Um texto intenso, onde você se vê arremessado ao silêncio, à busca de respostas e, sobretudo, à dor.
Dor e arte são as palavras ao redor do que o nosso imaginário construiu acerca de Frida. Mas a busca de respostas se estende à busca de prazer, o que a leva a experiências com drogas, álcool e sexo – o que em algumas pinceladas conseguimos perceber no espetáculo também.
A dor está visível na construção de um corpo cênico complexo, em nus bem posicionados, com sentido e compreensividade, da mesma forma que o figurino – lindo, simples e que realmente nos arremessa para a figura de Frida.
A simplicidade dos elementos é incrível, principalmente porque eu fui facilmente conduzida para a possibilidade de que a casa de Frida tivesse que ser mais vazia porque ela precisava de espaço para se locomover com mais facilidade, por exemplo. Verossimilhança é mesmo uma coisa incrível!
Tudo isso perfeito, mas com uma falta da qual senti falta o tempo todo – a de intensão verbal, na hora de interpretar o texto, algo como ironizar, ser suave, amorosa ou sensual, dependendo da sua intenção naquela fala. E isso pra mim acaba sendo uma parte vital porque trabalho com ela e aponto inúmeras formas de o ator se sentir confortável ao manejá-las. Eu diria mesmo que essa e a parte estruturante de todo discurso, é que nos faz sentir ou não empatia, enfim – é a bala que mata Kennedy – e isso eu não vi.
A força do texto e da personagem Frida – que habita o imaginário do público – perdem-se um pouco, sem o ajuste do verbo. Mas isso certamente não tira a beleza e a harmonia dos elementos que fazem parte da cena.
O teatro é muito bom, confortável – sem cheiro de mofo (!) – e toda essa conjuntura fez com que o tempo voasse. Pensar na ida até o carro me afastou de esperar pela conversa com a atriz, mas a capacidade de gerar e gerir seu próprio tempo – característica do teatro – estava presente desde o primeiro segundo. Deu uma vontade louca de trabalhar a flexão das palavras e do texto com Rose Germano, mas...
Valeu. Valeu muuuito!
ANA RIBEIRO
Diretora de teatro, cinema e TV
Teatro SESC – Casa do Comércio. Um teatro com uma acústica sensacional, que permite aos atores falarem em quase todas as direções e serem ouvidos claramente. Um palco com um soalho de madeira, lindo e confortável ao olhar. Um teatro maravilhoso. Localizado numa zona mais empresarial da cidade fica um pouco isolado nas sessões noturnas de espetáculos.
Fazer uma peça sobre Frida Kahlo, é fazer uma peça sobre uma grande mulher, um grande ser humano e sobre uma vida de sofrimento, de audácia e de coragem. Adoro. Uma mulher que admirarei eternamente.
Um cenário minimalista, mas equilibrado e que dá estrutura à peça. Um figurino simples mas que, mesmo se a atriz não falasse, se perceberia que seria de Frida Kahlo. Uma luz simples mas muito bem dirigida e escolhida. Uma peça cheia de silêncios, o que é raro e encantador. Apenas do meio para o final da peça, tem música de violão e de caixa de música. E que caixa de música sensacional. As músicas bem tristes, intensas e melancólicas, como eram e são as músicas mexicanas. Lindas.
Gosto muito de peças pensadas para serem realizadas em vários espaços, em vários momentos da vida, em várias épocas. E o discurso de e sobre Frida continua atual e permanecerá atual pela vida. O mundo será sempre um lugar de avanços e recuos existenciais e de lutas e muita necessidade de coragem de todos.
Agradeço ao diretor Luiz Antonio Rocha, à atriz Rose Germano por nos confrontarem com a realidade nua e crua da vida.
O Bug Latino agradece a cortesia de Carambola Produções.
Ana Santos, professora, jornalista