Ballet KIEV, Ballet Nacional da Ucrânia ou Ballet da Ópera Nacional da Ucrânia, considerada uma das melhores companhias de ballet clássico do mundo, veio ao TCA de Salvador, dia 3 de agosto de 2018.
Entre vários prêmios, obtiveram a prestigiada Estrela de Ouro, maior prêmio da Academia Francesa de Dança.
Companhia fundada em 1867, atualmente com 150 bailarinos, média de 16 espetáculos por mês na cidade de Kiev, constantes tours pelo mundo, incluiu Salvador no seu tour da América do Sul de 2018, com produção da Trevo Produções. Que bom!
Com 38 bailarinos, incluindo os geniais: Tatiana Golyakova, Kateryna Kozachenko, Jan Vaña, Khrystyna Shyshpor, Stanislav Olshansky e Yevheniy Svyetlitsa, apresentou duas obras em homenagem a Ludwig Minkus, compositor da música em parceria com Édouard Deldevez.: Paquita e D. Quixote.
A obra Paquita, de Joseph Mazilier e Paul Foucher (1846) apresentada de uma forma mais clássica e formal, demonstra a sincronia e perfeccionismo de uma companhia de alta qualidade. Momento de admirar a capacidade de trabalho, de dedicação e de profissionalismo de bailarinos de referência mundial. Parece fácil, parecem máquinas humanas que nunca se cansam, nunca sofrem, não sentem dor. Quem já visitou Kiev, na Ucrânia, conheceu a história e a beleza da cidade. Mas também saberá entender ainda melhor a vida sem luxos, sem facilidades, com restrições de um povo incluindo atletas, bailarinos, atores, nesse lugar do mundo. Isso aumenta nosso respeito pelo que hoje assistimos.
D. Quixote, com coreografia de Marius Petipa e Alexander Gorsky (1869), maravilha a plateia com uma associação perfeita: genialidade do pas-de-deux e o mergulho na fantasia de Cervantes. Momentos teatrais engraçados, protagonizados por Sancho Pança, Lorenzo e por Gamache, que soltaram sorrisos fáceis. Momentos inacreditáveis de beleza e desempenho quase sobre-humanos, soltaram palmas e espanto em todos os presentes. O desempenho físico de um bailarino não implica só talento e trabalho. Como inclui ferramentas humanas como o equilíbrio que é influenciado também pelas emoções, basta você estar triste para isso interferir na performance. Fazer saltos, piruetas, voltas, 10? Uau...mas não parou...30? Vários bailarinos... Como é possível? É possível porque quem esteve presente viu. O que você acha de você também estar presente da próxima vez?
O Bug Latino agradece a cortesia dos ingressos pela Trevo Produções. Gratas a Vanessa pela simpatia e cordialidade.
Ana Santos - Corpo
Como Ana Santos falou tecnicamente das qualidades (inúmeras!) do Ballet Kiev, fico livre para ser público. E já marco a primeira coisa sensacional: a maior parte do público era de crianças e alunos de ballet, o que garantiu emoções indescritíveis a quem prestou a mínima atenção às reações da plateia.
Adorei a dramaticidade dos bailarinos e quando o solista fingiu se matar, ali do meu ladinho uma menina/pequena/bailarina soltou: ele morreu? E o que pode ser mais maravilhoso do que sentir que a fantasia do fazer teatral estava ali? A história também foi sensacional – nunca tinha visto Dom Quixote e mil vezes vi o livro, no ballet.
Achei que o palco parecia meio pequeno pra tanta ação, vinda de tantos lugares – talvez por eu ser hiperativa e ter uma tendência à dispersão. Mas nada que virasse problema porque a companhia tinha um nível de organização incrível, com manobras de tirar o fôlego da plateia, de gerar gritos, palmas fora de hora, dentro da hora – na verdade, o público delirou e aplaudiu sempre que viu uma chance de agradecer ao nível altíssimo do espetáculo.
Minha única pergunta é por quê a gente, aqui em Salvador, demora tanto a ver grandes atrações que habitam a vida cultural de outros estados. Nem vou falar Rio e São Paulo, mas Pernambuco, por exemplo. Somos tão musicais, tão rítmicos que um projeto poderia dedicar espaço para nos premiar um pouco mais com cultura. Cultura, gente. Aquilo que nos faz sair de casa numa sexta à noite, fugindo da catequese das bebidas alcoólicas feitas no Brasil para sair embebedada de beleza, tropeçando em crianças dando piruetas pelo foyer do TCA e totalmente à vontade. Cultura, que faz com que os adultos fizessem fila para tirar fotografias com o plotter da foto dos primeiros bailarinos. Cultura gente. Esse esplendor louco de que a gente chega a esquecer porque a oferta é tão pequena...
Pedindo Kiev num palco flutuante no Dique, continuo aplaudindo até agora! UhUh!
Ana Ribeiro – Direção de Teatro, Cinema e TV