Decrepitude. Quando a gente entra na sala e ouve a voz de Sonale, sente o impacto daquilo que parece o decrépito. Depois, a ideia de que é a arte mambembe a que mais resiste no mundo. Há ditadores, mas há o circo ainda que mambembe, o teatro, as artes de rua, diretamente relacionadas à importância do povão. Mas e se não houvesse povão, haveria motivo para a resistência do mambembe? Toda a peça gira em torno da busca de motivos para a ausência do público, uma coisa que está acontecendo na vida real, já que o público quer apenas rir – de preferência histericamente – do ridículo, do patético e fugir da vida.
Num momento político e social tão convulsivo como o que vivemos atualmente no mundo, com provocações e “gargantadas” de grandes, médios e pequenos governantes de países (e não estou falando de tamanho territorial porque há países gigantes como o nosso, com mentalidades medíocres à frente. Não de direita, não de esquerda – apenas medíocres), lá está a arte resistindo, como é o seu papel.
Nesse sentido, o texto é absolutamente necessário. Coloca o tema sobre a mesa. Não quer propriamente discutir motivos para o esvaziamento das plateias, mas quer tornar o fato visível. Gosto muito do figurino, dos sons, da não preocupação em responder; apenas criar um transe onde deixamos essa pergunta ecoar dentro de nós mesmos. O teatro, hoje, se preocupa com o mercado, com o consumidor e lhe dá a aridez da piada rasa. Mas, a capacidade de provocar fica perdida aonde?
Há algumas perdas articulatórias e de dicção, mas eu ainda consigo justifica-las por ter ali o retrato de um teatro mambembe.
Ao final, se misturar ao povão, na rua, dá a exata dimensão de que ao teatro, à arte, cabe muitas vezes ir buscar o povo e se fundir nele. Afinal, as sociedades não têm obrigações com as respostas e vão à rua para firmar novas perguntas. As falhas que vi, eu mesma não saberia responder se são propositais porque desenham o que é um grupo teatral de rua – talvez sim ou não. O que nem importa muito porque isso caracteriza o teatro em sua essência. Se ele faz as perguntas certas, não precisa de respostas imediatas.
Ana Ribeiro, diretora de teatro, cinema e TV
Teatro humano, de sangue e ferida, de estômago doendo. Teatro despido de glamour e de hipocrisia. TEATRO
Peça curta mas que diz o que tem a dizer. Diz da revolta, da mágoa, da tristeza e do quanto fere e amedronta ninguém querer ver teu trabalho honesto e existirem pessoas que querem te fazer mal pelo que escolheste fazer na vida. Existe uma energia livre nestas peças que me agrada muito. Você quase entra na peça, sem entrar. É lhe dado espaço para poder estar num lugar muito forte e poderoso – a proximidade do palco e dos atores. Mas não é só física a proximidade. É uma aceitação da sua presença num lugar sagrado de partilha e de luta. Os atores te pedem indiretamente ajuda, te explicam o sofrimento que vivem e te contam as alternativas que têm e que tentam escolher. Te expõem o seu sofrimento e tentam explicar suas interrogações na procura de soluções. Uma intimidade que te deixa enternecido e desejando que o futuro possa ser totalmente diferente do presente.
O GrupUsina, sempre surpreende com as suas peças de teatro. Além disso, utilizam espaços da cidade menos usuais e por isso maior a riqueza de experiências. Cenários e figurinos mergulhados na simplicidade e parcimônia. Pessoas que você vê e sente que fazem teatro por amor, por dedicação, por riqueza emocional. O teatro corre na veia. Dá para sentir. Isso é intenso. Bom de ver.
Me recordam um Portugal desconhecido para muitos e que eu amo. O teatro menos divulgado mas intenso. Você conhece novos lugares, assiste a peças diferentes, estimulantes, questionadoras do mundo atual e é como se você pudesse ver as peças do funcionamento dos relógios. Você vê as peças todas se mexendo. Você vê a realidade. Você consegue se ver. Talvez você veja a cidade onde vive de forma crua e verdadeira dessa forma. Isso é importante. Muito importante.
Faça uma escolha diferente na sua vida de sempre e veja a peça. Venha sem amarras, sem limites. Se solte. Vai com certeza viajar para outro lugar da sua imaginação e de ponto de vista do mundo. E é isso que é maravilhoso! Sem glamour, sem hipocrisia, sem chão e sem rede. Você vê a vida. Você se vê. Você vê os silêncios de uma sociedade doente e sem energia que não sabe para onde vai nem para onde quer ir. Você vê o medo e a humilhação de profissionais que não são vistos. Você vê a coragem nas alternativas que eles tentam construir de manter o ânimo, o estímulo, a vida dentro deles. Você vê a força interior de quem sabe o quanto o teatro é importante e que sabe que as pessoas não sabem. Você vê uma classe pedindo ajuda. Querendo que a sociedade a veja, entenda e quem sabe, colabore. Mostrando como é difícil você fazer algo e não ter ninguém para ver para aproveitar o que você oferece. Como se sentiria um médico sem pacientes? Sabendo que morrem pessoas pelas sarjetas sem nem saber que ali podem se curar?
Ana Santos, professora, jornalista
GrupUsina de Teatro
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Sindicato dos Bancários
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