Prove poesia...
Acho que o maior problema da poesia é que não deveríamos olhar pra elas apenas na escola. A escola é um ambiente que muitas vezes afasta as coisas, ao invés de nos aproximar delas, por algum motivo que não deveria existir.
Mas, olhar pra Clarice Lispector, Drummond, olhar uma letra do Cazuza, do Renato Russo, do Ivan Lins, de Tom, de Caetano... são pessoas especiais, que olharam a vida de um lugar muito diferente do nosso, mesmo que também tivessem que pensar em como criar filhos, comer e pagar as contas como nós. Há uma força que empurra o poeta a mergulhar num mundo diferente – talvez o mundo realmente existente – porque só viver pensando em passagem de ônibus, problemas e contas pra pagar é um pouco limitante...
Tem pessoas que dizem detestar poesia. Acreditem, essas pessoas nunca leram uma poesia num momento emocional da vida. Quando a gente ouve Castro Alves em Navio Negreiro, sendo de qualquer raça, de qualquer idade, se você é humano, sente vergonha e a vergonha te humaniza mais.
Poesia é uma experiência, pode acreditar.
Não quer ler na frente de todo mundo? Ok. Vai pro quarto, encosta a porta e liga o som, pega um poeta e leia um poema alto. Ainda é muito? Leia uma quadra, acompanhe o que aconteceu, entenda a rima e sinta. Fale a poesia como se estivesse falando pra você mesmo, sinta a dor que está ali, a emoção que está ali porque a poesia é uma cápsula que precisa ser aberta. Não entenda poesia com a cabeça; poesia é coração e só é compreendida assim. Sinta a poesia, coma a poesia, experimente.
Vai! Um pedacinho só...
ANA RIBEIRO, diretora de teatro, cinema e TV
A partir de hoje também divulgamos poemas indicados e amados por Maria Lúcia Levert. Muito gratas
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1. "As mãos"
Com mãos se faz a paz se faz a guerra. Com mãos tudo se faz e se desfaz. Com mãos se faz o poema - e são de terra. Com mãos se faz a guerra - e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra. Não são de pedras estas casas, mas de mãos. E estão no fruto e na palavra as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no tempo como farpas as mãos que vês nas coisas transformadas. Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor, cada cidade. Ninguém pode vencer estas espadas: nas tuas mãos começa a liberdade."
Manuel Alegre
(enviado por Maria Lúcia Levert)
2. Poesia de Vinicius de Moraes
"A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor."
(enviado por Maria Lúcia Levert)
3.
"Deixa-me seguir para o mar Tenta esquecer-me... Ser lembrado é como evocar-se um fantasma... Deixa-me ser o que sou, o que sempre fui, um rio que vai fluindo... Em vão, em minhas margens cantarão as horas, me recamarei de estrelas como um manto real, me bordarei de nuvens e de asas, às vezes virão em mim as crianças banhar-se... Um espelho não guarda as coisas refletidas! E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar, as imagens perdendo no caminho... Deixa-me fluir, passar, cantar...
toda a tristeza dos rios é não poderem parar!"
Mario Quintana
(escolha Bug)