BUG SOCIEDADE – GUERRA OU PAZ – O QUE VAI SER?
Pessoas ensandecidas, o mundo tem aos cachos. Pencas. Os assassinos de Bruno e Tom falam que os picaram em pedaços como se estivessem cortando um pão em fatias – nada mais natural. Eles, dentro do primitivismo de algumas almas, me espantam, mas eu vejo que aqueles espíritos vão amargar muitas vidas – mas quando você olha o governo, a polícia, a autoridade, a lei fingindo que aquilo não é aquilo... acho pior. Quem mandou matar?
Um ser abjeto X está numa festa e lá ouve falar que na outra festa alguém é partidário de Lula – e veja – qualquer pessoa no Brasil, a esta altura, sabe que o candidato do abjeto tem 20% de intenção de votos – mas ele ainda assim se ofende, entra na festa do outro gritando “aqui é Bolsonaro” e pasmem – atirando pra todos os lados. Como qualquer ser abjeto, vai receber o desprezo total das pessoas de bem e isso dói muito. Mas quando você olha o governo, a polícia, a autoridade, a lei fingindo que crime político não é crime político... acho pior.
Por quê nós, aqui no Brasil, insistimos em “fingir que não vemos” os crimes dos amigos, enquanto o dos antipáticos a nós... Como se houvesse uma interpretação da lei para coligados e depois a interpretação dos outros. Uma vergonha, isso. É mesmo uma coisa asquerosa e indesculpável. Como os políticos têm muito amigos, se sentem “perseguidos” ao serem condenados por crimes que cometeram. É uma deformação de mente, de compreensão, muito mais do que apenas de caráter. “No Brasil é assim – se você não oferece uma vantagem, nada acontece”. Uma vergonha, um câncer.
Chega uma pessoa de macacão de mecânico num restaurante chique e quase todos olham – o olho que olha para o “pobre”. Mas quem é o pobre? O que rouba, o que desvia ou o que trabalha? É pior a pessoa que não olha para o outro lado quando vê uma criança pobre? Quando conversa com o andarilho que passa na rua? Ou você é melhor quando entra no banco de trás de seu carro blindado, fingindo que a vida é aquela pobreza de espírito que nunca contribui com nada?
33 milhões morrendo de fome e você vai viajar para ver os pinguins “imigrando para a Patagônia”, “a aurora boreal, antes que a poluição acabe com ela”. 33 milhões morrendo de fome e só contando com o Brasil – o resto do mundo está fora da conta. São olhos com “cataratas perenes”. Não veem o que podem fazer, como podem contribuir, que um olhar, um “oi”, um sanduiche, é contribuir. Nem falar que os ricos poderiam apenas investir na escola pública da babá dos seus filhos, na mensalidade de um curso de inglês que ele poderia sortear online para uma pessoa apenas e isso, ao contrário de pesar no bolso, daria leveza ao espírito. Exato! Aquela mesma energia “abjeta e ensandecida” que habita planetas e que faz parte do espírito de pessoas do início da crítica do Bug Sociedade de hoje, mas de roupa chique.
De qual mundo você quer fazer parte? Qual é a herança que vai deixar? É guerra ou paz? O que vai ser?
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Amor, Gratidão e Paz” Bug Sociedade
Como conseguimos fugir disso, desse lugar, exato, claro, tão fácil e tão simples? Porque decidimos e aceitamos ser piores? Porque aceitamos perder tempo? Perseguir o que é material e fugir do que é emocional? Todos sabemos o que é certo e o que é errado, pelo menos os sãos, mas na prática da vida fazemos tanta coisa contrária ao que sabemos e dizemos. Como saímos dessa armadilha?
Existe um terreno baldio na frente das casas e dos prédios da rua. O dono não trata, não cuida, nada faz. Se esconde. Quem vive na rua é que tem de cuidar para que o terreno não vire banheiro, casa de mendigo, sala de drogados, esconderijo para bandido. O pessoal da rua pede a todos os lixeiros, cortadores de grama, etc, mas nunca é responsabilidade de ninguém. Me recordei do que alguns alunos diziam, quando lhes pedia para ajudarem a apanhar os papeis do chão da turma anterior – “não fui eu que sujei”. Raramente, muito raramente, aparece um homem que diz que dá um jeito. E é só isso que dá, se percebe que não vai ganhar nada mais do que um “obrigada” e uma água fresca. Um dia você se cansa de depender, cansa de pedir, percebe que é você que tem de fazer e decide terminar o trabalho com a sua catana enferrujada, sua tesoura de podar e sua inexperiência com matas tropicais. Engraçado que todos estranham ver e todos têm algo a dizer, mas fazer é que não. Como os meus alunos antigos, todos passam e olham, mas não foram eles que fizeram crescer a mata, esse não é o trabalho deles, além de que consideram que isso é serviço de “jagunço” e não de mulher. Bom, o mundo precisa de gente que resolva, sejam mulheres ou homens. E então, você tentando cortar o resto da mata sem se sujar muito nem se magoar e ouvindo comentários de quem vê, analisa, discorda e comenta. Pessoas simpáticas, com quem convive, de quem gosta, mas que não atravessam o espaço de olhar e falar para o espaço de fazer. Até que chega Bruno...um cara que anda na rua vendendo queimados, pedindo no sinal, quando passa na rua parece um farejador em busca de oportunidades. Para comer e sobreviver. Se oferecendo para ajudar de uma forma incrível, respeitadora, carinhosa e de partilha: “como posso ajudar? Me diga o que quer que faça. Quero ajudar. A senhora não pode fazer isto porque se pode magoar.” E ali estivemos os dois, uns minutos curtos, em parceria, companheiros de trabalho, um cuidando do outro, os dois tentando melhorar a mata, torná-la mais segura, mais limpa. Ficando amigos. Como não poderíamos ficar? Fiquei tão surpresa, tão feliz, tão grata! E ele ficou muito feliz por ajudar, por perceber que eu sei que sou igual a ele e faço questão de lhe mostrar, de lhe dizer. Sei que ele é ameaçador para as pessoas, para as mulheres da rua, pelo seu aspeto. Mas ele tem um coração muito bom e se for bem tratado não é ameaçador, como qualquer ser humano. Tratar as pessoas com desprezo, com superioridade, é perigoso para todos. Simples assim. Não lhe abro a porta de casa. Não lhe dou a senha do banco. Mas ele tem e terá meu respeito profundo e eterno. Ele me viu, eu o vi. Dois seres humanos resolvendo um problema de uma rua. O que resolveríamos, tantos seres humanos no mundo se o fizéssemos juntos?
António Guterres lembra que temos uma escolha: ou ação coletiva ou suicídio coletivo. Ação, ação, ação, coletivamente.
Ana Santos, professora, jornalista
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