“DEFINIÇÃO DE COLETIVO” Bug Sociedade
“Conjunto de indivíduos que formam uma unidade em relação a interesses, sentimentos ou ideais comuns” – dicio.com
Já pararam pra pensar o que temos afinal em comum uns com os outros? Somos um coletivo de pessoas com problemas comuns ou individualidades que empilham suas necessidades em detrimento do bem estar comum?
Quem tem medo dos imigrantes, do povo de santo, dos pretos, dos LGBTQIA+, das mulheres, dos muçulmanos, dos comunistas, dos pobres normalmente são os homens héteros que detêm o poder – e que nos chamam de minorias. Minorias que juntas formam mais de 60% do mundo, mas para quem quer nos deixar sozinhos, medrosos e frágeis, basta plantar medos e a percepção falsa de que podemos comprar e consumir “felicidades e seguranças” de preferencia no Shopping tal.
Lamento, mas não.
As pessoas estão parando de interpretar o básico. Quem já leu, já viu na TV: Comunista preso por comer criancinha na China, no Brasil, na América ou em qualquer lugar?
A saída está em comprar armas, arminhas, armonas, fuzis, carabinas, pistolas, bombas, lança morteiros, lança granadas – elas vão lhe proteger de todas as ameaças acima. Mas afinal, são as tais armas pseudo-protetoras que nos matam mais.
Nunca ouvi falar de feminicídio cometido por esse “comunista travestido de homem do saco” – o poder nos menospreza a inteligência, já repararam?
Assim, o politico não precisa trabalhar nada – basta dizer que antigamente é que era perfeito – e colocar em todos os lugares uma presença marcante – “e se?”.
E se o mundo acabar, se houver a III Guerra, se o Putin jogar bomba atômica, se eu perder o emprego, se o meu chefe não gostar do que eu falei, se meu sogro não me emprestar o carro, se a namorada me chifrar, se eu adoecer e não houver tratamento, se aparecer uma pandemia impossível de vencer? Os medos – todos – encontram eco na nossa incerteza. E ela nunca vai acabar, independentemente da sua ideologia, lamento.
O que nos salvaria? Nos trancar em casa? Mas como vamos comer? Onde comprar comida? E se o vendedor me passar uma doença?
Nos salvaria o coletivo que somos, se cuidássemos um do outro. Não precisa muito. Um pouquinho só, já bastaria. Um pouco de preocupação, um pouco de pão ou de arroz com feijão; um pouco de educação, coragem pra dizer não. Um pouco de lixo fora do chão. Mais coração e preocupação.
Meu medo? “Os egoístas morrem sozinhos”. Depois da morte, enfrentaremos o que fizemos – sozinhos. Sem compra de leniência porque lá o nosso dinheiro não compra nada.
E se chegar na nossa hora e Virem que fizemos parte desse coletivo de nada, numa economia que foi incapaz de gerar riqueza e sim dinheiro...
Você tem fome de quê? Você tem medo de quê?
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Eu ia falar...” Bug Sociedade
Eu ia falar da piada que li sobre uma ex-primeira dama dizer que vive de aluguel, num país com tantas pessoas sem ter onde dormir.
Eu ia falar sobre as figuras “dramáticas” e bizarras que os jogadores de futebol fazem no campo. Sobre as vezes que gemem e rebolam no gramado, sobre as vezes que dizem que não fizeram o que as câmeras mostram que fizeram. As brigas que inventam, parecendo que estão fazendo testes de virilidade. É futebol ou é só uma competição de machos? O que farão quando forem velhinhos e o médico lhes disser que têm uma doença grave – será que se vão deitar no chão a rebolar? Vão encostar seu peito ou sua testa ao médico a ameaçar? Será que vão dizer a Deus que não pode ser, que é mentira? Eles não sentem vergonha das cenas ridículas que fazem, em frente a milhões de pessoas? Em frente a si próprios? Os treinadores de crianças e jovens futebolistas “não têm tempo” de lhes ensinar comportamentos de lealdade, ponderação, civismo, nobreza?
Ia falar sobre padres, bispos, que estão às voltas, tentando “fazer gol” seja como for. Dizem uma coisa mas percebem que não foi bem acolhida, dali a uns dias dizem outra. Um aluno dentro da sala de aula apresenta um comportamento inadequado à situação e em qualquer escola tem um manual ou guia de instruções ou de procedimentos – sai ou não da sala, faz ou não relatório, pede ou não desculpas, faz ou não atividades de incentivo à mudança de comportamento, tem processo disciplinar ou não, tem suspensão ou não, etc. Mas, torna-se público o que o mundo suspeitava, pessoas, no caso padres, com comportamentos muito mais do que inadequados – pedófilos – e ninguém sabe o que fazer. Uma desorientação, uma desorganização, ou o hábito de varrer para debaixo dos tapetes do silêncio. Quem sabe chamar um professor? Acreditem que organiza isso num instante. Mesmo em greve e mesmo em processo de anos de “espezinhamento” social e profissional.
Eu ia falar que aprendi a palavra “underdog”, que supostamente identifica as pessoas e ou organizações que lutam por algo nobre, ou constroem algo nobre, mas não conseguem ser visíveis ou não as deixam ser visíveis. A sociedade as coloca como eternas perdedoras. Mas os “underdogs” por vezes, saltam do trilho e conseguem a luz da ribalta. O Bug Latino acredita nisso e acredita que todos os “underdogs” merecem um dia a luz da ribalta.
Eu ia falar que fiquei muito comovida e esperançada com alguns depoimentos dos premiados ao Óscar deste ano - nomeadamente o primeiro premiado, para melhor ator secundário, Ke Huy Quan, quando referiu que já viveu um ano num campo para refugiados.
Eu ia falar como vivemos uma vida tão fracionada. Uma vida dentro de nós, uma vida dedicada ao nosso trabalho, amigos e família e o resto do mundo. O resto do mundo suga as pessoas, fazendo-as perder tempo precioso para a sua vida com o imenso vazio, principalmente as redes sociais e os mídia. Jornais e telejornais mostrando como a vida está difícil, como tudo está mais caro, como aparecem doenças novas a todo o instante, como o mundo está deprimido, agressivo, perigoso. Eles acham que ajudam as pessoas com esse tipo de abordagem ou o objetivo é mesmo assustar a população? A vida dentro de nós é muito importante, mas fica tantas vezes atrás de tantas outras tarefas – não deixe! Os amigos e família são importantes, muito importantes, principalmente os de verdade. Quando estão por cá, são a nossa salvação. Quando deixam de estar continuam sendo a nossa salvação.
É...eu ia falar disto tudo e até queria escrever de forma mais positiva do que ultimamente, mas soube da morte do pai de uma amiga e o mundo, por instantes, voltou a uma escuridão conhecida. Já não é igual, mas me lembrou muita coisa, penso que ela estará a vivê-las. Penso que ela é especial, penso que mesmo sem nunca ter conhecido o pai, tenho a certeza de como ele era, é e será único. Penso em como temos a sorte de usufruir de algumas pessoas realmente especiais e que é isso que deve ficar na nossa alma. Essa sorte, essa oportunidade. Sempre vamos querer mais, mais tempo com elas, mais coisas, mais, mais.
Dar valor, guardar, apreciar, saborear o que tivemos, com quem pudemos conviver, o que nos foi concedido, talvez seja uma das sabedorias.
Outra, com certeza, é não perder tempo com quem não nos ensina nada nem nos traz nada de bom.
Ana Santos, professora, jornalista
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