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“COMO ANTES, NINGUÉM.” Bug Sociedade


Está em todos os lugares – Plutão entrou em Aquário. Se nós vamos nos conectar com a renovação, a tecnologia em favor de coletivos, não sei. Mas gostaria. Talvez fiquemos parados na morte, em Plutão. Isso me lembra Putin e a ameaça das bombas atômicas. De Bolsonaro e a ameaça de dominar o STF, a lei, a ordem e a democracia. E me lembra também que nós – as pessoinhas do mundo, nós, os habitantes – que temos (pelo menos ainda), direito a um votinho cada uma e que podemos escolher entre democracia e caos.

Lá na Rússia, a eleição é como uma mentira de Barão de Munchansen e que, se aponta para as verdades, se vê a caminho da prisão. Mas isso não impede os protestos, as fugas de homens que não querem ser soldados, que não nasceram pra atirar e matar covardemente aos ucranianos. Por aqui, as pessoas já pensaram que se a coisa engrossar, os pobres e as mulheres estarão do outro lado? Que é inadmissível nesse momento do mundo, aceitar – minimamente – ter um homem que nos mande calar a boca? Portanto, não adianta nada gastar tempo e palavra falando de família e moral, religião – é inadmissível para nós, mulheres, termos lutado tanto pra meia dúzia de homens metidos virem com a intenção de nos empurrar pra trás do tempo, de novo retirando dinheiro das escolas, impedindo a universidade de se expandir por todo lado, gerando chances.

Plutão entrou em Aquário e eu não posso deixar ninguém pra trás. Se todos não tiverem acesso à escola, vamos nos perpetuar como os serventes do mundo. Servimos a comida que eles comem, passando fome. Nós, que plantamos!

Portanto, lamento, senhores ricos: algum espaço precisa haver para o restante de nós. E se forem inteligentes – minimamente – perceberão que, sem nós, não haverá nada. Que há uma onda no mundo de pessoas que apenas não querem mais voltar a trabalhar nos moldes antigos, que os Estados Unidos não sabem mais o que fazer para estimular as novas gerações a se apresentarem e isso pode acontecer aqui também, se não houver escola, saúde e respeito. Porque afinal é respeito, apenas. Como se pode aceitar a falta absoluta de respeito? Como chegar ao Bonfim pulando por cima de dezenas de pessoas dormindo nas calçadas da Cidade Baixa? Como não se sentir oprimido pela verdade da rua?

Plutão entrou em Aquário, eu fui ao Bonfim ontem, houve cultos, festa de Oxalá – tudo ontem. Nós fazemos parte de um mundo só ou vamos destruir a Amazônia pra passar a boiada da sua excelência, o deputado eleito – e, portanto, votado por nós? É agora que vamos ser um Brasil sem escravos! Nem vou falar a outra possibilidade porque tenho vergonha dela. Eu, mulher, terráquea e brasileira, carioca com baiana, entro em Plutão com Aquário querendo ver meu povo feliz.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


Quando penso em Annie Ernaux, escritora francesa, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, em 2022, imediatamente penso que dificilmente alguém que escolheu temas tão importantes e igualmente difíceis, seria brasileira do sul e/ou viveria no sul do Brasil. Isso me entristece muito. Perceber que um país se pode dividir de uma forma tão funda, tão fraturante, tão preocupante. Que está em brasa. Que parece viver dentro de si o clima que existe entre a Rússia – Putin – e a Ucrânia – Zelenski. Na minha profissão, que desempenhei orgulhosamente em Portugal, durante mais de 25 anos, como professora e treinadora, tornei-me especialista em resolução de conflitos, brigas, inimizades, diferenças de opinião. Como todos os meus queridos colegas portugueses de profissão. Nas minhas relações familiares também precisei de lidar de frente com uma situação bizarra e pantanosa. Não tem muitas saídas, talvez as duas que devem ser utilizadas por pessoas saudáveis, que também pensam nos outros e que desejam fazer parte de quem constrói um mundo melhor: o diálogo ou o afastamento. Quem não as utiliza dá logo um sinal que não quer resolver, quer ganhar/destruir. No diálogo, o treinador dos Golden State Warriors – campeões da NBA em 2021, é um sábio. Alguém que sempre lidera respeitando todos, alguém que sabe o que é importante, alguém com uma imagem simples, que por dentro é um exemplo de nobreza muito raro nos dias de hoje. Quem nunca ouviu Steve Kerr, está perdendo. Ouvem-se muitos supostos padres e religiosos, hoje em dia, que precisam de ler, viver, aprender muito com este ser humano.

Diálogo, tanto a dizer, mas deixo apenas que o seu objetivo deve ser sempre o de caminhar para um lugar melhor. Dialogar para manter mentiras, para manter hipocrisia, etc., isso não é diálogo, é outra coisa. Não é bom ficar nesse lugar, nem com essas pessoas muito tempo. Afastamento, este caminho é muito mais complexo, mais difícil, mas precisa ser feito quando um dos lados, numa família, num país, não é saudável, correto, leal e não nos quer bem. É saber que se vai pelo caminho das pedras, diariamente, mas que devagar, esse caminho vai amaciando e se reconstruindo. E, que quem sabe, pode virar diálogo, sempre dependendo do momento em que o lado que destrói, aceita iniciar o caminho inverso – o caminho de construir e partilhar. Não tem outro jeito, o caminho tem sempre de ser o que é bom para todos. Todos precisam ceder, mas o “goal”, a intenção, o objetivo, o que se deseja precisa ser sempre algo bom para a comunidade, para todos. Se não é bom nem justo para todos, alguém está a ter vantagens injustas e é preciso dialogar, ou aguardar que exista ambiente saudável de diálogo. Em casos graves, como Putin, por exemplo, tentou-se aplicar sanções, mas ele ficou pior. Com pessoas cegas como ele muitas vezes se aplicam estratégias tipo: “o que queres em troca disso? Te dou outra coisa, te dou outra vantagem que não seja tão prejudicial a outros. Vê o que estás a fazer a ti e ao mundo. Não vais ter o que queres. Pensa no que pode substituir essa gula e vamos dialogar.” Deixar essas pessoas bem, satisfeitas, com coisas boas claro, pode ser uma forma de as tirar do botão da destruição. A opinião pública teve um peso muito grande porque a maioria assume publicamente que Putin está no lado que precisa mudar de postura. Mas na vida, muitas vezes não temos a opinião pública a dar essa ajuda e isso é o que me surpreende no Brasil. Os silêncios, os silêncios, os silêncios. Um país tão musical, tão alegre, carregado de silêncios penosos, cumplices, interesseiros, irresponsáveis. “Distraidamente” se dá força a quem precisa ceder, se dá elogios a quem está destruindo. Quando se vê a equipe do Paris Saint Germain em campo – repleta de atletas famosos e talentosos - sempre irritada, insolente, indisciplinada, percebe-se a falta de controle em indivíduos, num grupo, numa família, num país. Não é para qualquer um dominar de forma saudável e construtiva, pessoas, grupos, países. Liderar com caminho, não tem agressividade, tem firmeza de caráter, tem regras construídas em conjunto, tem compromisso, tem nobreza, tem o bem comum, tem diálogo e afastamento se for necessário. Se não, é o “faroeste”, o salve-se quem puder, o dar-se bem, que só provoca destruição, desarmonia, veneno.

9 anos que tentei trabalhar no Brasil na minha profissão de vida, onde me especializei, em Portugal. Nenhuma porta se abriu, nenhum diálogo foi construtivo, se completou. Uma tristeza, um desapontamento. Sem diálogo, o caminho escolhido é do afastamento. Aqui estou, vivinha da silva fazendo o mesmo, de outra forma, noutro lugar. Não se pode fazer para uma turma, duas, 5, 10? Faz-se para o mundo inteiro, escrevendo, falando, editando. Não fique parado a ver o mundo se desintegrar, nos desintegrar. Tente dialogar, se não der, se afaste e vá procurar outro lugar, que mesmo que não seja o que você pensou, se lá existe o que você acredita, é aí que deve ficar. E a partir daí, tente ajudar a reconstruir. Não está fácil. Mas ficará pior se normalizarmos. E isso não podemos permitir – normalizar o mal, a desconstrução, a destruição, a desunião.

Ana Santos, professora, jornalista

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