Somos natureza, somos nuvem, somos duna. Sempre em movimento. Seremos nada antes de ser tudo.
1. Poesia indicada pelo Bug Latino
“Retrato”
“Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?”
Cecília Meireles
Brasil
2. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert
“A NUVEM E A DUNA” (Praia da Gamboa)
“Amiga Nuvem.
Que lindas formas que tem
sempre em franco movimento,
moldadas ao sabor do vento
mesmo de fraca intensidade.
Invejo a sua liberdade.
Ninguém a pode reter
nem a pode controlar.
Quando em branca formação
compacta, como algodão,
sobre o azul ou verde mar
nada a pode igualar
nessa tão simples beleza.
É filha da Natureza
mas vive independente
sempre em companhia do vento
seu eterno namorado.
É verdade, amiga Duna.
Ser livre é ter fortuna
mas de mim não tenha inveja.
É a si que o Mar beija
quando se sente agitado,
vivo, apaixonado
arrastando-a com ele
para o seu leito secreto,
mantendo-a sempre por perto.
Ora a leva, ora a traz
numa carícia constante
deixando-a no entanto
a repousar
quando desce, à baixa mar.
Mas assim que a maré sobe
aí ressurge, pujante e nobre
para a resgatar
Tanto a Duna, como eu,
uma na terra e outra no céu
somos donas de fortuna .
Noivas do Mar e do Vento
seremos eternamente
a sua Nuvem e a sua Duna.”
Helena Marcão
Portugal
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