Quando um talento como o de Vik Muniz se curva diante do fenômeno da fé humana – e veja, os santos católicos são só mais imagéticos porque a fé é universal – o resultado são inacreditáveis obras primas feitas de sobras de papel, cuidadosamente coladas para causar o choque da beleza e da luz e sombra, num jogo de imagens forte, mágico e que abre em nós o espaço de que há uma inspiração que toca a fronte e a alma do homem; nesse caso, a fronte e a alma de Vik.
O mais forte, talvez seja a técnica que ele escolheu porque trabalhamos com recorte e colagem desde crianças. Todos nós conhecemos papel picado, colado sobre uma superfície lisa. O mundo inteiro faz isso desde os 4 anos. Como o resultado tem essa luz, que nos arremessa ao divino, quase que sem cuidado nenhum? É como um susto, um tropeção. Você se confunde e tem que olhar muito bem para não acreditar que usou técnicas de pintura com espátula – porque é o que parece! – e sim, papel rasgado e cola.
Por isso, vale não dizer mais nada e indicar fortemente a ida à exposição de Vik Muniz, até o final de agosto, gratuitamente, no MAM de Salvador, no Solar do Unhão. Quem não conhece o lugar “é ruim da cabeça ou doente do pé”, quem não conhece a arquitetura do lugar, não conhece arquitetura baiana ainda e quem não viu a exposição, tão singela e tão grandiosa, ainda não teve o impacto total da arte sobrea sua vida. Indicado para as pessoas que se acham importantes porque vão conhecer a beleza do detalhe; indicado para pessoas que não se acham importantes porque verão que a contribuição de cada retalho de papel é imprescindível para o conjunto de cada quadro e para magnificência da exposição como um todo.
Mais um pedacinho na evolução da percepção do simples, o meu espírito ganhou ontem, podem acreditar. Quem não for, vai perder. MUITO!
“EU QUE SEMPRE TRABALHEI COM A ARTE DE ACREDITAR, FINALMENTE ILUSTRO AQUI, ATRAVÉS DA CONFUSA LENTE DO OLHAR CONTEMPORÂNEO, IMAGENS DOS QUE OUSARAM ACREDITAR MAIS DO QUE TODOS... OS SANTOS, EXEMPLOS DE FÉ E TRANSCENDÊNCIA, CONTINUAM A NOS ENSINAR A ACREDITAR E A VIVER COMO VERDADEIROS SERES HUMANOS”. – VIK MUNIZ.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
No belo Solar do Unhão, onde se encontra o Museu de Arte Moderna da Bahia – MAM, não deixe de ver a exposição “Imaginária”, do artista plástico Vik Muniz.
Sensacional pelo que se propõe trabalhar e realizar, Vik Muniz sempre surpreende e estimula o público a olhar a arte, a fé e a vida de forma original e sensorial. Nesta exposição o que ao longe parecem técnicas de pintura diferentes como pegadas, a realidade mostra “corte e cola e fotografia” de recortes de catálogos de exposições. A capacidade de iludir, de transformar é bela.
O que parece, e o que é, são muito diferentes. E nesta exposição me pareceu muito clara essa mensagem. A capacidade de “pintar” emoções com corte e cola é impressionante. Mesmo impressionante.
Escolhas delicadas e nobres, em cada quadro. Adorei. E, se for no final da tarde, pode ver o pôr-do-sol e ainda assistir um filme no CineMAM. Melhor programa não tem na cidade.
Ana Santos, professora, jornalista