“ENTRE TRUMP E O TEMPORAL, O QUE VOCÊ ESCOLHE?” Bug Sociedade
Ouvi toda sorte de comentário acerca da eleição do Trump: ele e o mundo, ele e o Brasil, ele e Israel, Ucrânia, Rússia, Coreia e China, ele e os coitados dos imigrantes, incluindo aqueles que votaram nele, sem nem pensar o quão suas vidas irão piorar. A primeira coisa meio grotesca foi essa: o problema de interpretação de texto está tão grande, que a pessoa escolhe votar no Trump porque é fã, seguidora, tiete, quando deveria votar em alguém que lhe melhorasse um pouco a vida. Lá vai a América do Norte continuar sem atendimento médico/hospitalar público e lá vão as pessoas morrer nas sarjetas, sem atendimento, sem insulina, comendo aqueles hambúrgueres zero saudáveis. E morrendo de colesterol alto, sem nem saberem o que é isso. Não que aqui seja perfeito, mas tem atendimento. Lento. Insuportavelmente lento, impacientemente lento. Mas tem.
Quem quer protestar contra os políticos do sistema e protesta se prejudicando mais ainda ao votar em políticos antissistema, mas que fazem parte do mesmo sistema... precisa de uma nova coleção de adjetivos que não sejam ofensivos, mas que lhe chamam a atenção sobre o próprio comportamento: entre o suicida e o masoquista. Mais de setecentos mil doentes foram alcançados pela COVID para morrerem porque houve uma coletânea de pessoas que quiseram votar no diferente, naquele que dizia que não tinha importância morrer, cuidar, planejar ou mesmo trabalhar.
Eu me dei ao trabalho de pesquisar um pouco sobre a fortuna do Trump e imagine: o pai dele enriqueceu pegando vários financiamentos no “minha casa, minha vida” de lá.
Nós e os outros “latinos” que vão ser banidos da América a toque de caixa e que mesmo assim vão continuar “rastejando por Trump e Musk”, precisamos aprender uma coisa: tem neve no deserto da Arábia, os furacões estão cortando o mundo ao meio e o que sobra é seca e aguaceiro sem fim.
Pense nisso. Feche os olhos e imagine a cena da neve no deserto, por exemplo. Viu como Trump diminuiu de tamanho? É porque ele e o Musk posam de Deus na foto, mas são insignificantes diante da destruição que o mundo ocidental realizou no meio ambiente – com consequências inimagináveis. A tormenta terrível na Espanha – DANA – a maior da história – fomos testemunhas também. Trump e Musk, com todos os bilhões empilhados, morreriam afogados em Valência. Exatamente por isso que o rei e a rainha tomaram com lama na cara do povo. Seu próprio povo. Ricos e aristocratas diminuíram mais um pouco de tamanho, diante da natureza furiosa? Pois é. Sem chuva nenhuma, no dia 2 de novembro, um galho enorme de flamboyant caiu assim, do meu lado. Caiu de podre. Ninguém cuidou da árvore e ela apodreceu e caiu. A árvore pertence a um prédio, aqui da cidade. Edifício Evian. Chiquérrimo. Apartamentos triplex. Sabe o que o condomínio fez? Nada. Estamos reclamando há 2 anos dessa mesma árvore. A Prefeitura de Salvador não tem nenhum departamento onde as pessoas possam denunciar irresponsáveis que cometem ingerências e descuidos que passam do seu terreno para a via pública. Então se uma pessoa morrer, “não é com eles”.
O galho está exatamente onde caiu no último dia 2 e ficamos assim. Trump e Musk já ficaram microscópicos diante de problemas que podem cair na nossa cabeça com uma chuva? Sem que chova? Num dado momento Bocão parece mais importante que o Trump? Aliás, alguém aí o conhece? O todo poderoso da TV que pode colocar o chique Edifício Evian e seus condôminos na boca do sapo?
Viu? Trump sumiu! Virou um micróbio, junto com Musk. Nada como os problemas da vida real, não é?
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Quando o melhor a fazer é nada...” Bug Sociedade
Acredito que seja uma das coisas mais difíceis de fazer - nada.
Nas necessidades básicas agimos porque mais ninguém tratará do assunto – tenho sede, procuro água; tenho fome, procuro, faço ou compro a comida; preciso de ir no banheiro, vou; tenho frio, visto roupa; tenho calor, tiro roupa. Com pessoas que estão a nosso cargo – bebês, até aos 18 anos, idosos dependentes, pessoas com deficiência, fazemos por elas. Passamos de ser responsáveis apenas por nós, para também sermos responsáveis pelos que precisam de nós. É assim uma sociedade que funciona bem, cada um fazendo o seu e, sempre que puder, fazer também pelos outros.
Se vemos um amigo doente, que não aceita ou não sabe que está doente, não temos o direito de o levar ao médico sem sua autorização. Podemos sugerir, podemos abordar o assunto, podemos tentar mostrar-lhe a realidade, mas obrigar não podemos. Fazemos a nossa parte e esperamos que ele possa fazer a sua – sendo esta situação algo em movimento, onde as nossas sugestões são permanentes, insistentes, apoiadoras, animadoras, informativas, amorosas. Além de esperar, desejar, aguardar. O resto cabe a ele. Aquele passo é dele. O mesmo com viciados – de álcool, droga, consumo, acumulo. É um caminho muito difícil, o de ajudar estas pessoas, encontrar oportunidades de as convencer a agir pela sua saúde e dos que as rodeiam. Colocar sementes no seu caminho para tentar influenciar, ajudar, salvar. Mas é o que nos resta, e se for bem feito, chega – e salva.
Hoje em dia é impressionante a quantidade de pessoas que “transformaram” seu corpo num corpo aparentemente atlético. Corpos muito semelhantes, músculos que “crescem” como pipocas. Quando pergunto se é só academia ou se toma alguma coisa – aproveito logo para dizer o quanto é venenoso todo esse tipo de produtos. Frequentemente encontro três respostas:
1. Dizem que não tomam nada – e vemos no corpo e na rapidez da mudança como isso não é verdade.
2. Dizem que tomam, mas o que tomam não faz mal. Que conhecem todos esses venenos, e acham super mal as pessoas tomarem, mas especificamente o deles é bom.
3. E a terceira resposta é sorrirem, dizerem que sim, que tomam o “veneno”, mas é só um “veneninho” inofensivo. Corpo inchado, mudanças súbitas de comportamento, aumento de comportamentos agressivos, problemas de rins, fígado. Deve ser isso o inofensivo.
Temos também situações como o prédio em frente a nossa casa – Edifício Evian, Rua Nita Costa, 382. Prédio de luxo, com duplex e triplex, condomínio de um valor absurdo, mas que tem a parte traseira do prédio com tijolos expostos à maresia de Salvador, que os trabalhadores que eles contratam, despejam todo o tipo de lixo, atirando-o do térreo para o pequeno terreno baldio que é propriedade deles – diariamente. E para completar o quadro, sua “árvore” maravilhosamente bela, um flamboyant espantoso, é deixado abandonado, sem poda, sem cuidado. Neste momento está doente, necessitando urgentemente de poda. Caiu um enorme galho no sábado passado, de repente, do nada. A sorte foi que ninguém estava debaixo porque esmagava e matava quem estivesse. Ligamos para o SEMAN, a COELBA, a TRANSALVADOR, a OUVIDORIA, a SEDUR, falamos com pessoas da LIMPURB. Nada acontece. Avisamos os moradores, o síndico, como fazemos há anos. O morador diz que não é com ele, que não é síndico. O síndico nem responde aos nossos e-mails. E hoje um amigo, em poucas palavras, me fez entender. Esse prédio e seus moradores e síndicos habitualmente ficam aguardando que as outras pessoas se mexam, façam queixa para que a Prefeitura faça o trabalho que deve ser deles.
Vais percebendo que existem coisas que não podes controlar, não podes obrigar as pessoas a fazer. Resta-te desejar que nada de grave aconteça, incluindo não morreres debaixo dessa árvore, ou desse prédio, ou teres a tua casa destruída.
Nada. É o que temos.
Ana Santos, professora, jornalista
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