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“A piada como salvação” Bug Sociedade




Bem, o trovão virou traque. E os memes correram soltos pelo Brasil, que se não perdoa nem humanos normais, o que dirá mitos!


Somos terrivelmente piadistas – é uma forma de protesto, de denúncia, de justiçamento ou mesmo linchamento. É como dizer às suas Excelências que nós as estamos vendo muito bem! – e que elas não nos vão escapar, de jeito nenhum. Zé Trovão do alto da sua inteligência, se autodenunciou com copo de café, tendo o luminoso do hotel mexicano como fundo – provavelmente quase musical pra Polícia Federal... vai ver com música de Sérgio Reis... “Presidente, Presidente, eu estraguei minha vida Presidente” ... E então quem disse que funciona o chefe ser “seguidor” de funcionário? Alguém chama alguém de “mito” no posto de saúde? Na repartição? Você vai no INSS e chama a atendente de mito, por acaso? E se chamar, ela te atende mais rápido? Não, né? Pois é...


Brincadeiras nunca ficam à parte, aqui. Elas fazem parte, são atuantes, são convidadas especiais em programas de TV, entrevistas, comentários, blogs. Todos separam um tempinho para mostrarem os piores momentos e com eles, além de nos divertirmos, também vemos que há brincadeiras engraçadas ou indelicadas, mal educadas e grotescas – atualmente vemos as últimas em todos os momentos em que os chefes nacionais abrem a boca.


O ex-presidente ganha uma capinha de Drácula e lá está; aquelas mãozinhas estranhas são montadas como se ele fosse um tiranossauro Rex e lá está; mas o que está explícito é que quando o Executivo é ruim, sempre aparecem os vampiros e eles estão também na Câmara, nos ministérios e assessorias, sugando o néctar das benesses que nós estamos vendo sair do nosso bolso. Na CPI da Covid, vemos os senadores candidatos ao asilo, tanto quanto aos candidatos a espertalhões ou advogados de porta de cadeia – e não adianta partirem para o discurso à la Alberto Roberto da fazenda – nós estamos de olho em tudo.


Pois então digam, senhores, “qual é a molécula da malandragem” - que afeta talvez a 90% do nosso elenco de políticos, atualmente? Dos senhores vereadores que se dão aumentos inacreditáveis, passando pelos senhores deputados que descartaram a quarentena de policiais e juízes, até ao senhor presidente que quer encartar nas leis que elas servem pra todos, mas que a família dele é “café com leite” porque “queima no calor do momento”, mas que amorna ao menor risco de se dar mal...


Sem piada seria o choro eterno, a depressão suprema. Então vamos ao bullying se for preciso, mas quem erra assim contra todo um país precisa ter a casca grossa porque brasileiro perde o amigo e fica com a piada, com certeza. O “que se faz de fortão e fala ‘me segura’ por detrás da multidão” foi descoberto. O povo agora ri porque o rei ficou nu e quase todo mundo viu. Afinal, o mito era o santo de pau oco e com os pés de barro – caiu, quebrou, perdeu, acabou.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


Olha... eu já sorri, ri, rebolei de gargalhada com as piadas que o povo faz da realidade absurda do Brasil, do seu presidente, dos seus seguidores. Mas tanto, tanto, que até choro, que os dias ficam um pouco mais suaves, um pouco mais alegres e leves. Porque isto não está fácil...vai de parecer um filme de terror, de suspense, para um filme sem ponta por onde se lhe pegue...


Um país numa situação assustadora, perturbadora, instável. Desemprego em níveis assustadores. Com resultados igualmente assustadores quando falamos de um lugar com extrema insegurança, assaltos no virar da esquina, na sua porta. Num segundo, um roubo, um susto, um tiro, uma facada, uma agressão. Impostos sem fim, taxas sem fim, multas sem fim, burocracia sem fim. Você nunca consegue respirar fundo. Alimentos cada vez mais caros ou pelo mesmo preço mas em menor quantidade. A atenção tem de estar afiada. Você vai comprar um alimento e o preço é colocado como sendo de promoção e se olhar (precisa olhar), mais algumas vezes, verá que não é bem isso. O alimento que era vendido a quilo, agora é vendido com 800 gramas. Ou colocam 100 gramas de uma forma que parece um quilo (basta colocarem o número 1 maior do que os dois zeros, para, as pessoas mais velhas, com visão mais reduzida, acharem que é um quilo. O alimento ou pacote do alimento, que tinha um tamanho, quando você abre em casa, percebe que tem metade do tamanho ou da quantidade. Os pasteis, coxinhas, etc, que se comem na rua, cada vez mais pequenos e mais caros. O gás de botija para casa, aumentou e os meninos que o vendem de casa em casa, ainda colocam o seu aumento. O Uber já faz como Marrocos nos anos 80: pode levar até 3 pessoas, se todos forem para ou pelo mesmo trajeto. Conseguir um trabalho, sem indicação, já era muito difícil, mas virou milagre. Deve ser mais fácil ganhar na mega sena (euromilhões do Brasil).


A posição política de cada um tem cada vez mais efeito no mundo do trabalho. Porta totalmente aberta para quem pensa da mesma maneira, porta totalmente fechada para quem pensa contra. E a pandemia, as doenças, as incapacidades, a falta de apoio, a falta de proteção. Cada um à deriva, em busca de um norte. Tudo já seria muito difícil. Mas a tudo isto se junta um país à deriva, com um comandante que nem sabe tomar conta de si, quanto mais do barco e da tripulação. Linguagem pobre, rude, grosseira, pensamento curto e inundado de preconceitos, uma boca, língua e dicção difícil de aceitar em alguém que representa e “guia” a vida de 211 milhões de pessoas. Vou ficar por aqui porque esta pessoa é o exemplo do que um ser humano não deve ser. Acho que isso diz tudo. Jorge Sampaio, um dos nobres ex-presidentes, de Portugal, talvez o mais nobre, que tive a honra de conhecer e de ter o seu respeito, recentemente falecido, teria tanto a ensinar. Como homem, como político, como estadista. Mas a vida não é como desejamos nem como devia ser, infelizmente.


Nesta situação, outros povos deprimiam para sempre. Se afundavam.


O brasileiro rico não está nem aí, o brasileiro funcionário público consegue uma vida estável e para alguns generosa.


O que rala, o que só tem a si próprio para se manter vivo e com dinheiro e saúde para pelo menos sobreviver, está em maus lençóis. E faz algo inimaginável e salvador, para além de trabalhar eternamente. Faz piada em frases, imagens, desenhos, vídeos. Vale tudo e tudo faz dar sonoras gargalhadas. Uma maravilha! Inteligentes, criativas, inesperadas. Incríveis. Uma quantidade de produção de materiais absolutamente monstruosa. Aí a gente percebe o tamanho do país. Uma atitude que se torna um motivo de união entre todos. Uma capacidade de perceber os detalhes, as caraterísticas, os defeitos, os erros. Uma forma poética de dizer: “eu sei o que está errado”, “eu sei quem é corrupto”, “não posso fazer nada, mas sei de tudo e não concordo”, “eu acompanho o que se passa no meu país”, etc. Um show nas redes sociais. Palmas para essa coragem e forma de enfrentar o horror que se vive. Sensacional!!!

Ana Santos, professora, jornalista

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