A primeira coisa totalmente positiva é que o filme é italiano e o idioma tem uma sonoridade incrível. Espanhol, português, francês e italiano nasceram todas da mesma raiz latina e têm, cada uma à sua maneira, ritmo e prosódia incríveis.
A segunda coisa é que amo filmes que são baseados em fatos da vida real. A Yara existiu, os pais, a promotora, o julgamento. De alguma maneira, nós temos que falar ininterruptamente do papel do homem na violência contra o gênero feminino, já que o nosso papel, nós conhecemos muito bem – é o de VÍTIMA.
Parece incrível, mas a Itália não tinha AVIS – o cadastro de criminosos e DNA que o CSI mostra e que o Brasil tem de forma incompleta – e que por causa do crime contra Yara, foi criado, finalmente. Parece incrível também que uma mulher, apontada como medíocre por homens por todos os lados, tenha conseguido enfrentar anos de dificuldades e chegar onde chegou.
O filme tem momentos de lentidão e a fotografia é um pouco escura também – estudar a natureza da atenção humana, seu desenvolvimento faz muita falta hoje em dia em qualquer espetáculo, de qualquer arte cênica, acreditem. Mas vale à pena enfrentá-los para chegar ao fim.
YARA pode ser filha de todos, de qualquer um. É muito angustiante também por isso, mas é uma angústia necessária – ninguém sabe de onde o perigo vem, ninguém controla a vida e o que nos resta muitas vezes é o conceito de que existe um princípio de justiça que precisa reger a sociedade e que isso nunca deve ser esquecido.
O filme mistura um pouco as linhas de tempo e isso me agrada, tem alguns problemas de interpretação que não me agradaram, mas ao fim e ao cabo, é uma história real que precisamos ver e equacionar, digerir – embora eu não consiga sequer entender como algumas mentes masculinas funcionam ao objetificarem o nosso gênero – mesmo de crianças.
Vale ver em família, conversar, esclarecer, perguntar aos homens... afinal... como explicá-los?
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Um filme simples, com alguns atores inexperientes e um ator que se inicia como diretor. Mas isso tudo não nos faz perder o foco, talvez só torne o filme um pouco lento no início. Mesmo assim acredite que é um filme imperdível.
Uma história verídica, uma horrível história verídica. Uma menina de 13 anos que desaparece, em pleno inverno, numa pacata cidade de Itália. Nosso coração vai se despedaçando ao imaginar o que essa menina e outras na mesma situação, sentiram, viveram, pensaram. Se despedaça ao pensar o que se deve passar na cabeça e no coração de uma mãe e de um pai. Ficamos presas, esperançadas e coladas na determinação da policial que permanece, insiste, luta, por justiça, contra as pressões policiais, políticas, sociais, durante bastante tempo. Como tudo é igual em todo o lado. O estômago embrulha ao perceber como é fácil homens se aproximarem de meninas, sabe-se lá o que fazerem com elas e depois terem a sensação que conseguem facilmente se safar. E mesmo apanhados, com confirmações de DNA, ainda assim, riem de tudo e se consideram acima de qualquer justiça, tribunal, ou polícia. Não entendo para que existe a justiça e os tribunais, se é para encontrar e punir os culpados ou se é um espaço onde os culpados aprendem a encontrar espaço para se esgueirarem da culpa e da punição devida. Além disso, mantemos a sensação de que o problema está no lado feminino – a menina deve ter provocado o homem, não era hora de uma menina estar na rua, acusar meninos árabes é sempre mais fácil, etc, etc, etc. É arrepiante, embrulha o estômago e nos recorda muitas situações igualmente reais e igualmente injustas.
Imperdível
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Um procurador determinado é consumido com o caso de um menino de 13 anos desaparecido e faz tudo o que pode para chegar à verdade. Com base em um caso real.
Direção: Marco Tullio Giordana
Elenco: Isabella Ragonese, Alessio Boni, Thomas Trabacchi.
Trailer e informações: