Foi exatamente isso. Aliás, o cinema europeu, muito mais do que o americano coloca a gente olhando pra nossa vida, com atores sem glamour nenhum, sem beleza excepcional, sem charme especial. Ficamos no cinema, meio que nos olhando no espelho, vendo vidas comuns ganharem um momento onde uma decisão cria a inspiração.
Em UM BANHO DE VIDA acontece exatamente a visão de que a sociedade vai nos “descoletivizando”, até o ponto em que estamos solitários, amargos e sem esperança. E sem esperança perdemos todo o olhar para nossas construções futuras, o que é alguma coisa parecida com estar meio morto-vivo.
Pois é; o diretor pega a nossa vida comum, une diversas delas, dá um objetivo comum, um líder humano que cai no AA, outro líder humano que é cadeirante - mas grita adoidado - e um grupo de homens que perderam a energia vital, a força motriz ou seja lá o que se quiser chamar. Exatamente esse time estranho nos faz sonhar, torcer e vibrar no cinema, numa modalidade esportiva tão estranha, que eu nunca ouvi dizer que existisse no masculino – nado sincronizado!
E que coisa mais inspiradora! Aí você sai do cinema e faz uma carta fofa pra síndica que tem uma árvore que precisa de poda, pedindo pra ela cuidar da parte dela porque a gente também cuida da rua, porque moramos no mesmo lugar e temos interesses comuns. E isso faz sentido porque temos uma parte individual, mas não somos individualistas; somos coletivizados pela existência de muitas outras pessoas ao nosso redor: vizinhos, lixeiros, carteiro, crianças da escola ao lado de casa, os donos de cachorro que passeiam na sua rua... Aqui em casa tem uma garrafa de refrigerante cortada com saquinhos de lixo para os esquecidos não deixarem cocô no calçada. Aí a gente reclama menos porque se vê inserido em algum lugar, parte de alguma coisa. Se vê humano de novo.
IMPERDÍVEL!
ANA RIBEIRO
DIRETORA DE TEATRO, CINEMA E TV
Os franceses têm uma forma muito particular de fazer humor, de contar histórias, de deixar mensagens. É um filme obrigatório para quem tem a depressão rondando a sua vida: porque teve, porque tem, porque conhece alguém que está, esteve ou se aproxima de ficar com depressão. Na verdade todos nós. Todos nós estaremos tristes e preocupados algumas vezes na nossa vida e saber que a sociabilidade, encontrar atividades que se tem prazer em fazer, atividades em que se evoluí e se constrói, podem ajudar, é muito importante. E realmente não interessa se os outros acham as nossas escolhas estranhas ou erradas. Se aquelas atividades são saudáveis e construtivas, é o essencial. Estamos cada vez mais condicionados por escolhas adequadas aos olhos dos outros. E o que pensamos nós? Queremos o que todos querem? Só por que eles se sentem bem fazendo isso? A percentagem de pessoas que iniciam atividades, pagam e deixam ao fim de 1 ou 2 meses é muito alta. Tentaram fazer o que os outros acham que era bom para elas, gastaram dinheiro, ficaram piores. Preste atenção ao que você gosta de ver e de fazer, ao que gostava de aprender, ao que provoca sensações de realização, de bem estar, de ser alguém capaz, seguro. Experimente e preste atenção ao que sente. Ficou com vontade de voltar a fazer? Recorda muitas vezes essa experiência? Faça de novo.
Se permita fazer novos amigos, seja em que idade for.
O filme também mostra com clareza uma divisão entre o treino/trabalho dirigido agressivamente ou dirigido poeticamente. E é um assunto fundamental no mundo atual, por que os tempos em que a agressividade era achada como motivadora e essencial em qualquer forma de educação, não existem mais. Sabe-se o suficiente para termos vergonha da forma educacional como se agia antigamente.
Adorei o filme. Sem tabus, sem medos, cheio de verdades e de mensagens. Não perca.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt7476116/
Site da Saladearte
Adoro os vossos comentários. Fico sempre com uma enorme vontade de ver os filmes. Muitos parabéns!