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“EXTREMA DIREITA É ISSO?” Bug Sociedade


Fotografia de Flor Garduño

“EXTREMA DIREITA É ISSO?” Bug Sociedade

Continuo, no Brasil, perplexa com o que as pessoas acham que é ser de direita. Não tem nada a ver com o que é ser conservador – uma pessoa conservadora se designa como agressiva e acha que são palavras sinônimas? Ou com o “derramar toneladas de palavras” em cima do ouvinte porque falar bem é totalmente diferente de falar demais, de ser logorreico. E, enfim, se iludirem insanamente de que conseguem impedir o mundo e as sociedades de evoluírem.

Todos nós já vimos essas pessoas. Aqui na internet, a fúria de extrema direita nunca se cansa de inventar coisas que justificam os absurdos que vemos acontecer. Alguém é atacado – até a nossa República, até a nossa democracia – e a culpa é da vítima. A democracia atentou contra si mesma pra aparecer ou o partido ou uma ideologia ou um tal de “red donkey do cercadinho infantil” – seja lá o que isso queira dizer porque os termos são repetidos à esmo e sem respeitar as mínimas regras da lógica.

Você pode dizer: Bem, aí está a polarização. Mas o problema não está exatamente aí.

O problema reside em que a outra parte – a parte “red donkey” ou das pessoas normais – permanece sem perceber que há um território abstrato que ainda está sendo atacado e que precisa continuar a ser defendido – permanentemente defendido – a democracia.

Antigamente, a ideologia acabava por nos dirigir mais para a direita ou mais para a esquerda, mas penso que agora precisamos ser conduzidos pela sociologia e pela questão ambiental. O Brasil agora está na rota dos ciclones e as casas nem estão preparadas para resistirem à grandes chuvas. A ultra direita vai continuar querendo falar de uma pauta de costumes, enquanto a destruição do meio ambiente nos colocou como país na rota de ciclones? Temos em Brasília centenas de deputados e 81 senadores que vão continuar esperando o assunto “descriminalização da maconha” entrar na pauta do dia pra serem contra - enquanto as casas vão continuar sendo levadas pelo vento – é isso?

Talvez houvesse alguma polarização se a nossa parte do mundo fosse de ultra esquerda, mas cada vez somos menos qualquer coisa - talvez sejamos da ideologia do suspiro de alívio, quando o chato de ultra direita vai embora...

A desgraça, a desdita são motivos suficientes para o pessoal de ultra direita cair na real? Nem precisa jogar bomba no aeroporto, se você não aprender a cobrar honestidade dos deputados porque a sua casa pode sair voando e sua família pode morrer sendo ou não conservadora porque ciclone não escolhe lado, ideologia nem religião. Ele apenas venta e destrói tudo que nós queimamos, destruímos. Se é pecado ou não, o vento não julga, assim como nós não deveríamos julgar nossos semelhantes porque somos igualmente imperfeitos.

Devemos todos pensar nisso e perceber que atualmente são tantos microgrupos de pessoas que se criticam, que estamos segregados em pequenas células concordantes, sonhando com um mundo engrandecido, que aceita todos – iguais e diferentes. Mas como?

O próximo ciclone atingirá o sul do Brasil amanhã, na marca de um ciclone a cada 10 dias.

Sobrevivam sem brigar, por favor.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


“Montanhas ou fossos?” Bug Sociedade

Quando se tem a sorte de ser o primeiro a pisar um lugar da Terra “é a solidão buscada, é contemplar a Terra como se ela tivesse sido feita para ti pela primeira vez”, são palavras de Sebastián Álvaro, espanhol, criador, diretor de programas sobre a natureza, alpinista. 60 expedições em 11 anos. Inúmeros programas de televisão. Habituamo-nos a ver a vida e os objetivos como algo que perseguimos, que atingimos e logo começamos a pensar no seguinte. Os esportes mais mediáticos nos infetam com esse raciocínio. Mas talvez a vida seja bem mais do que isso. Sebastían, em poucas palavras desvenda a beleza: talvez viver seja “desejar subir a uma montanha, sonhar e planejar subir a uma montanha, escalar a montanha, chegar ao topo, descer da montanha e partilhar o que viveu com os outros para que o fascínio permaneça.” Não basta atingir o topo e depois ser bem tratado, ganhar milhões e ser alguém a quem é permitido o que não deveria ser permitido a ninguém. Ficamos a meio do nosso dever como cidadãos do mundo. Depois de atingir o topo, talvez se inicie a verdadeira responsabilidade: saber descer ao lugar onde estávamos e partilhar com os outros como se faz, avisar dos perigos, incentivar a coragem de quem também decide fazer o que nunca foi feito, ou o que é difícil.

Três ativistas ambientais - Bandi “Pai Janggut”, do Bornéu, Cécile Bibiane Ndjebet, dos Camarões, e Lélia Wanick Salgado, do Brasil – foram os vencedores da quarta edição do Prémio para a Humanidade, da Fundação Calouste Gulbenkian. Fui em busca do que cada um faz. Não consegui encontrar nada, nunca ouvi falar nestas pessoas nem nos seus projetos. Procurei muito. As coisas boas precisam ser divulgadas, as descobertas científicas também. Mas não para daqui a dez anos nós os comuns mortais ficarmos a saber. Devem ser divulgadas imediatamente. E aproveitadas imediatamente. A rapidez com que sabemos que um jogador de futebol teve um entorse serve para quê? Melhora o mundo em quê? Que montanha é essa que se está partilhando? Parece mais um fosso espiritual onde nos vamos afundando, onde vamos adormecendo, como quando éramos crianças e tínhamos o desejo de ao acordar, tudo estar perfeito, lindo e feliz, como num passe de magia.

Alguns humanos escondem de todos os outros humanos, informações úteis a todos. Vão divulgando as informações a conta gotas, de acordo com os seus interesses. Que montanha é essa? Existem humanos superiores aos outros humanos?

Clint Eastwood fez um documentário sobre o piano no Blues. Talvez este seja um dos casos exemplares de como o mundo é extraordinário quando se partilha as montanhas que cada um sobe. Cada um com seu estilo, com sua criatividade, sua magia, suas repetições, sacrifícios, trabalho. Estrelas, umas atrás das outras, tocando juntas, rindo juntas do que tocaram. Falamos de verdadeiras estrelas: Ray Charles, Dave Brubeck, Dr. John, Prof. Longhair, etc. Prof. Longhair começou por consertar pianos velhos que os ricos deitavam fora. Ray Charles cegou em criança. Ninguém ofusca ninguém, todos estimulam todos e todos nós ganhamos com isso. Assistir a este documentário é uma benção. Cada montanha somando com outra, e outra e outra e para sempre teremos a montanha Blues. Uma lição de vida.

Ana Santos, professora, jornalista

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