Job Castillo, um fabuloso atleta mexicano de Badminton, emite um som meio tribal, meio gutural, de energia, das suas entranhas, sempre que consegue vencer uma jogada dura e longa ou quando se prepara para uma jogada em que precisa de “reiniciar”/”fazer um reset” da sua emoção. O som é curto mas muito emocionante de ouvir. Lembra os sons das artes marciais, dos índios ou indígenas. Uma rotina mental para estar de novo preparado para “tudo”. Muito interessante, bonito de ver e que emana uma energia muito forte para todos os que podemos assistir aos seus jogos.
Michelle Li, atleta do Canadá, já foi 3ª do ranking mundial. Neste momento está no 10º lugar do ranking. Estar nos 10 primeiros do mundo, numa modalidade onde os melhores são dos países do oriente, é fenomenal. Se a virem jogar percebem logo que circula num outro mundo. Compete com os atletas do “top” homens e aposto que vence a muitos. Mas, Michelle tem uma característica muito própria, para além de todas as necessárias para ser a atleta extraordinária que é. Tem um sorriso permanente na sua cara. Uma vida pulsando nos seus olhos. Um corpo em movimento que lembra as crianças felizes que brincam na natureza sem pensar em mais nada. E quando está treinando ou competindo, isso é impressionante. Impressionante!!! Ela se destaca totalmente de todos nós. Talvez possamos aprender com ela. Independentemente de vencer ou não, apreciar o momento, vivê-lo com prazer, se entregar totalmente e confiar. Quando a vida é dura, ela é dura, não vale a pena viver com receio. Os atletas precisam manter o amor e a paixão pelo esporte. Sempre que treinam ou competem devem manter essa alegria, essa força interior. Alegria e felicidade não é brincadeira nem irresponsabilidade. São coisas bem diferentes. Muitos atletas perderam jogos, neste PAN, também pela sua tristeza e aparente falta de prazer, apresentando expressões faciais demasiado sérias, fechadas. Talvez demasiada tensão, demasiada insegurança, demasiada pressão. Algo que trabalhado provocará resultados positivos enormes. E, maior alegria de viver.
Quem trabalha com psicologia esportiva e tem a sorte de estar a 1 metro de Jennifer Lee, natural de Hong-Kong, uma das treinadoras de Badminton do time do Canadá (campeão Pan Americano 2020), quando ela orienta seus atletas, durante cada jogo, você apenas agradece e tenta aprender tudo o que pode. Você tem a mesma oportunidade de assistir a orientação de treinadores americanos, mexicanos, venezuelanos, peruanos, ilhas Farkland. Aqui, todos são mais ou menos iguais: “Go Time”, “Bamos”, “Come on”, “Fuerte”, etc, etc. Agora, imagine uma aula de psicologia esportiva com um dos melhores professores da área, no mundo. Imaginou? Jennifer Lee é um deles. E com ela, a aula é prática, não é falar na sala de aula. É obter resultados ali na sua frente e manter os atletas felizes, seguros, acarinhados e protegidos. Existe uma diferença tão absurda e tão maravilhosa que você até tem medo de acreditar que isso está acontecendo. O tom de voz escolhido de acordo com a situação, a sincronia de indicações dadas, a delicadeza e assertividade das indicações, os momentos em que fala e os momentos em que não fala. Uma masterclasse. Uma curiosidade. É treinadora de Michelle Li.
Kevin Cordon, Guatemala. Um oceano de talento! Criativo, com um pensamento do jogo muito maduro, sempre surpreendendo os adversários e mesmo o público com suas escolhas. Porque tem um raciocínio diferenciado e o talento permite concretizar esse raciocínio com maestria. Simpático, sociável. Mas, com pouco controle emocional e pouca tolerância à frustração. E isso o prejudica financeiramente porque tem multas da Federação Internacional, sempre que se excede. E nisso, o Badminton é um exemplo que devia ser seguido por outras modalidades. Se tivesse trabalhado essas questões, podia ter se tornado uma referencia mundial ainda maior. Agora, com 33 anos, pode melhorar esse controle facilmente, se o trabalhar, mas já tem um futuro mais curto em termos de competição. Uma pena.
Quem realmente tem sucesso no esporte precisa ser excepcional em: conhecer bem a modalidade ao ponto de a saber dividir em muitos momentos; aprender a técnica, a tática, a exigência física para ser um dos melhores do mundo; aprender sobre a logística, a organização, da modalidade a nível mundial. E, depois, aprender ou trabalhar com alguém que saiba incluir a oratória/comunicação profissional, a psicologia e a sociologia no esporte. Não é escolher um especialista famoso de consultório. É outra coisa. Mas sobre isso falaremos nos próximos artigos.
Ana Santos, mestre em Psicologia, Especialização em Psicologia Esportiva
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