Para as pessoas que insistem em dizer que não gostam de exposições, que as artes plásticas são assim ou assado, vai a dica insistente – enfrentem esse mal estar e vão.
O nível de expressividade das peças é mais que impressionante – nós somos invadidos por olhares, lágrimas, gestos e uma tal harmonia de linhas que não sobra muito mais do que o desejo de olhar, olhar e olhar pra elas em busca de um movimento real, da vida real.
Há humanidade de sobra em cada uma das peças expostas e o que realmente dói é que as obras são em pequeno número – o que nos obriga a olhar e aproximar os olhos e fotografar, filmar, querer reter tudo.
Quando a gente pensa que um artista plástico, mais do que entender de anatomia, precisa viver a anatomia nos seus dedos, imaginar corpos, dedos, olhos, bocas de todas as maneiras humanamente possíveis e torcê-los, abri-los e enrugá-los, só aí a gente realmente percebe, sente, imagina o valor, o estudo e a dedicação de cada uma dessas pessoas. Dizem que os novos santos, deuses e divindades do mundo serão os artistas. Eu digo que eles sempre foram exatamente isso e nós é que talvez agora estejamos um pouco mais abertos para vê-los em suas plenitudes.
Curtam a exposição. Olhem pausadamente. Aproximem os olhos dos olhos das peças e sintam o brilho das lágrimas, a tensão no canto da boca. Sintam.
Ah! E exposição não é partida de ping pong, ok? Desconfiem de vocês se estiverem apenas andando e olhando de um lado para o outro. Saiam do automatismo e olhem. Sei que vão amar como eu amei.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Giovani Caramello, 29 anos. Autodidata. De Santo André, São Paulo. Para alguns considerado o único escultor de hiperrealismo do Brasil. Se não é o único, é um dos melhores sem nenhuma dúvida. 8, 9 anos de trabalho, de talento. Obras que pertencem a coleções particulares e que pela primeira vez estão juntas, em Salvador, nesta exposição da Caixa Cultural. Até o próprio Giovani Caramello terá a possibilidade de as ver juntas pela primeira vez.
Precisão, rigor, beleza, doçura, emoções claras e puras. Tudo isso sentimos e vemos nas suas esculturas. A beleza estética de corpos tímidos, envergonhados, tristes, magoados e tantas outras emoções que são colocadas pelas suas mãos nas suas obras. Ternurento e vivo, o ar desta exposição. Imperdível.
O que se pode fazer com silicone, resina. Lindo. Esculturas que convidam à reflexão, ao pensamento, a um olhar mais consciente da vida e das relações entre as pessoas. Faça suas próprias reflexões, mas não deixe de visitar a exposição. Leve as crianças da sua família, os mais velhos, os que estão sempre ocupados e nunca podem ir. Também é vida e saúde. É mais barato e rápido do que medicamentos, do que terapias. É gratuito.
Aguardamos a honra de podermos ter na cidade as instalações “Solidão”, “Me deixe em paz” e “Fobia social”. Não custa sonhar. Aguardamos também com muito carinho e curiosidade as esculturas que ainda vão ser criadas.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre Hiper-Realismo no Brasil – Giovani Caramello (até 26/01/2020)
http://www.caixacultural.com.br/SitePages/evento-detalhe.aspx?uid=7&eid=2513
Caixa Cultural de Salvador
http://www.caixacultural.com.br/SitePages/unidade-programacao.aspx?uid=7