Primeiro, o lugar escolhido para acolher a Exposição de Da Vinci – o Palacete das Artes, que é sem dúvida, um dos lugares mais bonitos de Salvador. Depois, a escolha de Da Vinci do ponto de vista “inventor genial” e não apenas “artista genial”, o que abre novos espaços de descoberta para alunos e visitantes, já que existem mecanismos que o mundo conseguiu alcançar há poucos anos quando ele os imaginou no século XVI. E por último, a triste saga de alguém que sendo um habilidoso admirador do gênio de da Vinci, como o professor Thales de Azevedo Filho - ao ponto de criar cópias de seus inventos mais famosos – abrir uma exposição interativa, onde as pessoas poderiam tocar e fazer funcionar a cada um dos elementos inventados e ver seus modelos serem DESTRUÍDOS, QUEBRADOS, ALTERADOS por pessoas que ao entrarem em uma exposição deveriam manter e serem fieis a ideia de que um lugar público não é a casa da sogra e, sobretudo, que as coisas expostas têm um dono, um responsável, alguém que ama um mestre o suficiente para reproduzir suas obras. Então e infelizmente, a exposição interativa acabou se tornando a exposição proibitiva. Por quê, Salvador? Receber alguém na sua casa dá ao visitante a ideia de que pode quebrar tudo quando e em qual casa, pelo amor de Deus?
Leonardo, o Da Vinci, o homem que nasceu num momento peculiar onde os mestres parecem ter marcado encontro na Itália e onde, não por acaso, se deram saltos enormes em todas as artes, não foi apenas um dos maiores artistas de todos os tempos. Era uma mente inquieta, um coração em busca de luzes e assim ele escolheu iluminar a nossa vida, mesmo 500 anos depois de sua morte.
Muita luz assim, só sopra a vida dos imortais; ele foi um deles.
Na exposição, de ferramentas diversas, projetadas por ele e reproduzidas pelo professor Thales de Azevedo Filho, até a pontes, mecanismos engenhosos e polias – tudo com a limpeza de traços inerente a quem as imaginou, nos vemos envolvidas pela sua genialidade e raciocínio criativo. Num momento do mundo onde se acotovelam momentos geniais e macabros, uma ida ao Palacete é como um mergulho em águas mornas – reconfortante.
A exposição é gratuita, a vista é gratuita, a beleza dos jardins também – e você sai de lá se sentindo 1 milhão de dólares melhor. Pra sorte do Bug Latino, no portão da mansão cruzamos com um vendedor de cuscuz maravilhoso e ainda fizemos um filme que vamos colocar no Instagram. Quem não for vai se arrepender, com certeza!
Ana Ribeiro, diretora de teatro, cinema e TV
Habituada a ver boas e importantes exposições regularmente em Portugal, quando aparecem boas exposições aqui em Salvador, vou correndo. E o Bug junto. E em pouco tempo pudemos assistir a Vik Muniz no Museu de Arte Moderna da Bahia - MAM e agora uma homenagem a Leonardo Da Vinci, no Palacete das Artes. Ambas gratuitas. Que maravilha!
O acesso à cultura gratuitamente é de louvar e tem sido o caminho no mundo inteiro para a democratização da cultura. Da mesma forma, as pessoas precisam se forçar a ir, se forçar a criar esse hábito. Precisam de entender que é necessário para a sua cultura e sua saúde emocional e social.
Às vezes ir a uma exposição e aprender com essa ação precisa de tempo e frequência com que se vai. Se uma exposição é gratuita é sensato escolher horários menos óbvios – sábado e domingo devem ser dias de muita frequência. Organizar a vida profissional de forma a poder ir nem que seja na hora do almoço de um dia da semana, se puder. Se não for possível, ir bem cedo nos finais de semana. Se a exposição permite mexer nas obras, devemos aproveitar mas com parcimônia. Não é para utilizar para ver se não quebra. Por que falo nisto? Porque no primeiro domingo de exposição todas obras se estragaram / quebraram. O autor da exposição e das construções baseado nas descobertas de Leonardo Da Vinci, necessitou de reconstruir todas e algumas já nem solução têm. Gastou de novo o mesmo dinheiro que gastou para organizar a exposição e deve ter ficado muito ofendido. Quem não ficaria. A nobreza de partilhar o que se sabe bem, de mostrar o amor pela obra de um grande artista e deixar mexer nas suas criações baseadas nesse amor. E o que recebe é destruição de tudo apenas por que os visitantes podem mexer, experimentar, aprender com a prática mas não sabem o limite entre isso e o abuso, o desrespeito. Resultado...quem como o Bug Latino, foi depois desse dia, não pôde mexer e não pôde ver as criações em movimento. Uma pena. Como disse anteriormente, precisamos ir mais vezes a exposições para saber apreciar respeitando.
Uma exposição encantadora, onde percebemos a quantidade gigante de descobertas de Da Vinci que nos permitiram ter melhor qualidade de vida. Algo que devemos lembrar e agradecer porque a sua contribuição na nossa vida foi espetacular.
Se puder não perca.
Ana Santos, professora, jornalista
Palacete da Artes – Salvador, Bahia
https://museupalacetedasartes.wordpress.com/