"Azulejo"
"Azulejos da cidade
numa parede ou num banco,
são ladrilhos da saudade
vestida de azul e branco.
Bocados da minha vida
todos vidrados de mágoa,
azulejos, despedida
dos meus olhos, rasos de água.
À flor dum azulejo, uma menina;
do outro, um cão que ladra e um pastor.
Ai, moldura pequenina,
que és a banda desenhada
nas paredes do amor.
Azulejos desbotados
por quanto viram chorar.
Azulejos tão cansados
por quantos viram passar.
Podem dizer-vos que não,
podem querer-vos maltratar:
de dentro do coração
ninguém vos pode arrancar.
À flor dum azulejo, um passarinho,
um cravo e um cavalo de brincar;
um coração com um espinho,
uma flor de azevinho
e uma cor azul luar.
À flor do azulejo, a cor do Tejo
e um barco antigo, ainda por largar.
Distância que já não vejo,
e enche Lisboa de infância,
e enche Lisboa de mar."
Ary dos Santos
Azulejos das paredes das casas da cidade do Porto, Portugal.
Fotos de João Paulo Pimentel, Professor de Cerâmica na Escola Soares dos Reis desde os anos 80. Artista.
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