No último dia, com a tristeza de ver o que a agonia da vida faz com o nosso tempo, mas com a alegria de ter podido ir, estivemos no Museu da Misericórdia para embarcar na viagem dos ARTESÃOS DA FÉ. Santos, santeiros, o mar logo ali, imagens, movimento, mágica – você é arremessado para fora do mundo real e embarca no tempo do barro ao sabor das mãos destes homens maravilhosos.
Não consigo ver nas mãos deles nada além de afeto, nada além de carinho e suavidade – não se faz um manto, não se faz a energia guardada nos dragões de São Jorge, sem ter mãos que veem seu papel na construção de um mundo menos louco e agressivo. Não sei bem se foram os santos – inúmeros – ou o lugar, a vista para a Baía de todos os Santos – o fato é que o tempo para e você fica ali, olhando através da lente da câmera e vivendo uma mágica à parte, querendo contar o que viu com as fotos - com o tempo parado ali, olhando pra nós.
Também não sei se de propósito ou por capricho de Deus, a gente tem que atravessar o Museu inteiro até chegarmos a sala onde estão os santos. E meus Deus! – o silêncio, o sol atravessando o pátio, a capela, as plantas, o calor... O fato é que quando se chega à sala dos santos, já se está sob forte influência da magia da Bahia, da suavidade e da paz que emanam daquele lugar.
Com um nível de qualidade indiscutível, as mãos encantadoras e encantadas desses homens fazem com que o barro dance, se movimente, tenha ação própria. A cada imagem que poderia ser vista como parecida, as diferenças saltam. Portanto, para os filhos de Ogum como eu, há dragões espetaculares, assim como para os devotos e admiradores da arte há a maravilha de inúmeras imagens de Jesus, São Francisco, de Maria e Nossas Senhoras. Isso e a calma, vestem o nosso espírito, podem acreditar. Exposição imperdível, num lugar absolutamente especial. Quem não foi, é certo – perdeu!
Ana Ribeiro, diretora de televisão, cinema e teatro
A escultura em barro nem sempre é tão valorizada como deveria. É uma arte dificílima e merece todos os aplausos.
Adoro peças de escultura seja em que material for. Meu pai tem um jeito inacreditável de transformar migalhas de pão em seres, coisas. Quando éramos meninos era encantador observar a transformação que surgia de suas mãos. Minha irmã mais velha ficou com essa capacidade e casou com um especialista em escultura, particularmente escultura em barro. Ia muito a exposições, algumas aconselhadas por eles.
Desta vez levei “comigo” uma pessoa que sei que adoraria ver estas peças, estes santos, falar com eles e lhes perguntar algumas coisas. As peças são tão bonitas, tão perfeitas que parecem vivas. E dá tanta vontade que respondam às nossas dúvidas e desejos. Não respondem mas se sente uma paz onde estão expostas. Lindas, de um tamanho que ajuda na sua mobilidade e parecem ficar mais próximas de nós e das nossas dores.
A sala escolhida é linda e tem múltiplas vistas sobra a baía de todos os santos. Curiosa escolha. As esculturas de santos estão colocadas numa sala com vista para a sua baía.
O tempo vai passando e as diferenças, entre Brasil e Portugal, surgem de novo. Não temos Santo Damião e Santo Cosme que aqui são referidos como “Cosme e Damião” e não nos acompanha a sua história e devoção. Não temos a Nossa Senhora Desatadora de Nós, mas devíamos ter.
Os mestres santeiros Rozalvo Santanna, João Santanna e Emanoel Ismarques são artistas incríveis e deveriam ser conhecidos em Portugal. O trabalho que fazem e as tradições que mantêm, também. Maravilhosos. Curadoria de Simone Trindade.
O BUG Latino agradece a cortesia dos ingressos ao Museu da Misericórdia, em particular à diretora e museóloga, Osvaldina Cézar. Muito Gratas
Ana Santos, professora e jornalista