A minha geração abalou na MPB. É fato. Ontem, olhando o público dando solo e Lulu assistindo a gente, fiquei pensando quem entra no lugar de Rita, Chico, Milton, Tom, Lulu, Raul, Rita, Elis, Caetano, Melodia, Gil, Gal, Betânia... Eram tantos... As gerações iam se misturando, se sucedendo e a gente nem percebia que aquilo era genial, que a gente não parava de criar novos seres sensacionais. Aí vieram Adriana, Ro Ro, Cazuza, Lobão e a coisa foi ficando meio parada até que chegamos no ontem, onde várias gerações se agruparam por causa de um cara genial, com um repertório que mesmo com músicas de 20, 30 anos, está novinho em folha ainda.
Ok, Lulu está mesmo com a voz cansada. O backing está ali pra ajuda-lo a economizar a voz e faz isso. Mas quem liga pra isso, se está todo mundo cantando sem parar? Dançando sem parar? Quem liga pra isso se cada pessoa, daquelas milhares que lotaram a Concha estava revendo seu momento mágico by Lulu? E quem ali não teve pelo menos um momento mágico, olhos nos olhos, by Lulu?
Como fonoaudióloga, eu aposto que uma fono realça a voz dele de novo e pronto. Como público, eu fico me perguntando o que está acontecendo com a nossa música pra estarmos vivendo esse espasmo de pouquíssimo vigor... e torcendo pra isso ser momentâneo.
Lulu é apaixonado por temperamento. Vê-lo totalmente entregue ao amor, falando de quem ama, num lugar cheio de amor por ele, mas certamente cheio de preconceito foi como estar em Ipanema e ver na cultura a resistência viva. Aquela coisinha natural, que derruba paredes com o dedo mindinho por não saber que é heroica. Lulu se apaixonar, assumir seu amor, falar que ama, cantar que ama – isso se chamar abrir um buraquinho na parede do preconceito. Como Gabeira, quando apareceu de sunga em Ipanema, depois que foi anistiado. Uma trinquinha no preconceito. Como Leila Diniz que colocou seu bom biquíni e foi pra Ipanema com um barrigão – outra trinquinha.
Lulu deu show. Com voz cansada e tudo, e daí? Ele conhece Ipanema. E quem conhece Ipanema, sabe que nem tudo é voz, mas tudo é show. Se alguém viu alguém gay de mãos dadas com alguém e se lembrou que amor é amor, não é pra ter preconceito – palavras de Lulu – então a trinquinha na parede do preconceito apareceu e isso, em nome da vida é mais importante que tudo.
Cantando com o povo todo, todo mundo sem idade, mas cheio de amor pra dar, quem olhou, viu todos os tipos de beijo na boca, ontem. Foi ótimo! E Lulu continua sendo o mais carioca dos cariocas. Sorte de quem foi. Porque quem não foi, perdeu!
Ana Ribeiro
Direção de teatro, cinema e TV
Suas canções foram me apresentadas há muitos anos por um familiar brasileiro que conhecia tudo de música. Em Portugal não tínhamos acesso às suas canções. Adorei de cara. Como não o fazer? Numa época em que as letras em Portugal eram muito indiretas, ter canções com ritmos dançantes e com letras diretas e claras sobre o que cada um de nós vive e sente no seu mundo. Fáceis de memorizar, te envolvem e se tornam terapêuticas. E ainda hoje são atuais e serão eternas. Cada música te leva a um momento, uma situação que viveste. E cantarmos em conjunto essas mágoas, alegrias, junto com o povo fiel de Salvador, é muito encantador. Adorava, adoro e vou sempre adorar estas músicas. 65 anos? Um jovem de 65 anos...um exemplo...que assume quem é que o que vive, num mundo confuso. Um jovem corajoso que tem muito para viver.
Hoje em dia, em Portugal já temos alguns cantores e grupos musicais que poderiam agradar quem adora Lulu Santos. Experimentem ouvir HMB, cantando “Peito” ou Tiago Bettencourt, cantando “Se Me Deixasses Ser”, por exemplo. Quem sabe rola um concerto combi aqui em Salvador e outro em Portugal? Seria muito legal!
Concha Acústica, arquitetura de teatro grego. Linda! Com lotação esgotada? Muito legal. Com Lulu Santos? Nossa! Só pode ser sábado à noite!
O povo baiano é muito tranquilo em grandes aglomerados e muito fiel aos que ama. Lulu Santos foi muito bem tratado, muito acarinhado e se entregou totalmente a esse amor.
O BUG Latino agradece a cortesia dos ingressos. Muito gratas a LABORATÓRIO DA NOTÍCIA, particularmente a Jorge, Fernanda Matos e a todos com quem contatamos. São uma máquina poderosa e muito carinhosos no trato. Parabéns!
Ana Santos – Jornalista e preparadora corporal