou repetidamente o crime. Seu carro “foi atirado” de São Conrado, no Rio. Crimes sem rosto. Sem assassino.

Ditadura. Mas com crimes sem anistia, dessa vez.

Nada causa mais orgulho do que essa lágrima. O Golden Globe não é da Fernanda – é da gente. Escapamos de um novo golpe – e Fernanda apenas nos trouxe a alegria da premiação principal.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV

 

“Ano Novo, como posso ajudar?” Bug Sociedade

Ano novo, novos começos. Repetir o que estava bem? Ou tentar melhorar? Continuar o que estava bem traz muitas vezes uma acomodação que faz tudo ficar menos bem. Talvez melhorar, tentar melhorar sempre, o que já estava bem e o que não estava. É mais certo. Dar movimento à vida em nossa volta. Evitar a todo o custo o raciocínio habitual de “um dia tenho de resolver isto”, “agora não dá, faço depois”, “quero mesmo fazer ou dizer isto e vou fazer logo que possa”. Significa que mais um ano vai passar, ou dois, ou uma vida inteira, e tudo vai ficar na mesma – ficar na mesma, significa que vai ficar pior.

Focar no ovo ou na galinha? No resultado ou no prazer que se tem ao fazer? No resultado ou no processo? Na chegada ou no caminho?

Todos dizem que o mais importante é o caminho, mas este novo mundo nos empurra para pensar só no resultado.

Cristiano Ronaldo é um relógio suíço: sabe quando dormir e as horas, o que comer e os momentos, o que treinar e quando, as decisões que deve tomar e quando, o que deseja no futuro e como alcançar. O detalhe é que faz exatamente o que sabe que deve fazer. Sabe que não pode tropeçar no caminho, que deve cuidar cada passo. De fora parece meio estranho, meio robotizado, mas é uma máquina cuidada, oleada, preparando-se para o presente e para o futuro. Resultados são apenas consequências do que faz. Não passa os dias olhando seus prêmios, mas passa logo para o próximo objetivo, depois de ter conseguido algum. Não diz que vai fazer – faz. E já avisou que um dia vai ser dono de um grande clube.

É um exemplo público do esporte, mas sabemos que existem muitas pessoas assim. Uma pena que não sejam todas. Marcadas por comentários depreciativos ao longo da vida, condições de nascimento, crescimento, educação, cultura, trabalho, todas duras e difíceis, muitas pessoas não se julgam capazes de ter valor, de serem mais do que pouco, de serem sensacionais, de serem capazes de ajudar a melhorar o mundo. Muitas vivem bem do nosso lado, sejam familiares, vizinhos, colegas de trabalho, meros desconhecidos. Temos o hábito de viver apenas a nossa vida, mas em alguns momentos, um sorriso, um ânimo, uma palavra de apoio, podem ser a forma de plantarmos esperança e possibilidade em outra pessoa, tenha ela que idade tiver. Como deixar um caroço de tangerina na terra, esquecer disso, e um belo dia, passado uns meses, ver algo crescido num lugar inusitado – e lá está a tangerineira a olhar para a gente, sorrindo, esplendorosa e cheirosa. Acredito nisso com todas as minhas forças. Foi isso que muito poucas pessoas fizeram pela minha vida fora e eu, vinda de uma situação com poucas portas, plantei em mim grandes sonhos com cada palavra que ouvia, cada olhar que me engrandecia. Tento fazer o mesmo com cada pessoa que se cruza na minha vida. Deixo a semente e desejo que a “tangerineira possa crescer”.

O Bug Latino é muitas coisas, tem muitas formas de ser explicado, mas hoje quero marcar esta, a de que deixamos sementes nas pessoas em cada programa, cada entrevista, cada gravação, cada texto, poesia, fotografia, arte plástica, conto, indicação de filme, azulejo. Como Cristiano Ronaldo, mas do nosso jeito, sabemos exatamente o efeito que tem o que fazemos em cada momento, sabemos como é valioso, sabemos como pode salvar as pessoas, como pode melhorar a sua vida. Deixamos todos os dias, todos os dias, todos os dias, conteúdos como medicamentos ou alimentos – as sementes.

Só falta chegar a mais pessoas, mais pessoas, mais pessoas.

Este será o ano.

Ana Santos, professora, jornalista

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