“APEGO A TUDO” Bug Sociedade
Ontem, vendo um político, candidato, tentando “colocar fogo no rabo do povo”, “ferro na boneca”, gritando tantas besteiras que eu cheguei a me perguntar quem era mais doido ali – todos falando, gritando, esbravejando que eram “ungidos” de Deus, do povo, do sagrado – me lembrei de uma aula que tive com um mestre, quando treinava tai chi chuan.
Ele dizia que o nosso maior problema era o apego e que ele provocava grandes desequilíbrios. Se formos pensar, é verdade. O tal candidato quer impedir a passagem do tempo e se perpetuar onde está. Para isso, comprou todos, mas ao fazer isso, se vendeu (tão baratinho) aos que comprou. Nos abandonou aqui e passou a só ver a si mesmo – algo como estar numa rua super movimentada e não ver ninguém, achando que a rua é só sua.
Economizou conosco e matou muitos, para repassar toda essa dinheirama para se manter no lugar. Um engano porque quem tinha e tem o movimento não são os que ele pagou, mas nós. A máquina que mede o movimento do nosso desejo entrou na sua mira e ele deseja destruí-la. Mas da mesma forma que amamos vacina, acreditamos na urna eletrônica. Ele fala para seus súditos, como sempre, mas é só.
Por causa do apego, vê seus puxa sacos e esquece seus críticos, quando são os críticos que apontam nossos erros e nos permitem melhorar.
Por causa do apego ao dinheiro, ao cargo, ao poder, ele se agarra aos que acha que impedem seus movimentos e os tenta destruir. Mas como abandonou quem agora poderia ajuda-lo – nós - está com os mesmos comprados que, em sendo comprados, podem ir para qualquer lugar onde haja “boas ofertas”.
E irão. É histórico.
Os que se oferecem para “matar e morrer” por ele vão encontrar o inesperado: a prisão. Porque religiosidade, não envolve apenas uma religião, mas todas as crenças porque respeitar a fé é que importa. A esperança é que importa.
Depois de tanto nada, depois de morte, depois de vazio, de fome, de abandono, onde estará a vida, a alegria e a esperança?
Com fé, diremos não para a violência do gesto, o grito histérico, o ódio. Sem apego, o dedinho no botão, o coração na mão, o povo conta os dias: LIBERDADE, LIBERDADE, ABRE AS ASAS SOBRE NÓS E QUE A VOZ DA IGUALDADE SEJA SEMPRE A NOSSA VOZ.
Nós somos todos. E todos inclui todos. Até os que ele excluiu, na esperança de se manter onde está. Mas é apego. Só apego.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“A Solidão” Bug Sociedade
Com o passar das primaveras vamos percebendo melhor que a pessoa mais importante na nossa vida somos nós. Não no sentido de pensar só no nosso “umbigo”, mas no sentido de nos conhecermos, de nos cuidarmos fisicamente, emocionalmente e mentalmente. Perceber e aceitar que podemos mudar comportamentos, mudar pensamentos, mudar pontos de vista, mudar olhares sobre a vida, o passado, o presente e o futuro. Perceber que dedicar o nosso tempo, a nossa vida, só aos outros, um dia nos leva a estarmos sós e desamparados porque nos deparamos com o nosso eu, finalmente, mas não o conhecemos. Conhecemos muito bem os vizinhos, os familiares, os colegas de trabalho, os amigos, mas de nós, sabemos muito pouco. E é com essa pessoa - eu, com quem vamos viver os piores momentos, os mais difíceis, os mais tristes, os mais dolorosos. Precisamos conhecer, construir um vínculo, aceitar o que não gostamos e ainda não conseguimos modificar, manter o que gostamos, caminhar junto, abraçar, perdoar. Thich Nhat Hanh, monge budista, pacifista, escritor e poeta Vietnamita, deixou muitos aprendizados que valeria a pena espreitar, principalmente quem se tem sentido dolorosamente só. Indicaria suas explicações sobre “curar a criança interior” e sobre “atenção plena na respiração” (mindfulness of breathing), como duas pequenas ações que podem fazer muito por cada um de nós, nomeadamente, nos apresentarmos, conhecermo-nos, falarmos, caminharmos juntos com essa pessoa que somos mas que é estranha para nós. Um passo para começarmos a nos sentirmos mais acompanhados, mais em paz, menos sós, nas situações da vida que são nossas apenas. Procuramos os outros para serem uma espécie de espelho do que sentimos, do que sofremos e dessa forma, termos algo exterior que valide as nossas duras vivencias. Mas os outros, por mais que se esforcem, os poucos que o fazem, nunca darão a verdadeira importância e o desejado conforto e “certificação social”, ou mesmo os “aplausos”. É você e as suas circunstâncias, é você e seu caminho no final. Quanto melhor se conhecer a si próprio, menos só se sentirá, menos a solidão rasgará porque você estará acompanhado de alguém sempre – de você, verdadeiramente de você.
Curar a criança interior é muito mais importante do que parece. E é uma ação desencadeada por você, não é nada comprado, feito pela empregada ou pelos amigos queridos. Você e você. E acredite, tem muita coisa para você se falar, se perdoar. A atenção plena na respiração, outra prática sua. Respiramos a cada segundo, mas respiramos muito mal, cada vez pior, quanto mais estressante é a vida, pior o fazemos. Tem algumas aprendizagens simples que podem ser ensinadas por fonoaudiólogos. Você pode viver uma vida sem respirar de forma completa, como eu vivi 47 anos, e disponibilizar-se para viver com mais qualidade, aceitando a ajuda de um especialista. É surpreendente e ao mesmo tempo uma vida nova que surge. Mas Thich Nhat Hanh te chama a atenção para a respiração, de um jeito que você pode fazer sozinho, noutra abordagem. 16 pequenos exercícios de respiração consciente que Buda propõe, segundo palavras de Tich Nhat Hanh. Para qualquer pessoa, qualquer pessoa. A simplicidade te ajudando a afastar a solidão, assustadora, ameaçadora, social, carregada de preconceitos, ideias pré-concebidas. Não! Se cultive por dentro e a vida se tornará na beleza que deve ser, independentemente das dificuldades, doenças, problemas, injustiças. Como diz a minha doce amiga Ana Paula Gomes, ‘bom caminho”.
Ana Santos, professora, jornalista
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