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“E A TORCIDA GRITOU: SEM ANISTIA!” e “Os dilemas da vida” Bug Sociedade


Adália Alberto

“E A TORCIDA GRITOU: SEM ANISTIA!” Bug Sociedade

Brasileiro é fogo: a maior parte do tempo finge que não está vendo o que todo mundo vê, finge que não se toca, que não tem opinião formada, torce o nariz pro assunto. Mas, estimado público, não se engane: estamos olhando tudo!

Assim, o marketing político estava “se achando” porque de alguma forma parecia que eles, do gabinete do ódio, tinham passado a perna na gente. Iam colocar uns contra os outros, iam acabar com essa estranha união que temos. Não é que tenhamos que ter sempre a mesma opinião – não temos. Mas conforme o tempo vai passando e os fatos se sucedendo, sabemos discernir muito bem democracia, de ditadura, por exemplo. Golpe de estado é ótimo pros militares. Eles ganham uma fortuna, à espera da guerra - que aqui chega sob forma de polícia violenta dando porrada, chute, palavrão e bofetada na nossa cara. Mas guerra, guerra... aí não tem.

Assim, teve governador que caiu do cavalo, no final do ano. Papai Noel trouxe cada vez mais consciência de que o papel da polícia não é nos matar, é nos proteger. Ah! E eles não são os bandidos – são os mocinhos. Nós? Nós somos os chefes deles. Mandamos. E isso não é papel de polícia, não é polícia, não é decente, nem coerente. É inadmissível.

Outra: parece que o ministro Xandão foi ao show da Caetano e Betânia, em São Paulo. Lá esperava por ele o que nenhuma campanha de marketing esperava: o grito uníssono de SEM ANISTIA!

Tanto trabalho pra nos convencerem de que o Xandão era o mal e olha aí: o estádio inteiro, respeitosamente, aponta pra ele e pede pra não aliviar, apenas fazer justiça. SEM ANISTIA. Pra ninguém. Pra nenhum criminoso, golpista, terrorista.

Quem cantava? Quem foi expulso do Brasil, na ditadura desses militares que sempre conseguiram se livrar pra se organizarem e voltarem com a ideia torpe de mais um golpe – show de Caetano, ex exilado e Betânia – mas dessa vez acompanhado da prisão de um general de 4 estrelas, o mesmo que incitou o povo na porta do Palácio a “ter fé”. No golpe, pelo que se vê.

Agora, esse povo que parecia totalmente cego, o padre que inventou a “oração do golpe”, o pastor que veio gritar impropérios contra todos, contra o Supremo, contra o Xandão – todos morderam a língua. Estão em silêncio.

O povão – aquele do 2 de Julho, aquele dos escravizados que foram pra batalha em troca de liberdade, o povão de mulheres que enfrentou o chumbo, os homens, a paulada do guarda, do soldado e os seduziram para assim vencer a batalha final – esse povão mesmo – estava no estádio de futebol – como se o tempo tivesse parado na independência – e gritou, sorrindo, alegre, como se não houvesse amanhã: SEM ANISTIA.

Ei, político: você que está vendendo voto no Congresso, você que domina a regra do orçamento secreto com o nosso dinheiro, ouça a nossa voz no Brasil inteiro: SEM ANISTIA. Perca o sono: SEM ANISTIA. Com todo mundo pulando de alegria, no maior carnaval: SEM ANISTIA.

Perca o sono, tenha pesadelos - porque somos assim, estranhos. Do nada, a consciência que todo mundo acha que a gente não tem, aflora. E assim, o senhor Ministro do Supremo – que deveria se sentir atingido pelo apelido, é acarinhado pelo povo sendo chamado por ele: “Xandão”, é SEM ANISTIA!

Que Natal, que general, que medo de nós o governador sentiu... enfrentar o poder alegre, sorridente e poderoso do povo – que não quer mais saber de terra plana porque é verão e a fila andou!

SEM ANISTIA!

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV

 

“Os dilemas da vida” Bug Sociedade

Há uns bons anos atrás, um dos meus professores de mestrado, contava que se deparou com um dilema no meio de uma das corridas mais exigentes realizada num deserto. A determinada altura existe uma zona chamada Vale da Morte. Ele não quis trocar sua garrafa meio cheia de água por uma completamente cheia, antes de chegar a essa zona. Percebeu que fez errado porque a água que tinha não ia ser suficiente para aquela temperatura e umidade. O dilema era: Corria para sair dali o mais rápido possível? Ou caminhava, demorando mais tempo, mas gastando menos energia? Em qualquer uma das situações, sabia que a água ia ser insuficiente, ia sofrer e colocar a sua vida em risco. Não existia saída perfeita e maravilhosa, como nos filmes.

Ensinamos as crianças e jovens a resolver dilemas que têm sempre uma boa solução, ou várias. E em que elas precisam acertar na decisão ou arrepender-se para sempre. Como se vida fosse esse filme em que de repente tudo se resolve, tudo tem solução e ficam felizes para sempre ou erram e a vida será um caos, morrendo de culpa pela decisão tomada. Nesse espírito, as crianças, viram jovens, que viram adultos que não sabem enfrentar dilemas reais, complexos. Que não sabem ceder, que não sabem aceitar outras formas de resolver as situações, que não incluem preocupações com o bem estar de todos. Que precisam ter as decisões que prejudicam menos a sociedade.

Farid Dieck, afirma que precisamos enfrentar os absurdos da vida, seguindo em frente. Não tem outro jeito. Seja o dilema, o mais horroroso que enfrentamos, seja qual for o absurdo que a vida nos coloca, precisamos seguir. Não pensando que “as coisas acontecem por uma razão” como nos ensinam, nos colocando em busca do significado ou de dar sentido ao sucedido, mas mais buscando construir o sentido. E dá um exemplo muito interessante. Podemos dizer a alguém: “Te quero muito”, e isso tem um significado. Mas se colocarmos mais uma palavra: “Te quero muito matar”, mudamos o sentido totalmente. E se de novo aumentamos mais uma palavra: “Te quero muito matar de beijos”, mudamos de novo o sentido. Assim, nos estimula a que sigamos na vida, acrescentando e mudando o sentido da vida, construindo sentido perante os absurdos da vida, não em cada palavra só, mas em cada ação.

Perante cada dilema, decidir o que consideramos melhor – não ficar parados, estáticos, bloqueados. Ser movimento, fazer, tentar, decidir, construir. Depois, acrescentar mantendo esse sentido e direção, se a decisão foi acertada, ou, acrescentar mudando o sentido, totalmente ou levemente. Mas não parar, não estagnar, não ter medo paralisante. Porque em cada palavra ou ação, podemos mudar tudo, melhorar tudo.

Ana Santos, professora, jornalista

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