Muitas vezes as coisas acontecem tão rápido no mundo que a nossa trilha mental é meio “PARE O MUNDO QUE EU QUERO DESCER” – do Raul Seixas. Por quê será que lotamos a nossa vida de coisas e nos sentimos sempre mais vazios? Nunca parecemos ter o tempo certo para as coisas realmente importante porque nos distraímos com inúmeras coisas dispensáveis.
Quando passo na rua e vejo, pelos vidros das academias, seres humanos que parecem ter os mesmos objetivos dos hamsters – vendo a rua pela falsa transparência da vida – me pergunto se o taoísmo já escreveu uma arte para parar o mundo. E sim, inventaram! É a arte de permitir que os pensamentos apenas passem e nós ficarmos parados, à espera que os pensamentos se esvaziem.
Claro, isso já virou business – “Esvazie sua mente e seja mais feliz com o coach X, Y e também o Z”. Se desapegar dos pensamentos e deixá-los passar, sem nos agarrarmos a eles: “Meu Deus, não fui na casa da minha tia; preciso pagar o condomínio; não tenho dinheiro pra sair, mas quero tanto” – uma metralhadora de pensamentos ininterruptos, uma torneira aberta por onde jorram coisas úteis e inúteis, às vezes ao mesmo tempo – isso somos nós e a nossa terrível relação com o estresse, num mundo totalmente descontrolado, com medos e ódios e paixões e vazios – correndo como um hamster de academia...
A minha forma de esvaziar o meu mundo é criando uma bolha onde a atividade do corpo absorve a atividade da mente, criando um relaxamento invertido. Invertido porque o corpo se cansa para que a mente se permita ao relaxamento. Molhar plantas, lixar paredes, pintar, não importa – é descobrir o ponto onde você conseguiu se despegar da mente porque está distraído dela. O vazio.
Num mundo onde saímos de uma eleição onde os próprios políticos esqueceram da Covid e foram em busca de suas multidões, onde a segunda onda é uma coisa que o Brasil acha que se não olhar, não vai acontecer, “vacinas politizadas” e a preocupação com a quantidade de seringas e agulhas que alguém terá que comprar para podermos nos vacinar – e zap e internet e facebook e instagram, compra, compra, compra! – eu vou evitar tudo isso e podar galhos, fazer mudas, consertar paredes – relaxar. O meu mundo vai se fixar em uma coisa e depois minha mente vai conseguir viajar, vazia, sem malas.
No meio dos almoços com todos os amigos de escola, amigos de trabalho, amigos de infância e os amigos ocultos, as reclamações sobre o preço ou a qualidade do presente e não sobre a qualidade da lembrança, sobre quem bebeu e não pagou a conta, acho que uma vez por semana cada pessoa pode não ser hamster e contribuir para mexer o corpo de uma forma útil – a casa vai agradecer, talvez algum banheiro fique mais feliz, os estômagos da família e também você – que depois de esvaziar a mente numa faxina, vai se sentir cansado e renovado.
A arte de parar o mundo é a sua capacidade de se auto parar, enfrentando as suas dispersões, tensões, multi-indefinições.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Um estudo científico, há mais de 5 anos, constatou que desperdiçamos 47% do nosso tempo, da nossa vida, divagando em pensamentos inúteis. Desperdiçando tempo e energia. Nossa!!!
A nossa mente é um mundo incrível. Mas precisa saber gerir o mundo que existe. A pressa. A falta de comunicação. A distância. A competição. O vazio. O barulho. A confusão. Os problemas. A dor. Os medos.
Você conhece a sua mente? Sabe como deve fazer para se acalmar? Para se estimular quando está mais quieto e desanimado? Como deve viver momentos difíceis? Consegue manter o foco no meio da correria? Nunca tem dúvidas? Melhorou com os anos? Piorou? Nem sabe?
O que vemos e sentimos está na nossa mente. Mas sempre achamos que está fora e isso pode nos machucar muito. Saber parar. Saber escolher. Saber decidir. Saber aceitar. Saber que perder e errar são apenas experiências, necessárias. Saber seguir.
Como um computador, de vez em quando precisamos limpar e arrumar pastas e documentos. Como um ser humano, precisamos esquecer o que não é bom para nós e sempre lembrar o que é: pessoas, coisas, lugares, sonhos, momentos.
Aprendiz eterna, minha mente se acalma quando mergulho no mar, sujo as mãos com terra, trinco um pão de queijo, cozinho e como comidas que aprendi com minha mãe, converso, trabalho para o Bug e tantas outras coisas simples.
Ana Santos, professora, jornalista
Andy Puddicombe
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