Criar um musical tem muitas dificuldades porque a vida real - com diálogos e ações comuns, como andar, trabalhar, etc – precisa ser somada ao canto, dança, coreografias, notas sustentadas e isso precisa ter um nexo, um contexto que justifique a música. É como criar um enredo dentro do enredo, uma armadilha sensorial imperceptível. Se isso não acontece, não é um musical – é um filme com músicas, muito chato e que fica lento a cada vez que começa uma nova canção com coros, segundas e terceiras vozes e coreografias.
A vida é mais rápida.
Mas, e se o musical tiver um ritmo de tirar o fôlego? Se o protagonista tiver um enorme talento pra tantas artes conjugadas e se for totalmente novo e inusitado vê-lo sair da pele do Homem Aranha para uma personalidade multifacetada, criativa e extrovertida? E se as músicas tiverem muita qualidade e começarem a se fundir aos diálogos logo no primeiro terço do filme?
TICK, TICK... BOOM! é assim. Andrew Garfield é muito bom. Poderia ficar aqui rasgando seda, mas basta isso. Na vida real da personagem que gera o musical biográfico Jon Larson, havia uma urgência chamada vida, karma, destino e que ele sentia que precisava responder. Rompeu, brigou, se enrolou de todas as formas, mas manteve o que viveu para fazer e quando fez, morreu. Nada foi trágico. Tudo foi intenso. Jon Larson e sua passagem genial e meteórica no mundo, deixando uma pulsação louca, numa história cheia de altos e baixos, como qualquer filme, qualquer peça, qualquer musical da Broadway.
Quando uma coisa te emociona, te inspira a seguir em frente, não há muita coisa a dizer a não ser: assista! Espero que todos se sintam como eu me senti. Talvez porque a minha geração tenha perdido tantas pessoas de doenças incompreensíveis como a AIDS, enquanto lutava e trabalhava. Talvez porque a minha geração tenha sobrevivido para ver de novo a COVID matar incompreensivelmente a tantas pessoas maravilhosas, de novo. De novo não, que droga...
Certamente há um karma em ir embora, tanto quanto há um karma em ficar e ver. Há um recado em viver e ele certamente não é o de deixar o tempo passar assepticamente.
TICK, TICK... BOOM! suja as mãos de vida o tempo todo, como deve ser. Se você não é assim, seja assim. Experimente. Cante com todas as forças, suba pelas paredes, traga em si a vida do Homem Aranha. E faça o que veio fazer, se for bom. Pelo menos tente ao máximo. Se você for uma pessoa má e continuar vivo com todas essas pragas: afinal, qual é o seu karma? Você não o consegue mudar? Porque na vida você pisca e, fazendo ou não, criando ou não, TICK, TICK... BOOM!
É lindo, poético, inspirador. Imperdível.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
O diretor, Lin-Manuel Miranda, porto-riquenho, é um gênio. Hamilton é um musical imperdível. Este ano, o incrível filme de animação da Disney, “Encanto”, tem 7 ou 8 músicas suas. E este filme... Você entra no filme e parece que entrou na montanha-russa de uma feira de diversões. Como a vida... Uma energia contagiante, o mundo pára porque o filme te puxa, te atrai, te encanta, te hipnotiza. Um filme, um musical. Do novo mundo. Original. Sensacional. Encantador. Atores brutais, talentosos, luminosos, lindos, excelentes cantores. Aliás, este filme me lembrou de “Fame”, a escola dos artistas. De escolas assim saíram muitos destes atores com toda a certeza. Atuam divinalmente, dançam, cantam, nadam bem. Fazem tudo bem. Só falta voarem... Particularmente Andrew Garfield.
O filme, sobre uma história verídica, aborda uma das fases da vida de Jonathan Larson, outro gênio. E é uma vida que nos prende, nos encanta. No filme tudo é visto com muito glamour, mas a sua vida deve ter sido dura, dura, dura. E Jon, insistiu, insistiu, insistiu. Talentoso, com um mundo incrível dentro da sua cabeça, um criador que nunca cedeu à vida fácil ou vazia ou alternativa. Nunca deixou para um dia, ou momento os seus sonhos, apesar de ter de trabalhar duro para isso, de viver com pouco, ou nada. E o que viveu de dureza o manteve real, sensível, atento, justo.
Esta frase do filme, como responderia? “Você precisa se perguntar, você é guiado pelo medo ou pelo amor?” E eu também perguntaria: “Você está tentando fazer o que sonha ou está fazendo outras coisas, para tentar ter dinheiro e condições para fazer o que sonha, um dia?” Porque a vida é agora. E quando você não tem ajudas, apoio, nada, como Jon, você precisa se dedicar, se entregar, e nunca desistir. Nem que todos, todos, estejam contra isso. O desejo e o sonho são poderosos. Devemos segui-los. Porque um dia o universo abrirá a porta. Não tem jeito. E a glória e o sucesso merecido surgirão. Como com Jon.
Um filme super, super, imperdível!!!!
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Enquanto espera por sua grande chance, Jon escreve uma peça chamada Superbia, que ele espera que seja um grande musical. Ao se aproximar do seu aniversário, ele se sente tomado pela ansiedade, perguntando-se se seu sonho vale a pena.
Diretor: Lin-Manuel Miranda
Elenco: Andrew Garfield; Alexandra Shipp; Robin de Jesus.
Trailer e informações: