top of page
Buscar
Foto do escritorportalbuglatino

2 Contos: “CONFRATERNIZAÇÃO” e Conto “Desejos de Ano Novo”


Amélia Carvalheira
Amélia Carvalheira

Conto “CONFRATERNIZAÇÃO”

Levantou os olhos do papel mais uma vez – se pegou a olhá-lo à toa, de novo. Ao redor de si as pessoas bebiam, falavam alto e criavam polêmicas.

- Já estão bebendo o juízo...

Tentou se concentrar. Pegou o papel. Tocou o celular.

- Afff... não vou conseguir...

- Alô! – Era seu ex professor – um querido. Jamais pensou nele envelhecendo e ainda não se conformava muito com a quantidade de energia que ele tinha perdido.

Tinham se acostumado a ver as obras do teatro juntos, a dividirem ideias, debates. Eram tão diferentes... mas complementares. Ele com grego e latim, ela com psicolinguística, sabiam perseguir a compreensão da comunicação, através da palavra.

Passariam a se ver mais amiúde – ela definiu que teria tempo pra ele, suas coisas, ideias, móveis, coleções – tudo. Iria rememorar seus feitos, seus sucessos, ver suas telas, cartazes, aventuras. Iria fazê-lo a partir de agora. Não o perderia mais de vista.

Um bêbado caiu na sua frente – Meu Deus, você consegue levantar sozinho? Não beber, quando todos bebiam era um tanto caótico também porque nada faz sentido, quando só você tem os sentidos intactos...

- Feliz Ano Novo!

Lá estava ela escrevendo um conto em meio a pessoas que talvez só soubessem extravasar sua emoção assim – bebendo. Ou que foram sendo estimuladas há anos a beberem até caírem, ao invés de se unirem em torno de novos sonhos, planos, perspectivas. “Comer água” fazia parte do condicionamento de réveillon, carnaval, fim de semana, em Salvador – ela não alcançava o motivo de que comemorar e beber tinham que rimar.

Mais uma confraternização seguia no ritmo de sempre, seu professor não seria mais um desejo sempre para o ano que vem, iria caminhar com novos amigos, com certeza continuaria a tentar combater o que via de errado na sociedade. Continuaria a cuidar das plantas, daria mudas aos amigos, debateria política, tentando não se apoiar em partidos, mas em ideias, faria doces sem açúcar e...

- Saberia que dentro de mim, todo esse pequeno e organizado caos sou eu, com minhas lágrimas cada vez mais frequentes e minhas gargalhadas; minha falta de atenção e mergulhos obsessivos no que quero fazer.

- Feliz Ano Novo!

Cá estamos de novo – frente a frente com o novo. O ano novo. Frente a frente com o que criamos e que pode nos destruir logo ali, no meio ambiente e no clima. Mas é um novo ano. Com novos momentos, buscas e esperanças. Deu mais um abraço, mil sorrisos e pegou mais um docinho. O último!

- Feliz ano novo!

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV

 

Conto “Desejos de Ano Novo”

Estou a tratar da festa de ano novo deste ano. Minha primeira vez. Era uma coisa fácil até agora, já que eu apenas aparecia na casa do amigo responsável por esse ano. Virou um problema na minha cabeça porque quero que todos se sintam bem e felizes, que tenham oportunidade de fazer seus rituais, mas não é fácil.

O Jony precisa de tomar banho no mar na passagem do ano ou ao nascer do sol. A Estrela precisa comer 12 uvas passas, logo que o ano inicia, comendo uma em cada batida do sino e pensando em um desejo (12 desejos para o ano que está iniciando). O Isaias vem de um lugar onde se começa o ano com o pé direito e eu me pergunto como fazem as pessoas desse lugar do mundo que não possuem esse membro do corpo por uma enorme infelicidade. Lony e Leny pulam. Um de uma cadeira e o outro pula 7 ondas do mar. Teo precisa escrever os desejos num papel, queimar esse papel, colocar as cinzas no champanhe e beber. Enquanto isso Maila precisa de dar uma volta no quarteirão com uma mala vazia na mão. Lari e Mauia só comem alimentos redondos, sinal de prosperidade. Bia basta estar vestida de branco, com uma peça de roupa nova, o resto ela aceita. Biti e Zazi atiram água um no outro e nas pessoas ao redor. Gava parte pratos junto da porta da casa dos amigos. Annie joga móveis velhos pela janela. Ju pendura uma cebola do lado de fora da porta. E Paulie faz um barulho desgraçado batendo panela.

Sabe uma coisa? Acho que eu vou dizer que estou doente, vou cancelar a festa em minha casa e vou dormir cedo, no sossego do lar. Eu hein...

Ana Santos, professora, jornalista

81 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Commentaires


bottom of page